II

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Harry não gostava de surpresas. Enquanto crescia, as surpresas dos Dursley eram um campo minado para ele e não importa onde ele pisasse explodia, poderia significar uma visita da tia Marge, que um dos amigos de Duda iria passar a noite ou que ele estava indo para uma tarde na Sra. Figg (o que, concedido, ela era um aborto e trabalhava para Dumbledore, mas isso não significava que aquelas tardes foram menos horríveis com o cheiro de repolhos e os gatos); em Hogwarts suas surpresas sempre se relacionaram a uma quase morte no fim do ano ou a uma descoberta impactante para sua vida que os adultos insistiam em esconder porque achavam que de alguma forma o estavam protegendo (não estavam), as vezes era os dois de uma vez; depois, na Caça às Horcruxes, uma surpresa significava que Comensais da Morte os haviam encontrado ou pior ainda, o próprio Voldemort. As únicas surpresas boas que Harry já havia tido na vida foram quando Hagrid lhe contou que era um bruxo e descobrir que seu padrinho era na verdade inocente de todas as acusações
E, bem, talvez descobrir que Draco era uma pessoa boa também tenha sido uma surpresa boa, ele supunha
Mas as boas surpresas dificilmente superavam a quantidade de surpresas ruins, então a regra geral era que Harry não gostava de surpresas. Assim como ele não gostou nem um pouco da surpresa de saber que ele estava em outra dimensão
Maldito Tom! Desde quando sua obsessão de "Eu mesmo devo matar Harry Potter" havia se tornado um simples "Vamos nos livrar de Harry Potter de qualquer jeito que encontrarmos"? Ele estava quase ofendido com isso
— Então, sua mãe e seu pai... - Draco começou como quem não quer nada
— Agora não, Malfoy- Harry pediu em um suspiro, havia muita coisa na cabeça dele naquele momento e simplesmente não havia como lidar com o fato de que seus pais e Sirius estarem vivos
— Harry tem razão- Hermione apoiou enquanto se sentava ao lado do moreno aos pés da cama de Draco- Devemos falar sobre Neville e Luna
— Eles não foram pegos no feitiço, obviamente- Draco resmungou com o cenho franzido
— De acordo com o Harry eles foram sim- Hermione disse- Só não acabaram no castelo como nós
— Luna estava ao meu lado quando feitiço foi lançado, não há como não ter pego nela- Harry tentou dissipar um pouco da confusão- E eu disse que eles não tiveram sorte de acabar no castelo
Os dois arregalaram os olhos, percebendo exatamente o que o de olhos verdes estava implicando
— Acha que tem algo haver com a poção?- Draco questionou contemplando a possibilidade
— Faz sentido- Mione concordou pensativa- É como Harry disse, estávamos todos na mira do feitiço. O fato de termos caído em lugares diferentes só pode ter se resultado do fato de termos tomado a poção e eles não
— O que? Como se o feitiço não fosse nos mandar para um lugar seguro, mas porque tomamos a poção fomos desviados para um que fosse seguro, mas os dois continuaram no trajeto?- Draco tentou entender
— Acho que é por aí- Hermione concordou mordendo o lábio- Eles podem estar em algum lugar que não é seguro agora
— Eles definitivamente estão em algum lugar que não é seguro agora- Harry resmungou
— Como você... - o loiro foi silenciado pelo moreno no meio de sua frase e segundos depois Poppy Pomfrey surgiu dos fundos, indo checar algo em seu armário de poções
— Seu livro dizia como iríamos embora?- Harry questionou a castanha ao seu lado, seu olhar deixando muito claro para que eles fosse com a mudança de assunto sem questionar
— Eu tenho que dar uma olhada novamente, na verdade- ela disse pensativa- Mas me lembro apenas de como ir para outra dimensão, não como voltar para sua própria
— Que útil- o Malfoy bufou
— Você tem alguma ideia de como vamos voltar?- Harry pressionou mais um pouco, ignorando o amigo de fios prateados
— Bem, eu conversei com Remo algumas vezes n'A Toca sobre toda a coisa da teoria da viajem entre dimensões, mas eram só teorias, nada realmente comprovado- Hermione explicou agitada
— Ótimo, você entende de todas as coisas inúteis do mundo porque você sempre acha que vamos precisar do conhecimento em algum momento, mas disso você não entende? - Draco perguntou incrédulo
— Sinto muito se eu estava ocupada me certificando que sabia absolutamente tudo que achava necessário que conseguíssemos sobreviver e destruir as Horcruxes e por isso não consegui tempo na minha agenda para estudar algo que é puramente teórico e que nunca imaginei que aconteceria conosco- Hermione exclamou ofendida
— Você pode rever suas memórias? E pesquisar em alguns livros?- Harry pediu fingindo não ter ouvido as farpas entre os dois- Qualquer coisa que nos ajude a voltar para casa o mais rápido possível seria ótimo
— Claro- Mione concordou, muito provavelmente já pensando em títulos de livros qual poderia dar uma olhada
— E você vai descobrir a diferença entre nossos mundos, principalmente sobre os Comensais da Morte. Se vamos ficar aqui por tempo indeterminado, não quero ser pego de surpresa- o Menino que Sobreviveu se dirigiu a Draco- Enquanto isso, vou encontrar Neville e Luna
— Parece um bom plano- Hermione sorriu
— Uma pena que os planos de Potter nunca  deem certo- Draco disse divertido
— Não enche, Malfoy- Harry revirou os olhos com uma careta e o outro deu uma pequena risada para isso
Os três caíram em um silêncio fácil, cada um confortável o suficiente com a presença dos outros dois para ficarem imersos em pensamentos. Os de Harry giravam principalmente em evitar pensar em James Potter, Lily Evans-Potter e Sirius Black, o que é claro que resultava em Harry pensando em James Potter, Lily Evans-Potter e Sirius Black
Seus pais estavam vivos naquele mundo. Seu padrinho estava vivo naquele mundo. Até Dumbledore e Snape estavam vivos naquele mundo (um Snape bizarro de mais para Harry se quer começar a entender, mas ainda sim). O que aquilo significava? Qual era a grande diferença desses mundos que possibilitavam a sobrevivência deles aqui, mas não no dele? E o mais importante de tudo: o que exatamente isso significava para ele?
