Capítulo 1 - O início

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Acordei desnorteada. Fazia tempo que não precisava levantar às 6:00 para ir à escola, na verdade faziam exatos 2 longos e prazerosos meses de férias. Eu amo estudar, mas preferia mil vezes ficar em casa aproveitando a Netflix, conversando com minhas amigas e comendo besteira sem ter que me preocupar com provas, leituras etc. Agora tudo ficaria pior, esse ano presto vestibular,não sei qual curso desejo, em que faculdade tentarei me inscrever.. Sim, eu sou uma garota que pensa muito, eu já acordo mergulhada em mil devaneios que nem sei se tornarão reais. Aliás, prazer, meu nome é Gômer Biatriz. Sim, extremamente feio, difícil de pronunciar e que me causou vergonha por anos no jardim de infância e é por isso que meu apelido é Bia.

Uma ducha quente, café sem açúcar e um pão na chapa me trouxeram a alegria necessária para viver esse dia. Peguei minha mochila nova, vermelha, minha cor favorita, calcei meu all star e corri para a porta de casa porque agora a Luci,minha melhor amiga, com 18 anos tinha um carro. Fim do sacrilégio de ir de ônibus.

-Oi, Bia! Que saudades.
-Dramática!
Respondi entrando no carro. – Nos vimos ontem mesmo!
-Eu sei sua insensível.
Falou revirando os olhos e sorrindo sarcasticamente.
-Uau, que carrão você ganhou em, Luci?! Quem dera fazer 18 anos antes de formar a escola, tirar a habilitação e, ainda por cima, ganhar um presente desses dos meus pais. O máximo que eu ganho é um "parabéns, querida!".
Ela sorriu, como se gostasse do fato de ter algo inalcançável por mim.
-Não se preocupe, o que é meu também é seu. Aliás, eu posso deixar você dirigir escondido dos seus pais.
Deu uma piscada de olho e acelerou o carro ao som da música "Metamorfose ambulante" no último volume.
-Você ama adrenalina, mas vai com calma que eu não quero morrer ainda!
Falei assustada quando vi o ponteiro do carro a mais de 160km/h.
Não adiantou. Na verdade ela raramente me escuta. Com um estilo de vida irresponsável, aventureiro e elétrico somos completamente diferentes. Ainda me assusto com o fato de sermos melhores amigas desde... bom, desde sempre.

Meus cabelos negros voavam na mesma potência das batidas do meu coração. O vento que entrava pela janela e a paisagem lá fora me faziam pensar onde eu estaria daqui um ano. Em que curso? Qual faculdade? Estaria namorando?

-Ouu, você ta aqui ou já foi para o mundo da Lua, melhor o "mundo da Gômer?'.
Luci falou me dando um biliscão.

-Ei,sua louca. Coloque as duas mãos no volante.

Pronunciei retornando de mais um buraco negro mental. –Primeiro, você sabe que eu ODEIO QUE ME CHAMEM DE GÔMER. É BIA, PARA VOCÊ E PARA TODO MUNDO.
-Calma, estressadinha. Só queria chamar sua atenção. Você hoje acordou muito chata, credo. O que tá passando dentro dessa cachola? Estou à 5 minutos aguardando uma resposta?
-Que resposta, Luci? Você não me disse nada.
Respondi arqueando a sobrancelha esquerda.
-Lógico que disse, Bia. Se você não estivesse tão focada em si mesmo teria prestado à atenção.
-Eu não estava focada em mim, só estava pensando em....
Ela tinha razão, eu sempre viajava nas conversas com qualquer pessoa e adentrava no meu próprio mundo pensando sobre mim, meu futuro, sentimentos.
-Desculpa, hoje estou realmente distraída.
-HOJE?hahahaha
Disse ela rindo alto.
-Você é assim todo dia, mas não importa. Já me acostumei! Enfim, no que você está pensando dona Bia?
-Você não pensa no que vai fazer daqui um ano? Que curso? Em qual cidade vai morar? E..
-PARA.

Me interrompeu.

-Você está me deixando louca. Relaxa e curte o ano, Bia. Eu ainda não decidi e estou sem pressa. Você sabe muito bem que eu não penso muito no amanhã meu negócio é o hoje. Que papo chato. Coisa de velho, você vai ficar cheia de rugas se pensar demais.

-Desde quando pensar dar rugas, louca? Aí, você tem cada coisa nada a ver.
Falei rindo. -Enfim, qual foi a pergunta que você havia me feito?

-Deixa para lá. Chegamos!

