Capítulo 1: Acorde

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É manhã. Acordo rápido e assustada, pois acabo de ter um pesadelo onde o ambiente estava escuro, porém tinha pequenos feixes de luz que me faziam enxergar algumas coisas. Eu gritava algo, mas esqueci o quê. Parecia que estava sendo levada no porta-malas de um carro; os movimentos eram bruscos e eu sentia um cheiro forte de gasolina. Após o susto, tento voltar à consciência, sento na cama e forço a vista. Tudo está muito embaçado, não consigo enxergar quase nada... Ah! Tem um óculos na mesa de cabeceira. Talvez eu seja míope, porque não consigo enxergar bem o que está longe. Coloco-os para pelo menos testar se estou certa. Depois disso, tudo fica nítido, consigo enxergar todas as coisas que há no quarto, e isso me dá um leve alívio.

Mas percebo que estou em um quarto que não conheço. Nada daqui me parece familiar, não consigo me lembrar de nada... Até de quem sou. Que dor de cabeça ao tentar pensar! Parece piada falar que nem lembro o que comi ontem, mas é verdade. Por que eu lembro do sonho e não lembro qual é meu nome? Por que não consigo lembrar como cheguei aqui? Qual é o motivo de eu estar com tanta dor de cabeça? Quem sou eu? As perguntas não ajudam, as respostas não aparecem e o meu coração está batendo tão forte que sinto como se ele estivesse dando uma porrada no meu peito a cada pergunta que faço.

Tem uma varanda no meu lado direito da cama. Apesar da cortina estar um pouco fechada, posso ver por uma brecha que lá fora tem algumas poltronas e uma pequena mesa de centro. E uma vista para o céu? Não! Tem algumas palmeiras. Também escuto um som de mar que deixa óbvio que onde quer que eu esteja, estou perto de uma praia.

Por um momento, o som das ondas me faz relaxar?... De um jeito anormal. Esse barulho me faz sentir uma sensação estranha - como se estivesse dormindo, mas ainda permanecesse acordada. Porém, não é o bastante para me acalmar; pelo contrário, isso começa a me deixar aflita. Eu sinto uma brisa fria entrando pela porta da varanda, ela passa pelo meu cobertor, rodeia o quarto, e finalmente volta para o lugar de onde veio, como se o vento fizesse um grande círculo. Isso me dá arrepios e aumenta o meu nervosismo cada vez mais. Parece que minhas sensações estão mil vezes mais aguçadas, sinto que o meu corpo está muito sensível e exposto ao calor de minhas emoções misturadas com o racional das perguntas que não paro de fazer para mim mesma.

Que porra é essa?

Ah! O quarto... Nossa, mas que quarto! É uma suíte. Consigo ver, ao meu lado esquerdo, em um canto mais próximo da cama, uma porta que está entreaberta. Dá para ver que lá dentro tem um vaso e uma pia, que aparentemente alguém usou. No mesmo lado, mas mais distante da cama, posso ver uma penteadeira de canto, com um conjunto de maquiagem e algumas escovas e pentes de cabelo. O que me faz pensar que talvez este quarto seja meu ou de outra pessoa.

Eu olho para o espelho da penteadeira e... Sou eu?! É claro, né, já que esse é o meu reflexo... Mas o estranho é que: eu não me lembro de ter colocado uma calça com estampa de caveira e um casaco da Rita Lee, nem mesmo que eu goste tanto de AC/DC, The Neighbourhood e Amy Winehouse, até porque tem uns 10 pôsteres deles na parede de trás, acima da cama. Vejo pelo reflexo, mas logo me viro para observá-los com mais detalhes. Fico um pouco assustada com a cor da minha pele. Sou tão pálida que uma folha A4 perto de mim seria muita semelhança. Tenho um cabelo preto e muito longo, olhos verdes, sou um pouco magra e baixa. Pareço ter 17 ou 18 anos. Uma menina um pouco esquisita, à primeira vista.

Do mesmo lado da varanda, mas ao lado da porta que dá para ela, tem uma mesa próxima de mim. Em cima dela tem um computador com um monitor de tela curva, alguns porta-retratos com fotos de paisagens, e também uns livros de paisagismo... Eu gosto de paisagismo? Merda, não consigo lembrar. Na parede que está na minha frente, vejo uma estante com uma TV enorme. Ela é tão grande que quase não há espaço para a porta ao lado...

A porta!

