Eu sabia que vê-la seria somente a ponta do iceberg que me esperava naquele almoço. Eu bem poderia ser considerado um masoquista, dado a situação em que me enfiei, mas, por Hinata tudo valia a pena.
— Está pronto, Naruto? - minha mãe questionou, parando de frente para mim.
— Estou sim. - respondi, tentando soar o mais natural possível.
Contudo, por dentro, estava gritando de tanta angústia. Era como morrer um pouco mais, sempre que me lembrava de Hinata noivando com alguém que não era eu.
Minha mãe, no entanto, se virou e foi buscar a bolsa. Em contrapartida, meu pai aproximou-se de mim e tocou meu ombro sutilmente. Naquele gesto confortador tão costumeiro e característico dele.
— Se não quiser, não precisa ir. Sabe, não sabe?
— Por que eu não iria? - sorri fingido. - Hinata está feliz, eu quero presenciar esse momento! - coloquei as mãos atrás da nuca, numa tentativa vã de parecer confortável com a situação.
— Você não me engana, filho. - objetou convicto. - Eu vejo em seus olhos que ainda a ama. Portanto, não tem que se torturar dessa forma. Todos entenderão se não ir.
Suspirei.
Eu não conseguia esconder nada do meu pai mesmo; Minato me lia, como se eu fosse um livro aberto.
— Não diga nada à mamãe, tudo bem? Não quero preocupá-la. Também não precisa se preocupar comigo, não sou mais aquele garoto que chorou e sofreu quando Hinata foi embora. - tentei soar o mais convicto possível. - Já sou um homem feito e sei lidar com as minhas emoções.
Meu pai respirou fundo.
— Você não me engana, Naruto. Já falei. - interpôs. - Sei que sofre tanto quanto antes, talvez até mais, por já ser um homem feito e ter ainda mais certeza sobre seus sentimentos e emoções.
— Poxa, pai. Dá um tempo! - resmunguei. - Será que dá para deixar eu me iludir e acreditar nas minhas palavras?
Ele riu, um sorriso entristecido.
— Estarei aqui, para o que precisar, está bem?
Assenti e vi o furacão Kushina voltando para perto de nós.
— Minha bolsa simplesmente tinha desaparecido, ela vive fugindo de mim!
— A senhora não muda, né mãe? - eu sorri, era bom estar novamente em casa.
— Senhora uma ova, me respeite!
— Mas eu respeito, por isso a chamo de senhora! - rebati e senti um cascudo no cocuruto. - Aí. - choraminguei massageando o local.
Esse foi o gatilho para eu me lembrar de anos atrás. Quando Sasuke me aconselhou e ajudou a invadir o quarto de Hinata à noite, para podermos nos ver. Tudo havia mudado, apenas meu amor permanecia o mesmo. Intacto, eu diria.
Seguimos, então, em direção ao noivado de Hinata. E, obviamente, eu me sentia como um condenado, indo para a cadeira elétrica. Afinal, parte de mim morreria após aquele dia, mais precisamente, uma parte do meu coração. A maior, por sinal. Já que, era nítido meu amor por ela, nada nem ninguém mudaria isso.
Meu pai, vez ou outra me espiava pelo retrovisor. Analisando minha expressão, ele adorava fazer isso, às vezes chegava a me dar raiva. Não tinha o direito nem de fingir ter superado, será que estava tão estampado na minha cara, a ponto de todos poderem ver? Esperava que não, do contrário, estaria em maus lençóis naquele almoço de noivado. Ainda bem que minha mãe ainda não estava pesando na minha, ou ela fingia acreditar que eu estava bem, ou sentia que devia me apoiar. Para eu não me sentir pior, sabendo que todos enxergavam que eu continuava tão ou mais apaixonado por Hinata do que antes.
Talvez minha mãe fizesse isso por medo também, como se pudesse despertar algo que estava adormecido em mim, por ficar tocando no assunto. Por isso, dona Kushina fazia questão de agir naturalmente, como se eu não tivesse uma história com Hinata.
Que, apesar do tempo e dos novos laços, permanecia sendo a mais doce criatura de todas. Constatei quando nos encontramos por acaso há algumas semanas, assim que cheguei do Brasil, e ela correu para me abraçar, mesmo estando com Toneri. Foi nesse dia que a vi pela primeira vez nos braços de outro homem. E, precisava confessar, doeu mais do que eu poderia suportar. No entanto, fingi que estava tudo bem e a saudei de forma educada, porém fria. Mantendo minha expressão o mais neutra possível, ao ver Toneri me olhar como quem queria dizer: "Eu ganhei, você perdeu."