Ela estacionou o carro e descemos. O ar frio e úmido era outro fato que, diferentemente das pessoas, me deixava animada. Quanto mais frio mais vontade eu tinha de criar coisas.
-Oi, Luci.
Disse o Bernardo enquanto passava o braço sobre os ombros dela.
-Saí para lá, nojento! Que intimidade é essa que eu nunca te dei?
-Por que você me trata assim, meu amor? Um dia ainda vamos namorar.
Falou ele rindo enquanto ajeitava a calça que caia mais do que ficava no lugar.
-Oi, para você também Bernardo. Só fala comigo quando é para pedir favor, Né?
-Claro que não, princesa. É porque quando eu vejo a Luci o meu mundo para.
-Meu deus, que coisa brega.
Disse revirando os olhos. -Deixa de ser chato, a Luci não quer nada com você. Agora licença porque estamos atrasadas.
Falei empurrando-o para longe.
-Obrigada, amiga. Esse garoto é insuportável. Dei um beijinho nele e agora ele não saí do meu pé.
Pronunciou enquanto ajeitava os cabelos louros atrás da orelha.
-E aí? Como eu tô?
Analisei o look, uma saia preta com pequenos strass, a blusa branca da escola, um salto preto e a bolsa da Prada pendurada de lado, batom vermelho, bochechas rosa, cílios e sobrancelhas para deixarem qualquer garota com inveja.
-Está linda como sempre. Não sei como você consegue acordar às 5 da manhã só para se arrumar e vir para a escola. Eu tenho preguiça!
-Eu sei que você tem preguiça. Quem anda de macacão jeans, tênis surrado e sem make por aí, Bia? A sorte é que você consegue ser bonita ainda sim, agradeça seus pais.
Falou enquanto zombava do meu estilo.
-É, você tem razão. Quem anda assim? Só eu mesmo!
Respondi rindo. -Porém você precisa concordar que além de mais prático é um milhão de vezes mais confortável do que qualquer salto agulha. E, além do mais, não há nada de interessante aqui na escola. Já conheço todo mundo. O dia que alguém novo chegar e for do meu interesse eu prometo que me arrumo. Combinado?
-Ahhaha, só quero é ver. Preguiçosa como é pode vir o papa te mandar pelo menos ajeitar esse cabelo que você vai negar.
-Pelo menos eu consigo correr, querida. Você com esses saltos olha como atrapalham.. Anda rápido, não quero chegar atrasada na sala de aula.

Não adiantou.

Luci continuou com lentos e curtos passos. Parou em cada andar da escada para tirar uma foto e postar no instagram, cumprimentar alguém ou olhar no espelho. Eu a amava, mas detestava o quão narcisista e focada na beleza ela era. Compreendia que com mais de 60k de seguidores ela precisava sempre estar impecável, alimentar as redes sociais com assiduidade e ser simpática com todos, mas eu não tinha saco para isso. Só queria chegar rapidamente na sala de aula.

-Bate na porta!
-O que?
Falei saindo de mais um devaneio.
-A porta ta fechada. Bate e pede licença!
Balancei a cabeça para retornar para o mundo. Olhei as horas no meu relógio de pulso "7:00".
-Luci! Atrasamos 30 minutos. Culpa sua! Que vergonha, eu não vou bater, bate você e entra na frente.
-Tá bom!
Disse revirando os olhos.
-Com licença, Sr. Caio. Tivemos um pequeno probleminha e, por isso, chegamos atrasadas.
A classe inteira olhava fixamente para nós.
-Que tipo de problema pode-se ter no primeiro dia de aula, Luci? Ano passado eu aceitei as desculpas esfarrapadas de vocês duas. Esse ano eu não quero nem saber.
-Não, é sério, me escuta..
-Não.
Respondeu ele autoritário. – Desçam vocês duas à diretoria e peguem uma autorização com a Diretora para entrarem. Caso contrário, voltem para casa.

Tinha a turma que ficou rindo alto, a outra que ficou segurando a risada e ainda os que demonstraram indiferença. O fato inegável era todos os alunos olhando fixamente para nós. Antes que a Luci, com seu jeito impulsivo, causasse problemas a puxei pelo braço e saímos da sala.
-Ainda bem que você me puxou. Eu ia falar poucas e boas para aquele professorzinho meia boca. Quem ele pensa que é?
Disse zangada.
-Ele está certo, Luci. Nós chegamos TRINTA minutos atrasadas no primeiro dia de aula. Graças a esses malditos saltos que você está usando. Anda, vamos lá pegar as autorizações.

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