Escuto passos vindo de lá. Qualquer um pode entrar aqui e eu estou completamente indefesa. Me levanto rapidamente da cama à procura de algo que possa usar para me defender, se for preciso... Estou ofegante e com medo do que pode vir de lá - até porque não sei onde estou - não tenho certeza se estou em perigo. Mas o que quer que aconteça, vou estar preparada. Tem um abajur na mesa de cabeceira, não é muito útil em uma luta, mas é a única coisa que tenho para me defender. Dou um puxão nele, porém algo me impede de usá-lo, como se tivesse alguma coisa presa... É o cabo! Porra!

Alguém está girando a maçaneta!

Tenho que ser rápida! Procuro a tomada para desconectar antes que a pessoa abra a porta, mas não consigo encontrar. Quase ficando sem ar, perco a cabeça e arranco o fio com toda a minha força. A porta está quase aberta e eu já estou pronta para atacar, seja quem for.

Quando a porta se abre totalmente, dali vem um homem loiro, alto e forte, vestido com uma regata e uma bermuda esportiva, o que me dá a impressão de que ele é um atleta ou algo do tipo. Ele me olha como se me conhecesse, mas isso não me faz desistir de atacá-lo. Desconto o meu medo em um berro que ecoa pelo quarto, como se estivesse dando um grito de guerra que, com certeza, a casa toda ouviu. Corro na direção dele com o objetivo de atingi-lo na cabeça, mas ele é rápido! Ele pega meus braços e, em questão de 5 segundos, me dá um mata-leão, que é o suficiente para eu deixar o objeto cair e permanecer de costas para ele. O golpe não chega a me sufocar, mas já é o bastante para me manter indefesa e presa nos braços dele. Tento lutar, mas sou fraca demais para revidar.

- Calma! Calma Amor, para!

- Quem sou eu?! O que estou fazendo aqui?! E quem é você?!

Pergunto ao rapaz quase chorando. Ele permanece com o golpe e me responde:

- Seu nome é Sabrina! Essa é a sua casa! E eu sou seu namorado, Diego! Você precisa se acalmar! Por favor!

Eu não sei o motivo, e nem por que confio nesse homem, mas é como se eu sentisse que com ele eu estou... segura? Como se algo me dissesse que ele realmente está falando a verdade, e isso é muito estranho. Ainda presa, dou um suspiro de alívio, que soa como se eu confiasse nas palavras dele, mas não nas suas próximas ações. Como se pedisse uma "trégua" para ouvir o que ele tem a me dizer. Mesmo assim, continuei em estado de alerta. Depois desse suspiro, ele me solta lentamente, com muito cuidado e delicadeza.

- Desculpa, eu te machuquei?

Me viro lentamente para o rapaz sem o abajur. Com um tom de voz mais baixo e trêmulo, mas ainda um pouco agitada, pergunto:

- Por que você está aqui? Eu tenho uma família?

- Sabrina, você precisa ficar calma... Vamos sentar na cama e eu vou te explicar tudo o que precisa saber.

Ele calmamente me leva de volta para a cama e me põe para sentar, demonstrando preocupação com alguma coisa, mas também parece animado para me mostrar algo.

O rapaz... Quer dizer, o Diego, vai até a televisão e coloca um vídeo que estava em um pendrive conectado à TV. Então eu questiono:

- O que você tá fazendo?

- O que eu faço todos os dias.

Eu o encaro com uma expressão de dúvida, algo que, obviamente, estava fazendo esse tempo todo. Ele esperava uma resposta, mas eu decidi ficar em silêncio.

O que ele faz todos os dias? Eu tenho uma família? E por que caralhos eu gosto de paisagismo?! Nossa, isso é uma merda! Não me lembro de nada, isso é uma sensação horrível. Parece que dormi por anos, e quando finalmente acordo, esqueço o motivo pelo qual dormi. O sonho que tive também não ajudou. Acordei super assustada e meu corpo ficou totalmente em alerta. Não desejo isso para ninguém. Meu dia nem começou direito e já tenho inúmeras informações que, com certeza, vão me dar dor de cabeça.

Diego finalmente coloca o suposto vídeo. Ainda não me acostumei com a presença dele; é estranho o fato de ter um namorado. Também me sinto esquisita ao me sentir segura com ele. Mal o conheço, como posso ter um anel no dedo com esse fato? O vídeo começou, e eu mal posso esperar para ver o que vai acontecer. Não sei se é daqueles vídeos com fatos sobre mim, ou se é só um que não vai me ajudar em nada, mas estou ansiosa para assistir, seja lá o que for.

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