O Corvo e a voz

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Seu olhar era suplicante, seus olhos marejados de lágrimas prestes a escorregar. No entanto, o olhar que recebia em troca era implacável e severo. Hyuuga Hiashi, seu pai, proprietário de uma renomada empresa de prestígio e com considerável influência política, desejava que sua filha herdasse seu império, mesmo que isso significasse forçá-la a se casar com um velho rico e solteirão. Após as duras palavras de seu pai, Hinata abandonou o casarão que se erguia em frente a um lago imenso, chorando amargamente. Ao cruzar a ponte de madeira, secou as lágrimas e, ao chegar ao final, ajoelhou-se, ainda com o olhar turvo pela dor.

A luz da lua refletia na água calma e cristalina. A jovem levou um leve susto ao perceber algo se movendo na água. Inicialmente, pensou tratar-se de um peixe, mas, ao esticar o pescoço para observar melhor, notou algo estranho, semelhante a um corvo. Julgando que sua mente estava lhe pregando peças, ela se questionou como uma ave poderia estar dentro d'água; não fazia sentido. Os seus olhos encontraram-se com os da misteriosa criatura, que parecia hipnotizá-la, chamando-a cada vez mais para perto, até que ela caiu sobre o lago, afundando-se nas profundezas frias. Sentindo as águas geladas invadirem seus pulmões, contorceu-se na escuridão do lago. Já sem forças, observou a luz da lua refletida na água, como se fosse uma promessa de salvação, e a última coisa que recordou antes de sucumbir ao abismo.

Ao abrir os olhos, foi recebida pela suave luz solar e uma onda de náusea que a fez vomitar a água que havia ingerido. Limpando a boca, olhou ao redor, não reconhecendo o lugar. Estava à margem do rio onde supunha ter se afogado. Como havia sobrevivido, se se lembrava claramente da morte a envolver-lhe? Contudo, sentia-se grata por sentir o sol novamente.

"Chamaram-te rainha, pois agora teu corpo, mente e alma pertencem a este mundo", sussurrou uma voz, como um segredo.

Procurou ao redor, mas não encontrou ninguém. A voz não era clara; eram sussurros em sua mente, confundindo-a. Estaria ela morta?

Observou a densa floresta à sua frente, algo que nunca havia visto antes. Um som de corvo a fez olhar para cima, avistando a ave em um galho de uma árvore sem folhagem, com seus estranhos olhos vermelhos, como se a estivesse observando. O corvo, assustado com o som de galhos quebrando, alçou voo e desapareceu da vista.

Foi então que uma enorme raposa emergiu da floresta e parou diante dela. Hinata abafou um grito com a mão e, do alto da raposa, desceu um homem alto, de cabelos loiros e encantadores, que se curvou, aparentando respeito.

— Minha rainha, estais bem? — perguntou, erguendo-a das águas.

Encantada com os belos olhos do homem, ela demorou a responder, mal se importando com o fato de estar sendo carregada por um estranho.

— Do que me chamaste? — perguntou, confusa. — E o que é essa criatura? — referiu-se à raposa.

Os olhos azuis do homem inspecionaram-na e notaram um ferimento na sua testa, que sangrava.

— Majestade, você está ferida! Perdoe-me, levá-la-ei imediatamente ao castelo. — Apressou-se a colocar a jovem na enorme raposa. — O Duque a aguarda.

Ela envolveu seus braços ao redor do pescoço do desconhecido.

— Não, não me ponha neste animal! — exclamou, temendo.

— Como assim, majestade? Kurama não é um simples animal. É meu cervo, seu cervo. — Disse o loiro. — Você deve estar confusa devido ao ferimento em sua cabeça. Vamos, o Duque está ansioso por sua chegada.

Assim que o homem a colocou na raposa, Hinata viu o corvo voando acima deles, como se os seguisse. E assim foi, com o corvo, acompanhando-os durante toda a jornada.

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