CAPÍTULO 1

854 50 4
                                    



Anastasia Steele assustou-se com a própria imagem refletida no espelho. Naquela manhã, estava mais abatida e uma palidez impressionante cobria-lhe o rosto. Até os cabelos, castanho-avermelhados, pareciam mais escuros e sem brilho.

Precisava pôr um fim àquela vida dupla, pensou com um suspiro resignado, preparando-se para a rotina de segunda-feira. Ainda sonolenta, pôs a água para o café no fogo e foi para o banheiro. Uma ducha rápida ajudou-a a despertar por completo. Depois vestiu uma blusa simples e o tailleur marrom com um colete combinando. Calçou os sapatos de salto baixo e penteou os cabelos, prendendo-os num coque no alto da cabeça.

Após duas xícaras de café, sentiu-se refeita. Pegou a pasta e acrescentou um último detalhe à aparência: os óculos de aro de tartaruga. Isso feito, a srta. Steele, secretária do presiden­te da Construtora Grey, estava pronta para mais um dia de trabalho.

Desceu devagar as escadas para o hall do prédio, onde en­controu o jovem proprietário, Charlie Cowper, separando a correspondência dos moradores.

— Olá, Charlie — cumprimentou-o, disfarçando um bocejo.

— Bom dia, Anastasia — o rapaz respondeu distraído, mas de­pois levantou os olhos e sorriu. — Desculpe, é a srta. Steele?

— Não acha um pouco cedo para brincar? Quero saber se há alguma carta para mim.

— Um envelope bege e sem graça e outro lindo, azul, na certa de sua mãe.

— Aqui não se pode ter segredos!

Charlie riu e segurou a porta para ela passar.

— Você guarda seus segredos muito bem, Anastasia. Como o motivo de se vestir assim para ir ao escritório, por exemplo...

Ela não respondeu, enquanto caminhavam pela rua movi­mentada. Charlie morava no andar térreo da espaçosa casa junto ao Tâmisa, que recebera de herança poucos meses an­tes. O resto da residência fora dividida em apartamentos ca­ros. No entanto, Charlie mantivera com Anastasia o contrato antigo pelo aluguel do sótão, que nos primeiros dois anos ela dividi­ra com Clare, uma amiga.

Cerca de um ano antes, Clare se casara, deixando-a sozi­nha no apartamento. Apesar do aumento considerável das des­pesas, Anastasia não reclamava. A solidão era necessária para seu novo estilo de vida.

Conversando sobre banalidades, ela e Charlie caminharam juntos pela calçada cheia de gente. Seguiam na mesma dire­ção, embora com destinos diferentes. Anastasia ficaria num famoso centro empresarial próximo dali, enquanto Charlie continua­ria até o metrô, pouco adiante.

— Sabe, no começo eu pensei que moravam duas moças no seu apartamento — ele comentou, fingindo distração. — Fiquei espantado quando descobri que uma delas era você mes­ma, disfarçada...

— Não sou agente secreto para usar disfarces! Me visto com simplicidade para trabalhar, só isso!

— Simplicidade, é?... Mas você está abatida, hoje. Não se sente bem?

Ela sorriu, esquecendo a zanga.

— É só cansaço, ando trabalhando demais... E você, Char­lie, não acordou cedo demais hoje?

— Tenho hora marcada no dentista... Pronto, está entre­gue, srta. Steele.

Quando pararam diante do edifício onde ficava a Constru­tora Grey, Anastasia avistou uma pessoa conhecida aproximando-se deles a passo rápido. Pegou a pasta das mãos de Charlie, apressada.

— Aí vem meu patrão, tenho de ir.

Charlie olhou bem para Christian Grey e, agarrando Anastasia, despediu-se dela com um longo beijo na boca, apaixonado, inclinando-lhe o corpo para trás no velho estilo de Hollywood.

Armadilha de AnastasiaOnde histórias criam vida. Descubra agora