Capitulo 3

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Segunda-feira após a festa

  Rafaella's POV

  “Você vai ter que usar mais base pra cobrir isso aí.” Meu irmão mais velho disse e riu assim que passou por mim no banheiro. Meu dedos passaram levemente sobre meu pescoço enquanto eu notava as marcas vermelhas que tinham se tornado escuras, e agora estavam se tornando azuis e roxas.
Meu pescoço estava parecendo um tipo de pintura moderna, mas cada marca daquela tinha uma história. Do lado direito, aquela leve marca me lembrava da sua hesitação durante a festa enquanto ela beijava meu pescoço relutantemente com pouca força. Ela não tinha certeza de como lidar com aquela situação e comigo, e eu presumi que aquela era a primeira vez que ela beijava uma garota ou era a primeira vez que ela beijava alguém. Sua inocência e imaturidade estavam me excitavam e eu sorri olhando para as marcas que ela deixou em meu corpo.
Enquanto o chupão do lado direito do meu pescoço representavam momentos de paixão, as marcas do lado esquerdo representavam poder, dominância e um pouco de dor não desejada. Depois que Bianca deixou o quarto, eu fui atrás de Rodolfo, que era o meu amigo com mínimos, mas importantes, benefícios. Ele era popular na escola, com seus olhos castanhos, sorriso charmoso, corpo atlético, e a maioria das garotas era louca por ele. Mas para mim, ele era um cara convencido que usava muito desodorante Axe e se achava demais devido ao tamanho da suas “habilidades”, se é que você me entende... Seu beijo era terrível e desajeitado, seus lábios pareciam um aspirador de pó ligado na sua máxima potência. Beijá-lo era como comer um sanduíche que era muito grande para o tamanho da minha boca: difícil e exaustivo. Mas o único benefício de ficar com Rodolfo é que ele fala espalha para todo mundo quando isso acontece. Ele conta para todo mundo na escola sobre suas conquistas, e aquilo era exatamente o que eu precisava para distrair as pessoas do fato de eu ter passado mais de uma hora em um quarto com Bianca. Eu esperava que as pessoas que notassem os chupões no meu pescoço pensassem que eles eram do Rodolfo.
Suspirei pesadamente colocando mais base sobre eles, tentando mascaras as cores do arco-íris que estavam agora no meu pescoço. “Rafaella, o café da manhã está pronto!” minha mãe gritou nas escadas, e eu relutantemente fui até a cozinha onde minha mãe, meu pai e Tato já estavam sentados. “Querida, você não vai sair com seu cabelo desse jeito, vai?” Minha mãe disse com um quê de desgosto. “Ham.. vou, o que tem de errado com ele?” Eu respondi. “Eu devo te dar a resposta curta ou a longa?” Tato bufou. Eu rolei meus olhos e me sentei na mesa com eles. De vez em quando, minha família é muito “família do comercial da margarina” de tão perfeita, e eu não suporto isso. As expectativas para ser perfeita eram muito altas, e Tato era sempre a razão delas subirem mais ainda para cada aspecto da minha vida. Ele começou a falar sobre como ele era o melhor jogador do time e como tinha conseguido nota máxima no seu trabalho de Inglês enquanto todo mundo na sala tinha conseguido no máximo um 8. Eu tentei ignorar a sua voz do melhor jeito que pude.
Comecei a pensar sobre minha noite com Bianca e de repente comecei a sorri timidamente enquanto lembrado o jeito que o seu corpo se escondia no meu enquanto nos beijávamos, quase como meu corpo fosse seu santuário. Comecei a pensar o jeito que ela adoravelmente mordia seu lábio inferior quando nos afastávamos para tentar recuperar o fôlego. Pensei no jeito que ela às vezes olhava nos meus olhos e colocava uma mexa do seu cabelo atrás da orelha como se ela estivesse esperando que eu desse o próximo passo. Foi apenas uma noite, uma vez, mas havia algo sobre Bianca que fazia meu coração bater mais rápido e minha barriga se encher de borboletas. “´´É porque ela é gay!” Tato disse rindo. Voltei rapidamente para realidade quando eu percebi que todos os olhos da mesa estavam em mim. “O-o quê?!” Olhei em volta surpresa. “Mamãe perguntou por que faz tempo ela não tem tido nenhum garoto em casa para jantar, e eu disse que era porque você é gay.”, sorriu com o canto da boca pra mim. Eu sabia que Tato estava só querendo dar um de espertinho, como sempre, mas minha mãe e meu pai não aceitaram aquilo como uma piada e ambos tinham uma expressão de duvida, quase de nojo, em seus rostos. Eu comecei a me sentir com ânsia, mas estava com mais raiva pelo comentário idiota de Tato e pela expressão facial de meus pais a um segredo que eles esperavam que não fosse verdade. “Que merda que é isso, os anos 50? Por acaso eu tenho que ter pretendentes aqui em casa todo dia me pedindo em casamento?” Eu gritei jogando o guardanapo que estava em meu colo na mesa e depois saindo dali pedindo licença. “Rafaella, volte aqui agora e termine seu café da manhã,” meu pai disse bravo enquanto eu já pegava minha mochila e abria a porta da frente. Mas antes que eu a fechasse, eu olhei para trás e gritei de novo, “Por via das dúvidas, eu NÃO sou gay!” E com aquilo, eu rapidamente andei para longe de minha casa.
 