Seria assim daquele momento em diante, apenas amigos distantes que se afastaram com o tempo. Seguindo suas próprias vidas e apaixonando-se por outras pessoas. No caso de Hinata, pois, o meu era bem diferente.
Há alguns anos, Hinata estava disposta a fugir comigo. Hoje; entretanto, eu a olhava e ela não me olhava de volta. Não como antes. Nada era como antes.
Como, quando nossos olhos se encontravam e eu sentia tanto amor me inundar, parecia que me afogaria naquele sentimento. Todavia, da última vez que nos vimos, Hinata não me devolvia nada pelo olhar. Nem se quer nostalgia, por tudo o que vivemos juntos. Nada, nem um pingo de afeto.
Aliás, soube também, que Hinata chegou a perguntar por mim diversas vezes. Querendo saber o porquê de eu ter viajado repentinamente, sem me despedir. Só que eu jamais soube disso, acredito que meus pais, como não queriam mais me ver sofrendo por tudo o que havia acontecido, inventavam desculpas para mantê-la afastada. Ou não me falavam, para eu não voltar correndo, todo iludido para o Japão. Não adiantou eles me pouparem, não é mesmo? Cá estava eu, vim assim que soube que a tinha perdido definitivamente, só para ver com meus próprios olhos que Hinata, de fato, havia me superado.
Por favor, só me respondam, para que ela perguntava de mim? Se nem se importava mais?
Bem, eu queria, mais do que tudo, indagá-la sobre o que aconteceu na nossa adolescência, descobrir o porquê de ela me largar de repente, sem nem me falar nada. Cara, eu descobri que Hinata estava com outro porque estava espiando, não porque ela chegou em mim para contar! Eu até poderia guardar mágoas, odiá-la em meu interior, nutrir um sentimento reverso ao que eu sentia anteriormente. Entretanto, era impossível, eu não poderia nem se quisesse ter qualquer sentimento que não fosse amor e devoção por Hinata. Mesmo diante de todos esses anos, meu amor só crescia. Era surreal o efeito que ela tinha sobre mim, como eu podia amá-la ainda mais, depois de ficarmos tanto tempo sem nos vermos? Pior, após constatar com meus próprios olhos que ela já nem me amava e estava feliz com outro? Eu só podia gostar de sofrer!
Hinata, por sua vez, não teve nem um pingo de consideração pelos meus sentimentos ou, acima de tudo, pela nossa amizade. Porque éramos amigos antes de qualquer coisa.
Além disso, ao me ver novamente, eu não notei nenhum resquício de arrependimento ou remorso por ter me descartado daquela forma. Como se eu fosse uma ferramenta quebrada, só que, ainda assim, eu não conseguia deixar de amá-la e de querê-la pra mim. Sobretudo, vendo-a tão madura e segura de si, eu tinha noção de que a amava com todas as minhas forças. Isso era algo que eu não poderia mudar.
Foi assim, com todas essas dúvidas e com o coração espremido ao máximo no peito, que chegamos à casa de Hinata. A partir daí, liguei o piloto automático, ou melhor, simplesmente me desliguei de tudo e comecei a agir como um robô, programático para ser simpático e sorrir vez ou outra.
Vi meu pai me olhar de esguelha e minha mãe soltar um sonoro suspiro. Até que ela me segurou pelo pulso e me olhou nos olhos.
— Naruto, antes de entrarmos, quero te dizer algo. - ela iniciou, temerosa. - Você é um homem maravilhoso, não se culpe e nem se ache inferior, por Hinata noivar com outra pessoa, está bem? Ela quem perdeu. - eu sorri forçado e lhe dei um beijo na testa.
— Está tudo bem, mãe. - a tranquilizei. - É no passado que o passado deve ficar.
Bom, eu queria verdadeiramente acreditar nas minhas palavras. Entrementes, quando meus olhos recaíram em Hinata, perfeitamente linda, toda arrumada para outro homem. Eu quis chorar até que todas as minhas lágrimas secassem.
Ao contrário disso, apenas sorri, confirmando que estava definitivamente selado para o amor. Se não a teria, eu não teria mais ninguém.
Meu amor por Hinata era inexorável.
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Ainda é você
FanfictionApós o término conturbado com Hinata, seu primeiro e único amor. Naruto se afastou do Japão por anos para curar suas feridas internas e se reencontrar. Porém, assim que descobriu sobre o casamento iminente de sua amiga de infância, ele resolveu volt...