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Mas aguente, levante a cabeça, seja forte!
Espere... Espere até ouvir eles vindo.
Aí vêm eles.

Como previsto, o processo de reabilitação começou naquela mesma semana

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Como previsto, o processo de reabilitação começou naquela mesma semana. Cooperou bastante, pensando que quanto mais rápido saísse dali, mais depressa conseguiria ficar finalmente sozinho e então, sem monitoramento, poderia pendurar-se pelo pescoço na primeira corda que encontrasse.

Não estava sendo mórbido, era literal.

Tinha claro e definitivo apenas uma coisa: o suicídio. Em sua cabeça, não era algo a ser pensado, pois estava decidido, então não agiria com pressa ou algo assim. Aconteceria de forma limpa e simples, sem notas de despedida ou posts emocionais nas redes sociais ou pedidos de ajuda. Não queria ajuda, só queria se livrar da dor. Só queria apagar da própria pele as recordações e a culpa, a solidão e o medo.

O problema da dor, é que quando se sente, nubla os outros sentidos e distorce percepções. Para James, não havia alguém em mais sofrimento que ele e se houvesse, não era da sua conta. Não havia nada que o prendesse a ideia de continuar vivendo ou lhe fizesse refletir sobre sua decisão extrema, nem mesmo Cristopher ou a possibilidade de dançar novamente. Acreditava piamente que já não existia nada para si, então, sequer se esforçava para desenvolver vínculos emotivos.

Foi assim até um certo dia, semanas mais tarde, quando se perdeu em um par de olhos castanhos.

Durante uma segunda feira qualquer, quando já conseguia se locomover com a ajuda das muletas e pôde despistar sua enfermeira, embrenhou-se nos jardins do complexo hospitalar na hora de descanso, quando muitos internos eram levados até ali para receber um pouco da luz do sol do amanhecer ou praticar alguma atividade de reabilitação. Sentou-se sobre um dos bancos de concreto ao redor da fonte de golfinho no centro do jardim, apoiando as muletas na parte livre da extensão de concreto para que ninguém se sentasse ao seu lado. Lembrava-se claramente de estar estapeando um besouro que caiu na camisa quando desviou o olhar para a esquerda e o viu.

Tratava-se de um rapaz claramente mais jovem, com olhos castanhos tão claros que beiravam o verde, daqueles com pequenas raias coloridas ao redor da íris — mais tarde olhara perto o suficiente para notar —, pele branca demais, corpo esguio e cabelos loiros encaracolados que alcançavam suas orelhas. O penteado provavelmente era responsável por fazê-lo parecer tão jovem. O braço direito do garoto estava engessado e metade da cabeça coberta de bandagens, por onde os cachos escapavam no lado oposto. Supôs que cortaram os cabelos da área machucada e interiormente lamentou. Os cachos dourados eram muito bonitos.

Sem descaro algum, James observou-o atentamente enquanto este conversava alegremente com uma senhora idosa que ele já tinha ouvido falar — a Sra. Davies, uma mulher muito simpática e boca suja que estava se recuperando da remoção de um tumor maligno. Por muito tempo, ela foi a sensação da Clínica, por ser um caso considerado como milagre, assim como o próprio James. Reconhecia-a porque sempre usava lenços estampados para cobrir a careca, alegando manter o estilo apesar de estar com um pé na cova. Conversou com ela poucas vezes em uma semana, quando o quarto dela passou por um reparo e eles tiveram que dividir até que a idosa voltasse ao seu próprio. Foram noites cheias de humor negro e morbidez; gostava da personalidade dela.

Perdido em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora