II

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Baldwin e sua esposa cavalgavam na frente, apresentando sua propriedade aos normandos. Matilde contentou-se a observar tudo do final da fila, sentindo o cheiro de orvalho que o vento lhe soprava. Em determinado momento, William diminuiu seu ritmo para cavalgar ao seu lado.

"É um lindo dia, senhorita." Este tentou puxar assunto.

"De fato." Retribuiu Matilde, educadamente. Não era o tipo de assunto que conseguiria prolongar.

"Fico feliz que tenha acordado disposta a nos acompanhar." O duque tentou novamente. "E fico feliz que consiga montar a cavalo."

Matilde franziu o cenho. O que ele possivelmente queria dizer com aquilo? "Por que não conseguiria, senhor?"

"Temi por um segundo que precisaria de um pônei." Declarou, rindo alto.

A dama continuou a encará-lo, inexpressiva. Perguntava-se: 'O duque insiste em ser grosseiro a troco de quê? O que imagina que alcançará com isto?'

William pareceu preocupar-se em não ouvir a risada de Matilde junto à dele — e confirmou seus temores, ao se deparar com o olhar flamejante da jovem em sua direção. "Não quis ofendê-la, senhorita. Apenas pensei... Que teria um senso de humor mais aberto, vide a nossa conversa de ontem."

Ela respirou fundo. Sentia o sangue de seu rosto ferver, mas buscou manter a diplomacia. "Suponho que não tenha desenvolvido muito suas habilidades sociais em suas campanhas, duque."

William deixou seus ombros murcharem, frustrado. "Evidentemente que não."

Ela tentou segurar o sorriso, mas não conseguiu. Com aquela postura, ele parecia ser um menino que cresceu demais. "Posso supor que o senhor foi aconselhado a buscar me agradar, e que isso só o deixa mais tenso?"

O duque surpreendeu-se. "Me tornei tão fácil de se ler, senhorita?"

"Pode-se dizer que tenho muita prática." Admitiu, orgulhosa. "Imagino que o senhor tenha passado mais tempo em campos de batalha do que em bailes da corte."

"Evito-os sempre que posso." Declarou ele, com uma clara expressão enojada.

"E como é a Normandia? Nunca tive a oportunidade de visitar... Quero a opinião de alguém de lá, sincero como o senhor!" Disse a donzela, aos risos.

William também riu, um pouco sem graça. "Ao menos me dá como sincero. É uma qualidade."

"A melhor de todas." Matilde sorriu com doçura. William lhe retribuiu o sorriso.

"Faço questão de ser seu anfitrião, quando decidir visitar-nos. Como resumir a Normandia em uma palavra...?" Pensou alto o rapaz, encarando o céu a procura de respostas.

"Bonita? Interessante?" Chutou a dama.

"Caótica." Concluiu ele, assertivo. "Absolutamente."

'Dúbia, enganosa, instável...' Queria complementar, mas não queria piorar ainda mais a imagem de sua terra para a donzela.

"Oh." Resumiu a responder Matilde, fingindo surpresa.

Em alguma parte de si, a donzela ainda mantinha esperanças de que as últimas notícias que ouvira de Normandia fossem no mínimo um pouco fantasiosas ou exageradas. Mas pelo visto, aquele não era o caso.

Anotou aquela informação mentalmente.

"Na melhor das hipóteses, diria que é complexa, senhorita." Complementou o nobre, tentando suavizar as consequências de sua tão aclamada sinceridade.

Matilde fez um biquinho. "Bem. Entendo. Que graça teria a vida se as coisas não fossem complexas, não é mesmo?"

William sorriu. "Não consigo imaginá-las de outra forma."



William enxugou seu suor, jogando a espada para seu servo.

"Muito admirável, senhor!" Baldwin puxou a salva de palmas, homenageando seu convidado. "Vejo agora que, para minha felicidade, os rumores a seu respeito não se enganam!"

William não pôde evitar de bufar. Se derrubar alguns manequins de madeira eram o suficiente para agradar o anfitrião, por que estavam perdendo tanto tempo com diplomacias, de qualquer forma?

Odo, como sempre, o aconselhara a ser mais paciente. 'Mais paciência que isso e morrerei de tédio.'

"E que rumores seriam estes, meu pai?" Insistiu Matilde, fingindo-se despretensiosa. "Parece que não importa o quanto eu abra meus ouvidos, o canto de seus passarinhos sempre se cala para mim."

William atentou-se à resposta de lorde Baldwin para sua filha: "O duque de Normandia é um grande guerreiro, minha doce Matilde. Suas façanhas atravessam montanhas."

'E ainda assim são incapazes de atravessar esta maldita fortaleza.' Matilde mordeu suas bochechas para não responder.

William segurou para não rir, observando a expressão contrariada de Matilde.

Lembrou-se da primeira vez que a viu. Ainda estava dentro da carruagem, junto de seus irmãos, quando avistara lorde Baldwin e sua família de longe.

Os três digladiavam-se para ocupar a janela. "Oh! Então é esta a sua futura noiva! Deu sorte, Will! É bonita!" Robert riu.

"Futura noiva apenas se as negociações forem bem-sucedidas." Reforçou Odo, pragmático. "Eu nenhum momento lorde Baldwin garantiu a mão da filha."

"Onde? Onde?" William se esforçava para enxergar. "Não a vejo!"

"Como assim não a vê?" Questionou Odo. "É a loira!"

William franziu o cenho. "A criança?!"

Robert e Odo gargalharam alto. "Ela não é uma criança! Olhe melhor!"

E assim William o fez. Para seu alívio, quando mais se aproximaram, o duque de Normandia pôde ver que estava mesmo enganado. Tratava-se apenas de uma mulher muito baixinha.

Uma bela mulher na flor da idade, mas ainda assim, baixinha.

"Peço por uma esposa e recebo um anão de jardim..." Resmungou a si mesmo. "Flamengos são todos iguais mesmo."

Robert gracejou. "Se faz tão pouco caso, talvez possa deixá-la para mim..."

William chutou a perna do irmão, repreendendo-o. "Em seus sonhos."

A voz de Matilde o fez retornar de seu desvaneio de memórias. "Gostaria de ouvir as histórias de tal guerreiro."

William olhou de canto para Baldwin. Ainda se assustava com a ousadia de Matilde, mas pelo visto, esta era muito bem tolerada em sua casa. O conde de Flandres parecia divertir-se com a petulância de sua filha.

"É meu serviço compartilhá-las, então." Assumiu William, curvando-se.

Matilde sorriu.

William também.

Matilde [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora