O ÚLTIMO TEMPO

Capítulo 2 - A primeira impressão é a que fica?

Eu sentia meu coração pulsando tão velozmente quase saindo do peito. Pela primeira vez na vida eu não queria pensar em nada ou ir para o meu buraco negro do pensamento. Como alguém podia ser tão lindo? Talvez a pessoa mais linda que eu já vi. Os dentes extremamente brancos com o sorriso mais carismático do mundo, lindos olhos dar cor exata do mel, um corpo perfeitamente escultural em, provavelmente, 1,85cm de altura. O tamanho exato para mim. Como eu sabia?Não sabia a altura exata, só percebi que pela primeira vez na vida eu vi o cara mais gato do mundo e que conseguia ser mais alto do que eu. Sem perceber fiquei ali, parada, admirando. Não faço a mínima idéia de como era minha cara, babando, sorrindo?

-Oi?

Ouvi uma voz grossa falando diretamente para mim.
Congelei. Meu rosto ardia mais do que brasa. Que vergonha, ele notará que eu o estava encarando.
Corri... mas por que diabos eu corri? Não disse nada só corri..
Quando entrei no banheiro feminino vi a grande besteira que eu tinha feito.Como eu era idiota, bastava falar "oi". Mas eu, patética, corri.
Como naqueles filmes melodramáticos encostei na parede e fui deslizando até cair sentada no chão colocando a duas mãos na cabeça e pensando o quão ridícula eu fui.

Depois de 30 minutos sentada no banheiro percebi que não tinha opção a não ser sair, pois eu já tinha me atrasado e, agora, faltado a primeira aula, não podia fazer isso com o resto. Passei uma água no rosto, amarrei melhor um rabo de cavalo e fui para o pátio aguardar a troca de professores para eu voltar à sala de aula.

Como se eu estivesse numa fuga não esperei o sinal tocar muito, no primeiro "TRIM" subi apressadamente a escadaria, entrei na sala sem olhar para o lado e fiquei imóvel sentada na cadeira. Minha mente ia e vinha no mesmo devaneio da vergonha passada pela manhã, eu, definitivamente, não entendi porque tive essa reação. Bastava falar um "oi", eu nunca foi tímida a ponto de não saírem palavras da minha boca.

-Bom dia, turma.
Falou a Sra. Márcia entrando na sala de aula.
-Gostaria de apresentar o novo aluno da classe.

"Não, não, não, não, não". Só isso que eu conseguia pensar, eu não acreditava que ele faria parte da nossa turma, abaixei a cabeça o máximo que pude ao encontro da mesa para que eu não fosse vista por ele.

-Esse aqui é o Caio.

Imóvel eu estava, imóvel fiquei. Sem olhar para a frente em momento algum utilizei meu truque de conseguir não focar no que os outros estão dizendo. Fui nas cachoeiras da Serra do Cipó, depois no frio do Rio Grande do Sul e posteriormente no calor da Bahia, mas consegui me manter apática ao que estava acontecendo em minha frente. Quando vi uma perna bem longa passando pelo corredor, rapidamente fingi que estava olhando as anotações do meu caderno. Infelizmente, pude ouvi o barulho da cadeira que ficava bem atrás de mim sendo arrastada. "Droga", ele sentou atrás de mim.

A professora ficou falando ininterruptamente durante 45 minutos e, por fim, passou um trabalho para ser realizado no livro da escola. Quando ela falou "estão dispensados" eu já estava com a mochila nas costas e levantando para não ter que, em hipótese alguma, olhar para trás.

-Ei, moça!

Que saco, pensei quando eu ouvi essa voz. Ele percebeu que sou eu a tonta de hoje mais cedo. Pensei em não virar, seguir andando, mas seria mil vezes pior. Se ele fosse estudar no mesmo colégio íamos acabar nos trombando.

-Oi.

Respondi ao virar. Porém, quando olhei para ele tive uma tremenda surpresa, não era o menino de hoje mais cedo. Pelo contrário, era bonito, mas não tão bonito quanto. Tinha um sorriso suave com dentes meio amarelados, olhos verdes e umas sardas bem fofas no rosto.

-E então?

Disse ele me tirando da maratona de pensamentos.

