"Eu também acho você bonitinho, Nicholas"
E lá se foi todo o meu esforço mental que durou exatos cinco minutos até ele destruir tudo com uma frase de seis palavras. Seria sempre assim? Eu precisava sair de perto dele urgentemente então, pois não sabia até quando manteria minha sanidade mental, que já havia sofrido muitos danos desde que cruzei com ele.
Engoli a seco a provocação, tentando conter o sorrisinho estúpido que insistia em aparecer em meus lábios. Agarrei meu celular e me afastei dele o tão rápido quanto pude, enquanto ele ainda estava na cama, me fitando como se quisesse descobrir o que passava em minha cabeça, ou melhor, jogando com minha confusão, me colocando naquela posição acuada:
- Vamos? - desviei de seu olhar perfurante como um cristão de diamante não lapidado.
Estava decidido a me manter distante dele, o único problema é que estávamos dividindo o carro novamente a caminho da festa, com seus olhares insinuantes sobre mim. A música alta me fazia sentir ainda mais confinado em uma lata, como se as ondas sonoras reduzissem o espaço para nós dois dentro do carro, o ar que passava pelos meus pulmões fosse o mesmo nos dele e, de certa forma, estivéssemos conectados por isso: um fluxo invisível de pensamentos perturbadores sendo carregados pelo ar.
Quando parei o carro no estacionamento da boate, tudo em mim dizia para desistir daquela ideia maluca, ainda que em cima da hora. Gabriel provavelmente tinha amigos ali que poderiam o acompanhar até em casa, mas eu não tinha confiança suficiente em mim para me levar até o interior da boate, com todas as tentações tão próximas. Já não tinha mais certeza de nada. E mesmo assim sai relutante do automóvel, sendo quase arrastado para dentro por um Gabriel impaciente que só queria uma noitada com um desconhecido que lhe emprestara roupas.
Ele segurou minha mão como um pai levando seu filho a força para uma consulta ao dentista. Não havia nada inusual ou romântico no gesto, mas então por que meus pelos se arrepiaram daquela forma? Por que de repente minhas pernas pareciam perderas forças a medida que meus pés se moviam inconscientemente na direção que ele queria?
Perguntas complexas demais para serem respondidas sem álcool, descobriria mais tarde., a contragosto de meus pobres neurônios que não tinham um segundo sequer de descanso. Tico e Teco preferiram fechar os olhos para o que estava se desenrolando a sua frente:
- Você vai adorar isso aqui. - ele comentou animado, colocando a pulseira do evento em seu punho. - Não estava na organização, mas conheço gente que estava. Me garantiram que vai ser inesquecível, a não ser que você beba muito. - caçoou ele.
- É, vou sim... - mento descaradamente. Mal havia entrado e já sabia que não iria gostar. Poderia ser um pouco de preconceito com as pessoas ali? Sim, mas não conseguia controlar as primeiras impressões.
Eu deveria ter contado a ele que aquela era a primeira vez que eu ia a uma boate antes de estarmos nela. Nunca fez meu tipo de passeio ideal, porque não era meu lugar e eu me sentia como um peixe fora d'água batendo as nadadeiras na areia. Andar ao ar livre, tomar um sorvete, curtir a paisagem, sentar na grama dos parques no verão, isso sim valia meu tempo.
Apenas o segui para sabe deus onde ele estava indo naquele formigueiro de pessoas bêbadas dançantes. A falta de iluminação deixava aquele lugar claustrofóbico, fatigante. Queria voltar para olhar o luar, se é que havia uma lua no céu em pleno inverno.
Paramos na frente do bar, ele já estava tirando a carteira e pegando o Menu sobre o balcão escuro do lugar. Alias, tudo ali era escuro o suficiente para que vários casais fizessem sexo tranquilamente sem serem vistos. As únicas fontes de luz eram os painéis de luzes coloridas no alto:
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AMEN
Mystery / ThrillerNicholas teve criação extremamente religiosa, mas sua concepção de mundo entra em crise quando ele conhece Gabriel, passando a questionar sua sexualidade ao passo que se sente cada vez mais atraído por ele. Enquanto isso, uma série de assassinatos a...