Já teve que dizer adeus a algo que não possuiu? Algo que cobiçou ter e que por nem um segundo foi realmente seu. É meio fantasioso dar adeus a algo que não foi seu. Acho que a ideia de pertencimento vai além do que nossas mãos podem alcançar. Mãos enlaçam corpos, mas dificilmente prendem almas. Talvez por isso seja tão doloroso se despedir de algo assim...
Acho que tudo piora quando sentimos que aquilo que está partindo é uma das poucas certezas que temos. E quando ela se vai. Quando ela realmente parte sem nos dá a chance de convencê-la ao contrário, o nosso peito infla de palavras vazias. Aquela sensação de ter muito a dizer, mas nada a falar. As coisas ao nosso redor parecem perder um pouco do sentido, mas isso porque nós perdemos o sentido. Odeio despedidas, porque vejo nelas o fim de algo que eu não queria que acabasse. Mas odeio a ideia de algo ir sem que eu me despeça. Às vezes a despedida é só uma forma de não ter que se despedir. Lembro das vezes que eu insistia em uma despedida e ficava nela por dias, por meses, somente para não ter que perder, entende?
Sentimos falta daquilo que nos falta. O que me falta tem um metro e setenta e olhos castanhos. Tem crises de humor, mas quem não tem? Às vezes lhe falta paciência, às vezes lhe falta sentimentos, mas a quem não falta?
Ter que me despedir dela foi como deixar para trás um fardo que nunca carreguei. Meus braços se cansaram de um peso que nunca carregaram. Desde que a conheci, eu caminhava para longe a deixando cada vez mais para trás. Olho agora para mim mesma e vejo que não tenho nada para me despedir. Ela não está aqui e provavelmente nunca esteve. Então, como dar adeus a algo assim?
Disseram uma vez que despedidas são necessárias para o fim de ciclos e o início de outros. Mas sabe, é confuso pensar que não me despedi. Que estarei presa a algo que não tenho. E é mais confuso ainda explicar o porquê de ainda estar presa e o porquê de não querer me libertar.
Pergunto-me várias vezes o que diria se ela estivesse diante de mim. Nunca elaborei uma resposta boa o suficiente para ser dada. Na minha mente, seria quase assim:
“Como pode depois de tanto eu ainda ser unicamente sua? Andei por tantos corações, conheci tantas almas e me deparei com tantos sentimentos, mas meu desejo é retornar ao seu. Você foi o pedaço de vida que saltou de dentro do meu peito e que vive de forma autónoma. Você não precisa de mim, mas eu não suporto a ideia de não ter você. Em um metro e setenta encontro tudo o que quero, tudo o que preciso..., entretanto, como eu disse, você não precisa de mim. Você sempre foi a liberdade e talvez eu tenha sido a sua prisão. Você queria voar e eu queria que ficasse. E quanto mais eu te amava, mas você temia. Talvez o amor assuste. Talvez sufoque. Talvez seja melhor não o sentir, não mais. Hoje eu tenho que dizer adeus a uma parte de mim que está em você, mas que não pode ser devolvida. Confesso que sentirei saudades a cada segundo da minha existência, que sorrirei com menos frequência e menos sinceridade, mas que manterei em mim a raiz de esperança de que voltará dizendo que tudo não passou de um pesadelo. Então vai e voa devagar para que dê tempo sentir minha ausência e quem sabe, a minha falta. ”
E sabe, mesmo que eu falasse cada vírgula a qual foi escrita, ainda me faltariam palavras. A despedida desperta a saudade. Só com a despedida percebemos que vai existir a falta. E isso é um sentimento difícil de lidar. Muitos dizem que podemos preencher a falta com nós mesmos, mas eu não vejo sentido nisso. Acredito sim que somos seres completos. Mas não acho que sejamos completos sozinhos. Nem o mais duro ser humano sente prazer sincero quando está só. Sentimos falta, não de nós. Sempre nos vem alguém em mente quando falamos em falta. Talvez esteja pensando em alguém agora, assim como eu estou. E talvez sinta também que estaria mais feliz se esse alguém estivesse agora com você...ou talvez não, na verdade, pode ser só que não tenhamos nos despedimos de verdade.