Gosto Metálico

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"Te encontrei quando seu coração estava quebrado
Eu enchi seu copo até transbordar
Fui tão longe para mantê-lo perto"
- Without Me | Halsey -

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• Capítulo 2•

Após o episódio do galpão velho e enferrujado, Dongju passara os dias sem falar com o colega de quarto, não é como se conversassem antes, mas a situação toda piorou.
Son queria mesmo saber se o rapaz tinha algum transtorno psicológico seríssimo. Ou se era algum assassino. Ou alguém do FBI. Qualquer merda dessas. Preferiu guardar para si suas dúvidas.
As férias chegaram, Leedo havia passado com honras em todas as matérias, inclusive fora muito bem nos clubes que participou, a saudade que sentia de sua família corroía seu coração, mas precisava ser forte, não valeria a pena gastar ainda mais o dinheiro dos pais, sentia-se mal por isso, então decidiu que ficaria no dormitório, entretanto passou a procurar emprego e encontrou como balconista em uma cafeteria, com o salário poderia ajudar nas despesas, já que seus pais queriam continuar colaborando, disseram que fizeram economia durante muito tempo para esse fim, sendo assim agora Leedo teria dinheiro para coisas que gostava.
Por outro lado, Dongju mal tinha dinheiro para suas refeições, com a chegada das férias o garoto tentou voltar a sua casa, porém seu pai não o aceitou alegando que ele deveria ter ao menos passado em uma matéria, e todo aquele discurso que já havia escutado centenas de vezes. Portanto sua única saída era continuar dividindo o quarto com o caipira com tendência a psicopatia. Os dias foram passando, vendera algumas coisas, mas o dinheiro esvaía rapidamente, os comentários que Dongju tinha um protetor selvagem correram logo pelas cercanias, o que dificultou sua vida, ninguém lhe fornecia nada e nem queria o encontrar. Até que não havia mais nada a se fazer, apenas deitou em sua cama como num estado vegetativo, se esse era o momento para morrer que assim fosse.
Dias vinham e dias iam e Son Dongju de mantinha imóvel, Kim se compadeceu de tamanha desolação que o garoto aparentava, um certo dia resolve se aproximar da cama, ele dorme como um anjo caído, as olheiras profundas em baixo de seus olhos, formando uma aparência dos filmes do Tim Burton. Sua boca está tão branca quanto as paredes do aposento, havia perdido peso também, seu cabelo sujo demonstra que não toma banho há dias, nunca vira algo como aquilo antes, sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha.

- Pare de me velar, posso acabar me apaixonando... - Dongju tenta dar seu velho sorriso, mas seu lábio inferior sangra pelo ressecamento.

- Por que você faz isso? - Leedo senta na cama do garoto. A preocupação estampada no rosto. Queria sentir a dor do rapaz. Ajudar. Tornar aquilo menos pesado.

- Me apaixonar ou lamber meu próprio sangue? - Ele passa a língua para limpar o sangue, o gosto metálico faz seu estômago revirar, mas não tem nada ali dentro que pudesse sair.

Olha para Kim que mantém a expressão séria. Nenhum resquício de divertimento. Son tenta dar de ombros, mas até seus ossos parecem pesados demais.

- Sei lá - responde por fim. - Realmente não me importo. Foda-se tudo, sabe.

- Me deixe te ajudar... - Leedo segura a fria mão de Dongju, se compadecendo de seu sofrimento.

Talvez por estar demasiado fraco não nega a ajuda, Kim lhe tira a coberta e o ajuda a ir até o banheiro. Não consegue ficar em pé sozinho, portanto Leedo tira suas vestes devagar, com receio do garoto se assustar. Dongju quer temer. A vergonha aquece suas bochechas. A única cor em sua pele depois de dias. Sentia-se tão doente que a resignação vence a batalha entre fugir e ficar. Assim permite que o rapaz tire toda sua roupa e lhe dê banho.
Suas energias estão terrivelmente esgotadas a ponto de nem sentir humilhação por estar nessa situação, sua vida estava num eterno tanto faz ou melhor; foda-se tudo.
Carinhosamente Leedo esfrega seu corpo todo. Formando um vinco mais profundo em sua testa ao notar os hematomas, os ossos sobressaltados e as cicatrizes. Não via um corpo e sim alguém que precisa urgentemente de ajuda.
Termina o banho. Seca o corpo do garoto e ajuda a se vestir. O deita na cama novamente e vai até o cômodo ao lado preparar uma refeição decente para o colega. Ao terminar retorna ao quarto e o alimenta lentamente.
Dongju sente sua vida retornando ao corpo, toma água como nunca tomara antes. Seu estômago revira um pouco, devido aos longos dias sem receber nenhum tipo de alimento ou líquido. Kim lhe diz que precisa de vitaminas, mas obviamente ele nunca tomaria nada do tipo.
Não sozinho, é claro.

Suffering | ONEUS (LeeOn)Onde histórias criam vida. Descubra agora