-Então, o que?
Respondi.
-Vishi, você não prestou atenção em nada que falei. Não é?
Fique corada.
-Desculpa, hoje o dia tá difícil..
-Tudo bem, se eu puder fazer algo para ajudar?!
-Não, ta tranquilo. O que você precisa mesmo?
-Gostaria de saber onde fica a biblioteca, preciso pegar os livros.
-Ah, sim! Bom, quando você descer as escadas e chegar no pátio, vai seguir direto, ela fica atrás do refeitório. Não tem erro! A escola é grande, mas se tem dois prédios vistosos aqui são esses: a biblioteca e o refeitório.
-Valeu! Me ajudou muito! Ah, antes que eu me esqueça, qual seu nome? Não posso esquecer da minha salvadora.
-hahah não salvei nada, afinal, Salvador só tem um. Me chamo Bia.
-Nome interessante, só Bia?
-Na verdade não, mas esse é meu apelido e eu prefiro ele do que me nome. Então, é só Bia que iriei te falar. Disse dando uma risada.

-Tudo bem, Bia. Prazer, meu nome é Caio.

-Eu sei.

-Ah é, a professora disse, Né? Desculpe minha estupidez.

-Não, tudo bem!
Percebi que o tinha deixado sem graça então tentei desviar o assunto.
-Vamos! Eu já tinha que ir à Biblioteca mesmo, se quiser eu posso acompanhá-lo.
-Que honra a minha.
Enquanto andávamos num silêncio constrangedor ao descer as escadas resolvi me pronunciar.
-Então, Caio, de onde você veio?
-Eu vim de um lugar distante, bem distante na verdade.
- De outro estado?
-Não, de outro País.
-Uau, que legal. Em que país você estava?
Perguntei realmente interessada.
- EUA.
-Ah, sim! Então você é aluno intercambista?
-Não.
-Hum, entendi.
Resolvi não entrar em detalhes, aparentemente, parecia que ele não queria falar sobre.
-Bia, o que tem nessa cidade para diversão?
-Vishi,perguntou para pessoa errada. Morro de preguiça de sair de casa.
-Então, temos que mudar isso. Né?
Falou rindo e dando uma piscadinha.
-Temos?
Perguntei arqueando a sobrancelha. Eu mau tinha acabado de conhecê-lo!
-Tô brincando, já percebi que você leva as coisas bem a sério.
Falou dando um empurrãozinho no meu ombro.
-Não levo. Mas realmente não sei te falar! Os lugares mais frequentados por mim são a Cafeteira do Bob ou o Cinema.
-Cinema, é?! Então quer dizer que você namora?
- Desde quando precisa namorar para ir ao Cinema?
-Então isso é um não?
-Por que isso é do seu interesse?
Falei rindo.
-Por que não seria do meu interesse?
-Vai responder minhas perguntas com outras perguntas é?
-Você começou!
Respondeu sorrindo.
-Chegamos!
Falei apontando para o prédio da Biblioteca.

Passamos mais de 20 minutos fazendo um tour lá dentro, eu conhecia cada sessão e expliquei como tudo funcionava. Falei até a garganta secar!
-Então, é isso!

-Só isso?
Respondeu ele rindo.
-Desculpa, falei demais. Né?
-Relaxa, eu gostei de te ouvir falando.

Peguei o telefone e fui olha as horas, faltavam 5 minutos para o recreio acabar.
-Bom, acho que devido a burocracia vai demorar um tempo a mais do que temos para você pegar seus livros.
-Aqui fica aberto depois da aula?
-Fica sim, quando acabar a última aula basta você descer que consegue retirar tudo. E, ah, desculpa falar tanto sobre livros. Acabei te atrasando.
-Imagina, não precisa pedir desculpas... Você me fez um favor de passar o intervalo acompanhado.
-Tá, agora vamos correr que nesse diálogo já perdemos 2 minutos, faltam 3 para a aula começar. E, essa professora de agora é insuportável.

Saímos correndo feito dois loucos. Foi pura adrenalina. Havia tempos que eu não ria assim na companhia de alguém.
Desengonçada que sou, no meio da correria ao invés de olhar para frente olhei para o chão. Trombei em alguém e o resultado foi um belo de um tombo. Caí de cara no chão! Não me perguntei, caro leitor, como eu fiz isso.
-Você está bem?
Ouvi uma voz grave e bonita me perguntando. Reconheci, não sabia de onde.
-Eu estou bem sim. Falei levantando. Me descul..
Quando me recompus e olhei para o alto era ele. O menino de mais cedo. Fiquei encarando e percebi que esse tombo somou no número de vergonhas que passei com ele.
-Desculpas.
-Ah, imagina. Você ta bem mesmo? Sua testa tá sangrando.
-O que?
Falei passando a mão na testa.
-Droga, ta mesmo. Eu sou muito desastrada.
-Aqui no colégio tem enfermaria? Acho melhor você ir. Isso tá muito feio.

Disse encostando a mão na minha testa, na região do machucado. No minuto em queele fez isso meu coração disparou. Arrisco dizer que as batidas estavam tãofortes interiormente que ele pode ter escutado cada uma delas.