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Pegue um anjo pelas asas
É hora de contá-lo tudo isso [...]

Era terça feira e naquela manhã, completavam-se dois meses desde que James conheceu Damian e sua história perturbadora

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Era terça feira e naquela manhã, completavam-se dois meses desde que James conheceu Damian e sua história perturbadora. Desde que conversou com a tia avó do garoto, a relação entre os dois se tornou ainda mais estreita. James não podia negar o forte sentimento de carinho e cuidado que vinha a tona sempre que Damian lhe encarava com aqueles olhos cor de mel enormes, os cachos dourados sempre bagunçados de uma forma extremamente adorável e o sorriso inocente, sacudindo seu coração quebradiço e solidificando um caminho sem retorno para um futuro incerto.

James sempre foi uma pessoa responsável em relação às suas decisões importantes e totalmente fiel aos seus sentimentos. Por isso, quando descobriu sobre todo o abuso que o adolescente sofreu, não hesitou em tomá-lo para si internamente, nomeando-o como seu. Como amigo ou amante, comprometeu-se a apoiá-lo como pudesse. Isso serviria como seu bote salva-vidas, seu motivo principal para continuar vivendo. Uma injeção de ânimos.

A Sra. Davies estava contente por encontrar outra pessoa dedicada a ser pilar na vida do sobrinho-neto, já que este nunca pôde ter amigos ou o mínimo resquício de uma relação saudável. A mulher foi uma companhia constante e silente, acompanhando-os de vez em quando durante as tardes frescas, onde o chá de jasmim era perfeito com biscoitos de polvilho.

Damian era o epicentro da luta diária dos dois, que tinham uma coisa em comum: a perda traumática de um ente querido. James perdeu a família, Emma perdeu seu marido e sem filhos, esteve solitária e só não se entregou ao câncer, porque seus irmãos lutaram por ela. Emma também incentivou James a procurar o apoio psicológico do centro e após uma conversa franca com Cristopher — que resultou em muito choro e pedidos de desculpas sem sentido —, conseguiu um horário semanal estável com uma das psicólogas da clínica. Aos pouquinhos, James organizava um espaço dentro do seu eu fragmentado para Damian, assim como preparava a si mesmo para o que viesse dessa decisão, afinal, assim como ansiava por um final feliz, sabia que possuía um pé na tragédia, então tentava não se iludir demais.

— ... e nosso cachorro, Thor, pulou em cima dele, derrubando tudo — a voz de Damian era como um cântico no fim da tarde, embriagando os sentidos de James e fazendo-o perder-se em pensamentos. Estavam sentados juntos nos jardins, o loiro, já com os dois braços bons, gesticulava bastante enquanto falava algo que o moreno não prestava atenção alguma, pois estava concentrado demais deleitando-se no tom suave da voz alheia. — O homem ficou muito irritado e ameaçou nos processar, então comecei a rir porque imaginei a gente levando o Thor para um tribunal para responder... Você não está prestando atenção!

Piscou algumas vezes, percebendo que estava vidrado nos movimentos dos lábios cheinhos, tentando situar-se novamente na conversa.

— Claro que estou — murmurou devagar, arrumando a postura. — Está falando sobre deuses nórdicos, Thor e alguma coisa sobre tribunais...?

Damian construiu uma expressão indignada, praticamente inflando as bochechas.

— Thor é o meu cachorro! Não um...!

— Estou com uma enorme vontade de te beijar agora — disse de repente, interrompendo a birra que viria dali. Damian odiava ser ignorado. E bem, não era mentira. Passou os últimos dez minutos encarando a boca do menino por um motivo. — Você estava comendo bolo de chocolate, por que não me deixa provar um pouquinho dos seus lábios?

Totalmente desconcertado, Damian perdeu a linha de pensamento enquanto as bochechas ficavam ligeiramente rosadas. Desviou o olhar por um momento, encarando o entardecer banhando a flora do jardim, criando silhuetas que precediam o anoitecer. A imagem dos fios dourados ondulando levemente com a brisa naquele cenário fez James perder o ar por um segundo. Se fosse um poeta, escreveria uma peça inteira para o mais novo, declamaria para ele quando estivessem a sós e se certificaria de torná-la eterna. Mas ele não o era; James era um pássaro de asas quebradas e ainda assim, desejava encher Damian de amor.

Todo o amor que lhe foi tirado tão violentamente.

James não sabia se referia-se ao loiro ou a si mesmo.

— Não é tão bom — o adolescente titubeou um pouco, um bom tempo depois, ainda sem olhar para o outro jovem. — O sabor, eu quero dizer. Não é tão bom quanto o do próprio chocolate.

Jamie riu.

— Não seja tolo. Nada é tão doce quanto você.

Desta vez, antes que mais palavras pudessem ser ditas, tomou-o pelo queixo gentilmente e o virou de frente para si, deixando um beijo molhado em seus lábios. Marcando-o, provando-o e tomando tudo que podia antes que o conto de fadas começasse a ruir.

Perdido em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora