Era o último dos espectros que moravam na cabeça do garoto, um muito antigo. Ele se rastejava pelos cantos, o garoto podia ouvir ele se contorcendo e espreitando, ele era calado e observava, observava, observava. O menino podia sentir o cheiro dele, um cheiro forte de mofo, como algo que corroía aos poucos a estrutura dele. Ele o sentia em suas veias, a raiva, a sede de sangue, de caos – Eu sei que você sempre me espreitou, sempre esteve em mim, você é meu monstro, a minha raiva, o meu descontrole. O espectro parecia rastejar como uma cobra e se pôs em frente ao menino, era uma sombra, com se fosse uma pessoa sobre um manto e usava uma máscara, era uma espécie de crânio de pássaro. O garoto sentia sua respiração bufante e profunda. Eles ficaram se encarando por tanto tempo, até o garoto perceber que já estava sozinho. Ele sabia que carregava todos esses espectros dentro de si, como lembretes da sua queda, mas ele o aceitava como parte de sua existência, como parte do seu todo, o garoto já não era mais aquele ser iluminado, ele se encontrava no mundo real, seguindo firme e tentando ser algo bom, ou pelo menos algo melhor.
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O mal que em mim habita
FantasyO garoto já sabia que não estava mais na realidade, ele sabia que tinha entrado em sua cabeça e que dali em diante tudo seria as distorções dos seus pesadelos mais sombrios.