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nicole blake

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nicole blake

ESTOU aqui mais um dia, observando o garoto do prédio a frente tocar.

Meio que é um horário, todos os dias as 2 da manhã ele sai para tocar na sua varanda. E todos os dias a essa hora eu saio com meu caderno e minhas tintas. Eu tenho sinestesia, uma "doença" que me faz "ver" cores em sons, entre muitas outras coisas.

Nunca conheci esse menino, nunca trocámos uma única palavra, apenas olhares. Somos como desconhecidos que apenas admiram a arte um do outro. Como dois artistas que colaboram sem se falarem.

Colaboramos por olhares apenas. Ele toca e eu pinto. Já fiz alguns quadros, uns 7 por aí.

Andamos nessa lengalenga de colaboração a umas semanas, e a cada dia que passa os quadros e as músicas vão ficando melhores e melhores. Com mais sentimento e mais emoção. Como se nesses quadros estivesse um pouco de seu coração, ali, colocado em meras cores e movimentos.

As vezes ainda penso "no que daria se eu falasse com ele?", porque ele anda sempre sozinho, como eu. Muita gente me chama de antisocial, mas eu simplesmente acho que ando melhor sozinha. Nunca fui de ter amigos, nunca fui sequer de falar muito, ao ponto de algumas pessoas acharem que eu era muda.

Ele tocava várias músicas com diferentes melodias. As vezes eu via ele mexer os lábios, como se estivesse cantando, mas a distância não dava para entender. Apenas ouvia ele tocar melodias delicadas e suaves, como se ele estivesse tentar mandando uma mensagem de paz para o mundo. Nos cruzamos algumas vezes, saindo do condomínio, mas como já disse, nunca trocamos alguma palavra.

Ele ainda não tinha aparecido, mas eu também fui mais cedo. Então me sentei ali, observando apenas a varanda de seu apartamento branco e limpo.

Fico nesses meus pensamentos até ver o rapaz alto de cabelos castanhos entrar pela sua porta com sua guitarra. Ele se senta em sua espécie de mini sofá. Ele está usando aquele hoodie branco e preto que eu tanto gosto.

Já o vi usar vários tipos daqueles hoodies com duas cores, as vezes me questiono se ele não tem um armazém só deles. Está usando uma calça jeans preta e uns Air Jordan's. Como ele ama aqueles ténis.

Vejo ele se acomodando e sinto o olhar dele sobre mim. Noto e retribuo, dando um sorriso pequeno. Ele ri, e meu deus que risada bonita.

Você está se apaixonando por um cara que você nunca nem falou Nicole.

Não estou não, cale-se!

Então ele começa a tocar, a mesma melodia da última vez. Mais uma vez vejo seus lábios mexerem e oiço a melodia invadir o condomínio. E estamos ali nos dois, fazendo uma parceria a 2 quilómetros de distância.

Aquele é o nosso mundo, a arte, apenas nosso, um mundo em que mais ninguém pode entrar. Um mundo onde ambos nos sentimos confortáveis e seguros. Um mundo onde apenas olhares são trocados, e as palavras continuam dentro de nosso coração.

synesthesia , payton moormeierOnde histórias criam vida. Descubra agora