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A paisagem sombria e coberta por uma névoa densa não me era desconhecida, ela me acompanhou da infância até o começo da minha vida adulta. A diferença entre ver esse horizonte de água e névoa naquela época e agora, é que antes a sensação ruim e pesada do luto e da culpa não era tão extensiva quanto a névoa que me cercava.

De longe, avistei um barco simples se aproximando. Agarrei fortemente minha mala e me encolhi dentro das minhas várias camadas de roupa. Eu realmente não estava mais acostumado com aquele frio. Olhei de soslaio para trás, a cidade grande, com seus prédios enormes e iluminados seguia normalmente sem se importar com um mero ator de peças pequenas que foi acordado com a notícia da morte do pai.

O barco parou no porto, e o condutor saiu para dar lugar à outro, este que me chamou para entrar.

A viagem até a ilha estava do mesmo jeito. A neblina cobria sua visão por completo, e as nuvens sempre carregadas não deixavam o sol iluminar o caminho pedregoso, onde só os experientes sabiam navegar. A velocidade do barco e o vento do lugar se juntavam para fazer o frio ficar ainda mais congelante, e me vi obrigado a me encolher ainda mais em meus casacos.

Estava tão ocupado em me encolher de frio que mal vi a meia-hora de viagem passar, só percebi quando, já próxima de mim, surgiu a silhueta da ilha.

Tudo parecia o mesmo. O porto, que era o lugar mais movimentado da cidade, estava cheio de barcos de pesca. Na calçada ao fundo, ainda estava o mesmo restaurante, com as mesmas mesas e as mesmas placas. Embora tudo parecesse estar do mesmo modo que eu havia visto cinco anos antes, para mim aquele lugar nunca mais seria o mesmo.

Quando o barco atracou em terra, peguei minhas malas e comecei a andar. A ilha era pequena, tendo apenas o porto - que sustentava a economia dos moradores a base de pesca, uma floresta enorme que tomava ⅔ da terra disponível, e as casas que eram distribuídas em formato de U, fazendo com que toda parte habitável da ilha fosse alcançável em poucos minutos de caminhada. Ainda no porto, parei alguns segundos e olhei para a minha esquerda. Lá, havia um pequeno anexo da ilha que continha apenas árvores, o farol e uma pequena casa não muito longe do mesmo. O porto improvisado estava vazio, então me preparei para um possível encontro com alguém que eu não via a anos.

O caminho até minha antiga casa continuava o mesmo, as casas antigas e vazias pois a maioria estava pescando ou trabalhando no porto. Chegando no ponto onde a rua principal improvisada fazia uma curva, um caminho de terra em meio a plantas desgastadas me levava diretamente para meu objetivo. Quando voltei a ver o imóvel tive que parar por alguns minutos.

    Uma casa de três andares feita de madeira pobremente pintada de azul e descascando, cujo último andar era na verdade um local improvisado para manter o barco. Por íncrivel que pareça, a casa conseguia parecer ainda mais improvável de ainda estar de pé do que era antes. Prometi ao meu pai uma casa nova antes de partir, porém ele se foi antes mesmo de conseguir começar a juntar minhas economias para isso. 

    Me aproximei da porta e dei três leves batidas na mesma. O rangido alto da porta antecedeu sua abertura, revelando um rosto que eu já esperava encontrar. Definitivamente mais alto e com mais músculos, no entanto com o mesmo estilo de roupas de quando nos conhecemos melhor na adolescência.

    — Seokjin, quanto tempo. — falou, e pela sua expressão parecia ter se arrependido de me comprimentar como se fossemos estranhos.

    — Tenho que concordar, Namjoon. Embora o motivo de nos encontrarmos de novo não seja o ideal. 

    Entrei por completo na casa e suspirei ao ver os móveis nos mesmos lugares. O pequeno sofá de dois lugares com uma televisão antiga na frente, que era apoiada por uma mesa tão velha quanto. A cozinha estreita tendo apenas uma geladeira, um fogão e uma bancada, os armários acima destes continuavam desgastados e tortos. A porta fechada em frente a escada me chamou, e eu simplesmente me deixei guiar pela nostalgia que aquele lugar me trazia. Era o meu antigo quarto, pequeno e apertado cabendo apenas uma cama de solteiro, uma cômoda e uma escrivaninha com uma cadeira desconfortável. Me aproximei e me sentei nesta, percebendo que havia livros sobre a mesa, e estes não eram meus. Eram os livros de história pagã do meu pai.

Moonlight {Namjin}Onde histórias criam vida. Descubra agora