Bianca’s POV

  Tem dias que eu nem preciso que meu alarme me acorde pela manhã. Meu pai gritando com a minha mãe faz esse trabalho. Ouvi um copo sendo quebrado no andar de baixo então pulei da minha cama e sai correndo para ver o que tinha acontecido. Meu pai estava a centímetros do rosto da minha mãe e lágrimas não paravam de cair de seus olhos. Eu corri e me enfiei no meio deles, empurrando meu pai para longe. O copo que eu tinha ouvido quebrar estava em mil pecadinhos perto de uma parede e eu sabia que meu pai tinha o jogado em raiva.
Meus pais brigavam o tempo todo e eu apenas fingia que eu não sabia que o casamento deles estava arruinado. Eu acho que eles acreditavam que, já que eu passava tanto tempo no meu quarto, eu não sabia do que estava acontecendo fora dele, quase como se eu vivesse protegida num mundo de fantasia. Mas eu ouvia os gritos e o choro o tempo todo, e eu tive que separá-los durante essas brigas várias vezes antes que as coisas fossem longe demais.
“Bi-Bianca, vai se aprontar para a escola”, minha mãe gaguejou enquanto corria para seu quarto. Meu pai permaneceu em silêncio, seus olhos carregando uma pequena quantidade de culpa, não por gritar com minha mãe, mas por gritar tão alto a ponto de me fazer vir até aqui. Nos olhamos por um momento, e eu pedia para que meus olhos mostrassem o que eu estava pensando – não começa com essa merda de novo. Saí dali e me vesti rapidamente, antes de escapar desse buraco do ínfero que eu chamava de casa.
O interessante sobre minha vida é que quando eu saía daquele inferno de casa toda manhã, eu só tinha 10 minutos de paz antes de entrar em um diferente inferno – escola. Eu sou constantemente, sem exageros, constantemente provocada pelas menores coisas. Meu cabelo, minha altura, meu interesse em música, minhas roupas, qualquer coisa. Qualquer coisa envolvida a mim provavelmente já foi usada como motivo de provocação. Às vezes, eu acho que os populares são tão obcecados em se manter na hierarquia que eles fariam qualquer coisa para que todo mundo se sentisse embaixo de seus pés. Eu estava especialmente nervosa por hoje em razão do que tinha acontecido com Lauren no Sábado passado. Nós estávamos bêbadas, mas eu me lembro de cada detalhe, e eu não tenho certeza se eu me arrependo do que aconteceu. Garotas ficam com garotas nas festas, certo? Eu dizia aquilo para mim constantemente como uma desculpa sobre o que aconteceu, como se Rafaella tivesse sido apenas um erro, mas eu não podia negar que beijá-la foi um tanto quanto... bom, e quase especial. Pensava se ela tinha sentido o mesmo. Gastei os 10 minutos de caminhada até a escola pensando no que eu faria quando eu a encontrasse, e como ela responderia. Assim que entrei pelos portões, ela foi a primeira pessoa que eu vi. Meu coração começou a bater rapidamente e eu tentei pensar em o que iria fazer. Os próximos movimentos pareceram uma cena de um filme em câmera lenta.
Andei pelo corredor de cabeça erguida; ela passou a mão entre seus cabelos e olhou para mim. Nós nos olhamos e parece que eu vi um pequeno sorriso em seus lábios. Ela piscou algumas vezes e continuou olhando para mim enquanto a distância entre nós diminuía. Ela abriu os lábios e olhos para mim como se fosse dizer alguma coisa. Eu sorri e comecei a dizer. “Ooooiii-“ quando algum pé literalmente apareceu do nada na minha frente me fazendo cair. Caí de cara no chão batendo meu queixo. Mordi minha língua, forte, e algumas gotas de sangue começaram a se formar em minha boca. Lentamente, levantei-me do chão procurando a quem pertencia o pé que me fez cair e logo vi Rodolfo. “Bom dia, Bianca.” Ele sorriu enquanto as garotas ao redor dele, incluindo Rafaella, jogavam suas cabeças para trás gargalhando. “Você não deveria ser tão atrapalhada, Bianca, você pode se machucar.” Ana disse – uma morena magra, bronzeada, metida a modelo.
Ana e Rodolfo olharam para Rafaella, esperando para ver o que ela falaria sobre minha situação, e depois de alguns segundos que mais pareceram uma eternidade, ela simplesmente disse “É, Bianca, para de ser tão atrapalhada!” O desdém na voz dela era igual ao da voz de Ana e Rodolfo, e pareceu que eles gostaram da resposta porque apenas aquilo foi suficiente para Ana esquecer que eu era o assunto e começar falar da festa que aconteceria na próxima sexta – mesmo que ainda fosse segunda-feira. As palavras de Rafaella não teriam me machucado tanto se eu não tivesse visto o que Ana e Rodolfo não viram: um pequeno traço de incerteza, e o que me pareceu culpa, nos olhos de Rafaella enquanto ela falava comigo.
Andei lentamente para longe deles, Rafaella limpou sua garganta e disse, num tom um pouco mais alto do que necessário, “É, festa na sexta na casa da Gizelly, vai ser legal. Ela mora na mesma rua que a Thelma, né?” “Rafaella você já foi na casa dela, por que você está agindo como se não soubesse onde ela mora?” Ana perguntou e olhos para ela confusa. “Ah, sim, claro, estou apenas confirmando. Você sabe que meu senso de direção é horrível.”, disse rindo. Ana aceitou aquela desculpa esfarrapada mas eu sabia o que Rafaella estava querendo com aquele tom de voz e com as olhadas para o lado que ela dava. Eu não sabia porque ela estava agindo daquele jeito, mas eu sabia que tinha que falar com ela sobre o que aconteceu na festa à duas noites. Acho que a única forma de falar com ela seria indo na festa da Gizelly na sexta.

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⏰ Última atualização: Aug 12, 2020 ⏰

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