Na pequena e distante Pedrecyti, à duas centenas de quilômetros de Floresta Negra, havia uma velha escolinha abandonada servindo de moradia para um velho carroceiro, chamado Adamastor e seu fiel cavalo negro, que ele dava o nome de Tinhoso, sem referência alguma ao (tinhoso do inferno) pois, Deus está presente em todas as formas de vida, sejam elas quais forem. Os moradores de Pedrecyti, eram pessoas simples nunca souberam de nada que estivesse além das fronteiras daquele lugar. Contudo o nobre Sr. Adamastor vivia fazendo seus carretos itinerantes dando pausas de duas em duas horas afim que seu amigo e companheiro de trabalho também descansasse se alimentando das ervas verdejantes que a mansa chuva de janeiro fez brotar no solo antes castigado pela seca. Ao cair da tarde, olhando para o alto e vendo que até o majestoso astro se recolherá seu Adamastor encostava a humilde carroça a beira do riachinho e ali preparava sua refeição, assando peixe fresco que ele pegava com as mãos. Como ele fazia isso? Era um dom natural de homem que respeita a natureza e conhecia a dureza do sertão. Eu mesmo com muito custo nem consigo pegar sequer um bagre ou mandi; os lambaris fogem quando se deparam com a isca esquisita mal colocada no meu anzol.
O novato prefeito Lupércio Bezerra de Castro o popular (Jacaré) assume a prefeitura de Pedrecyti, e tem planos para demolir a escolinha para construir uma torre de rádio. Mas antes que seus planos mirabolantes pudessem ir em frente surge a figura doce e majestosa da professorinha Ana Carla dos Santos filha do coronel Getulino o quarto prefeito da era emancipada de Pedrecyti em 1980. Ana foi logo cedinho até a escolinha na qual ela encontrou a figura de seu Adamastor ainda repousando no chão empoeirado da antiga escola ao olhar para as paredes percebeu que os livros nas estantes estavam todos intactos sem nenhum sinal de cupim ou traça e com um bom dia em tom bem alto toda sorridente, acordou o nobre homem.
_Bom dia! Senhorita só estava descansando meu corpo já surrado pelos anos.
_Tudo bem, estou com a alma aliviada ao ver que pelo menos os livros da escolinha estão sadios, apesar do teto quase estar caindo sobre nossas cabeças.
Com a sua simplicidade seu Adamastor diz a jovem: _Depois que cessaram as aulas e as portas foram fechadas eu prometi a mim mesmo cuidar da única herança boa que um homem pode ter a leitura, pois ela transforma, você pode até não ter dinheiro mas os livros te fazem viajar por- muitos lugares, conhecer pessoas e seus estados de espírito sem ao menos tirar o pé do chão somente deixando os olhos caminharem pelas estradas convidativas das palavras. O homem que se alimenta de cultura compreende mais a vida. complementou.
_Nossa! belas palavras o Sr fala de leitura com entusiasmo de um aluninho de primeiro ano. _Eu era inspetor de alunos dessa escola que leva o nome da poetisa Maria Euvira das Neves Pedrosa a única mulher que amei na vida toda.
_O Sr sabia que o novo prefeito quer destruir este espaço para construir uma rádio.
_Sim, senhorita mas o que um homem velho pode fazer. O Sr já fez muito. Com os olhos orvalhados o Sr. Adamastor dá um longo abraço na jovem agradecendo-a por ser tão ouvinte e gentil.
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A VOLTA DA ESCOLINHA
Short StoryHá muitos anos em uma cidade chamada Pedrecyti, havia uma escolinha de primeiro grau para as crianças daquela localidade que com o passar dos anos foi abandonada. Neste local nosso herói um homem pacato e simples chamado Adamastor zela pelos inúmero...