Desabafos com o demônio.

Histórias de pescador.

     As vezes o dia parece cinza e azul, hoje acordei cheio de dores no corpo pensando na noite passada depois de ir no bar conversar com aquele vermelhão. Não que eu precise sair de casa, ele mora comigo. Inclusive...
     - Bom dia...
     - Creio que é um bom dia para acordar sozinho em casa, não é? – Eu odeio o tom de voz dele...
     - Todos os dias são dias de solidão, você não acha?
     - Depende do ponto de vista... Quer ser feliz ou triste? Prefiro que fique triste, sua cara de desolado é divertida pra mim! Haha!
     - Sim, você venceu todas as discussões, agora posso tomar meu café em paz? – O meu misto quente tava esfriando em cima da mesa, e o cara não me dava um minuto pra comer...
     - Fica a vontade... Mas você sabe que ela não vai voltar.
     - Eu sei...
     Talvez eu adorasse cada minuto de silêncio que ele havia me proporcionado ao calar a boca, mas ele nunca cala a boca. Embora eu goste de lembrar das grandes aventuras que vivi junto a pessoas importantes, uma parte de mim morre a cada gesto de carinho que eu recebi... As vezes dói, as vezes eu só quero terminar minhas encomendas em paz.
     - Aquela história do ensino médio realmente foi muito boa... Deveria escrever algo sobre nossa conversa do bar ontem! – Por que ele abriu a boca de novo? Céus...
     - Ninguém leria a conversa de um fracassado e um demônio tosco de terno azul...
     - Talvez não, você nunca pensa nas possibilidades, não é mesmo amiguinho? – Irritante, mas com razão...
     - Eu ficaria mais quieto se fosse você, ou vai derramar o café dessa xícara idiota de "O melhor pai do ano" que você comprou e deu pra si mesmo... Babaca!
     -Sim, eu sou um babaca, e você? Pelo menos é um rótulo interessante! Hahaha
     As vezes esse maldito fala algumas sensatezes... Não sei se me sinto mais sozinho sem ou com esse cara... Mas o que é a solidão não é mesmo?
     - Então pobre Benjamin? Vai ficar comendo até a manhã passar? Sentado nessa cadeira de madeira? Solitário como todos os dias da sua vida?
     - Sim... O fato de estar sozinho eu já aceitei... Afinal, ninguém morre junto comigo.
     - Faz sentido.