Céus, ele já podia sentir os danos que aquilo estava fazendo em sua psique!
— Eu sentia falta daqui- Hermione chamou os dois garotos de volta para a realidade, segurando a mão de Harry discretamente na dela e deixando claro que ela sabia a espiral que ele estava começando a descer- É um pouco diferente da enfermaria da nossa dimensão, mas o suficiente próximo para parecer reconfortante
— É diferente? - Draco perguntou confuso, olhando em volta como se tivesse perdido algum detalhe óbvio da primeira vez
— Aquele banco deveria ter uma descostura de onde Gina ficou puxando depois que Harry caiu da vassoura no terceiro ano. A cabeceira daquela cama deveria ter uma estrela desenhada que Fred Weasley fez enquanto desenhava no rosto de Rony no sexto ano. Hagrid quebrou uma parte do trilho daquela cama quando veio te visitar no primeiro ano. E a perna daquela cadeira deveria ser torta, porque Harry ficava chutando quando ficamos aqui no final do quinto ano- Hermione enumerou as diferenças enquanto apontava para cada um dos objetos mencionados, sem perceber a boca levemente aberta de choque dos dois meninos
— Isso foi impressionante, Srta. Granger- Madame Pomfrey disse impressionada ao se aproximar para ver se a cura estava indo como deveria nos três adolescentes
— Obrigada- Hermione agradeceu um pouco corada e com um sorriso pequeno de satisfação. Ela sentia falta, Harry percebeu, de um adulto reconhecendo seus talentos e a parabenizando por isso
Era algo que todos eles provavelmente sentiam falta. Qual fora a última vez que eles viram um adulto qual não queria mata-los? Harry achava que havia sido Snape, na época em que o antigo diretor viajara com eles, mas ele nunca os elogiou de fato, apenas reconheceu os campos que se destacavam para poder aprimora-los, garantir para que fossem úteis para suas sobrevivências contínua. Antes de Snape era a Sra. Weasley talvez, mas ela estava triste, organizando o funeral de Carlinhos enquanto tentava dar a eles todos os suprimentos que precisavam para poderem seguir viajem, sem tempo ou disposição para se quer falar com um deles direito, quanto mais fazer elogios
Foi Remo, o Potter se lembrou, a memória vindo para ele com uma clareza que poucas tinham nos dias de hoje. Remo o abraçou antes de fugir para a Bulgária com Tonks e um Teddy de apenas três meses, disse que lamentava não ter passado mais tempo com ele, como seus pais e Sirius estaria tão orgulhosos do homem que Harry estava se tornando como ele era e que estava ansioso para o fim da guerra para que eles pudessem se conhecer do jeito que deveriam desde o começo de toda aquela bagunça
E agora isso provavelmente nunca iria acontecer
— Harry? - Mione o tirou de sua mente mais uma vez batendo se leve em seu braço e o fazendo efetivamente focar sua atenção nela- Você se afastou por um segundo lá
— Foi mal- Harry pediu se focando unicamente em Hermione e Draco e tentando muito não deixar sua mente viajar de novo
— De qualquer forma- o Malfoy tomou a palavra- A Sra. Potter disse que devemos nos mudar para as camas dos fundos para evitar que qualquer aluno nos Veja e que aurores virão nos escoltar para a Sala Precisa depois da patrulha dos Monitores-Chefe
— Oh- Harry piscou lentamente notando a ruiva parada ali próxima da cama em que estavam, os olhos dela encarando qualquer coisa que não fosse ele- Certo
— Bem, então eu vou indo- Lily disse agitada- Amanhã eu volto com as poções que me pediu, Madame Pomfrey
— Obrigada, querida- Poppy agradeceu enquanto a ex-Grifinória pegava sua bolsa e saia basicamente correndo (assim como seu pai e Sirius haviam feito antes dela), tudo sob o olhar atento de Harry
Ele sabia que sua mãe teria sido exatamente igual a ela se tivesse vivido o suficiente para ter aquela idade. Será que elas teriam a mesma personalidade também? Ela amava o Harry dela tão ferozmente quanto sua própria mãe o amou? Ele seria uma decepção para ela?
— Agora você quer...
— Não, Malfoy!

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