A Árvore Medrosa

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Parecia apenas um dia de neve comum, até que a encontrei. Perdida no meio da planície escura e nebulosa ela permanecia, os flocos de neve batiam em suas folhas e o pássaros pousavam em seus galhos, mas ela nem sequer se mexia. Logo cheguei a conclusão que ela estava com medo. Ela era muito grande, seu tamanho me assustava, mas ao mesmo tempo me encantava. Com toda certeza ela não estava bem, era semelhante a mim quando encontrava um lobo, ficava parada, totalmente sem reação de tanto medo e às vezes até corria. Então resolvi ser um ombro amigo e tentar ajudar.

- O que tu tem? - perguntei sem muita enrolação.

- Eu não tenho nada - respondeu ela.

- Sério? - Fechei meu meu guarda chuva e continuei: - Parece que tu está com medo.

- Por que eu com meu tamanho que alcança as nuvens teria medo de alguma coisa? Quem deveria ter medo é você, pois existem lobos nessas planícies geladas, não tem medo de lobos garotinha? - questionou ela.

- Claro que não tenho. - resmunguei.

- Em um mundo de tantos monstros, aquele que não tem medo do seu predador é um tolo não acha?

Fechei minha cara e abri o guarda chuva, fui andando pela estrada a fora, querendo ou não ela tinha razão e ficar ali era perigoso. Continuava a voltar para casa quando encontrei com o papai que andava com passos pesados e lentos, sempre com a barriga grande pra frente e uma cara emburrada, nem falou comigo, passou reto e foi pro meio da planície. Mais tarde papai voltou trazendo um grande tronco de árvore com a caminhonete, esperei ele acender a lareira e ali fiquei na frente do fogo a noite toda escrevendo sobre como ela era grande, era tão encantadora que às vezes imaginava que ela estava bem na minha frente.

Logo de manhã mal podia esperar para ver ela novamente, esperava que dessa vez conseguíssemos conversar mais um pouco, na tarde passada nossa conversa não foi longa. Peguei meu guarda chuva e corri até chegar no meio da planície e para minha surpresa ela não estava mais lá. No final das contas eu estava certa, ela provavelmente fugiu porque estava com medo.

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