Balcão de bar.

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     Era a noite, uma mesa na bancada do bar me esperava intacta, talvez fosse coisa da minha cabeça, mas era o mesmo assento de um ano atrás, e de 2 anos atrás, parecia a mesma coisa de sempre sem ser a mesma coisa.
     só estou esperando que ele sente do meu lado novamente, talvez eu devesse pedir um drink pro barman.
      - Um whisky, por favor... – Acenei pra ele e ele me reconheceu... de ano em ano apareço pelos mesmos motivos.
     Não sei se é minha cabeça, mas quando ele me deixou a bebida vi as gotas de água que suavam no copo, pareciam as mesmas de sempre, nada mudou.
     Talvez desde a fatídica hora em que me sentei aqui ele já conseguira compreender a situação, mas do que reclamo? Do mesmo de sempre e sempre reclamo. Um contraste meio frio e não muito criativo, porém é o que eu consigo criar enquanto escrevo nesses guardanapos surrados.
     Após o primeiro gole de álcool, chegara minha companhia. Você ficou curioso pra saber quem é? Talvez a forma dele o assuste um pouco, é como os velhos contos falam, pele avermelhada, chifres grandes, dentes amarelos, todo aquele padrão de chefe demônio que a gente vê por ai. A diferença é que ele usa um terno finíssimo e azul!
     - Parece que fui o único que sobrou pra você conversar não é mesmo?
     - Como sempre, a gente se encontra de ano em ano, não é mesmo? Não vai beber? – Ele é astuto, mas não consegue me atormentar como fazia antigamente.
     - Acho que vou querer o de sempre, um copo de tristeza com uma pitada de amargura por favor! – Se enchia de alegria.
     Um silencio tomou conta daquele bar, e só bebemos juntos por algum tempo... Engraçado como podemos olhar pros nossos próprios demônios como companheiros de copos, talvez a mudança ocorreu pra nós, não sei bem o que dizer nesse ponto da conversa.
     - Então ocorreu mais uma vez? – Por que insisto em conversar com ele?
     - Padrão de qualidade, se não me engano. Acho que você se deleita cada vez que sento nessa mesma cadeira, não é mesmo?
     - Não me entenda mal, nós somos companheiros, talvez até eu tenha me acostumado com suas dores! – Me parecia sincero nesse ponto da conversa.
     - As dores passam... Alguma hora passa, seja no terceiro ou quarto gole desse copo, ou correndo em algum campo verde com um cachorro atrás... Mas até la, acho que o copo é uma boa solução. – Me preparava para acender um cigarro.
     - E o que você pretende fazer se tudo voltar a ser como antes? Dessa vez a minha aposta irá render hehehe!
     - Nada volta a ser como antes... Do mesmo jeito que quando sentamos aqui da primeira vez e firmamos essa aposta, talvez você não considerou que, mesmo perdendo, eu sairia ganhando.
     Novamente um silencio mortal veio a tona, me vi com um cigarro na boca e um copo de bebida barata na mão. O silencio dele me garantiu a vitória de hoje, a vitória de que nada mais vai ser igual ao que era antes.
     - Você paga a conta vermelhão, eu to indo nessa!
     - Pode deixar...

Desabafos com o demônio.Onde histórias criam vida. Descubra agora