Capítulo Único

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Snape não poupara Narcisa de nenhum detalhe.

A lagosta preparada por ele estava deliciosa – e Narcisa se perguntou se haveria algo que Severo Snape não sabia fazer –, mas o clima durante o almoço não foi nem de longe tão agradável quanto durante o sexo matinal. Isso se deu porque Snape manteve sua palavra – como sempre fazia – de verdadeiramente mostrar o homem por trás da casca, e a verdade que o rondava era sombria e impossibilitava qualquer chance de uma conversa amena.

Contou sobre seus pais, sobre Lilian, a profecia, o apelo desesperado a Dumbledore e seu papel como espião. Se dissesse que estava surpresa, Narcisa estaria mentindo. Como ela mesma falara naquela manhã, já duvidava há algum tempo de que a lealdade de Severo estivesse com a Ordem da Fênix e isso, sem dúvidas, deixou seu coração aliviado. Entretanto, era inevitável que diversas perguntas e medos surgissem.

E se o Lorde das Trevas descobrisse a farsa de quem ele pensava ser o seu servo mais leal? E se Voldemort vencesse, Snape manteria seu disfarce para seguir ileso? Se Voldemort perdesse, conseguiria provar sua inocência? Ele, ao menos, sairia vivo daquela guerra? Teria sido ela, Narcisa, apenas um curativo sobre a ferida que Lilian Potter provocara em Severo Snape?

Aquele almoço se encerrou mergulhado em um silêncio angustiante, muito distante da barulheira de gemidos e gritos de prazer de outrora. Severo, mais uma vez, retirou a louça da mesa para lavá-la, permitindo que Narcisa pudesse absorver tudo que ouvira. Ela ainda estava sentada, segurando-se à taça de vinho, quando ele vestiu a capa e se despediu. Sem beijo, sem abraço, mais uma rodada de sexo ou, pelo menos, um olhar mais atencioso. Talvez tenha se arrependido de se abrir a alguém, ela pensou depois que ele trancou a porta e aparatou.

Não pôde saber se realmente era arrependimento ou alguma vertente de medo, pois não voltou a ver Snape. A ausência, até mesmo nos dias em que ele estaria habituado a visitá-la, fora justificada em um pequeno bilhete, que dizia estar extremamente atribulado com as pendências da escola e do próprio Lorde das Trevas. O último aviso que recebeu foi mais um breve comunicado, no início de maio, que contava em linhas simples que o garoto Potter fora visto em Hogsmead. Nada mais precisava ser explicado para que Narcisa entendesse que a guerra teria fim naquela mesma noite.

A Ordem da Fênix, após saber das memórias que Snape dera a Harry Potter, encontrou Narcisa em Wicklow e ela foi levada como protegida de volta para a Inglaterra. Estava sendo levada até o Largo Grimmauld quando se virou para um Weasley e perguntou sobre Snape. O rapaz e Potter apenas trocaram um breve olhar entre eles.

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Ele abriu as pálpebras lentamente, pois parecia cansado demais até para isso. Precisou voltar a fechá-las quando a luz muito clara do recinto invadiu com brutalidade as suas íris. Respirou fundo, sentindo uma espécie de ardência na garganta e uma dor incômoda no pescoço. Apertou os olhos com força e antes de abri-los novamente, uma mão segurou a sua.

Quando abriu os olhos – com sucesso dessa vez –, ele esperava encontrar as portas do Inferno, ou Dumbledore o aguardando para seguirem juntos para qualquer lugar longe do mundo terreno, mas foram os olhos acinzentados de Narcisa que viu e era a mão dela que segurava a sua.

— Eu não morri?

— Não, Severo – ela sorriu. — Harry Potter derrotou o Lorde das Trevas. Você está vivo.

Snape soltou a mão de Narcisa – talvez com mais grosseria do que pretendia – e levou os próprios dedos até à dor no pescoço. Encontrou um curativo e franziu o cenho.

— Mas... – a ardência em sua garganta fazia sua voz sair muito rouca — e o veneno?

— Parece que a Granger prestou os primeiros socorros e isso foi crucial para que sobrevivesse. – Afastou-se minimamente da maca. No seu rosto, estava estampada a mágoa por ter perdido o toque da mão dele. — Precisou ficar em coma induzido por alguns dias. Esse incômodo na sua garganta é por causa da sonda que precisou usar para se alimentar. Mas você melhorou rapidamente, surpreendeu a todo mundo. Eles tiraram a sedação e o trouxeram para o quarto.

Organza Ametista | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora