Capítulo 1- Part.2

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        Um espirro forte ecoou no quarto empoeirado

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        Um espirro forte ecoou no quarto empoeirado. Estava sentado na cama, observando a madeira antiga do chão. Tinha conseguido me hospedar em uma estalagem mal cuidada, que por sorte, ou não, tinha vagas.

          A revolta pela super lotação da cidade naquele ponto da estação, alfinetava minha mente com algo muito semelhante ao rancor, porem razoavelmente mais brando.

          Enquanto fuçava a bolsa de viagem, reagrupava de cabeça as poucas informações úteis que tinha conseguido reunir em três semanas. A parte complicada de ser mandado para procurar alguém desconhecido, era fazer as pessoas darem informações confiáveis sem ter como checar.

          Ignis, ou melhor, o que sobrou da grande cidade depois da guerra, contra qualquer expectativa, tinha feito um trabalho primoroso escondendo seu tesouro.

         Todos com quem tinha conseguido falar, pareciam saber exatamente como despistar os curiosos. Os bêbados nas tabernas se recusavam a abrir a boca com desconhecidos, e os comerciantes, assim como as pessoas-de-vida-fácil, cobravam fortunas pela informação de ouro. A semelhança física dos ignianos também cumpria sua parte de tornar qualquer descrição obsoleta.

          A desmotivação pesava nos ombros quando sai da estalagem para mais uma varredura. A pousada ficava de frente para a praça da cidade que, com seu belo chafariz, se tornava uma vista bastante agradável. Por mais que tentasse, lidar com a falta de recursos estava se tornando difícil. Também pelo fato de não saber se procurava uma mulher ou homem.

          Estava andando a esmo em volta da fonte, procurando algo na multidão, quando um som ritmado ficou em evidencia. Não houve tempo para desviar da figura que corria a toda a velocidade em minha direção. O impacto, comparável a um coice, me empurrou para o lado com força suficiente para me fazer perder o ar ao cair. No chão, ainda desnorteado, percebi que a pessoa continuava correndo. Levantei depressa e, no calor do momento, achei por certo seguir o desconhecido.

          O arrependimento não demorou a me alcançar. Tinha continuado a perseguição por entre as casas, sempre perdendo a figura com roupas surradas, e encontrando-a nas esquinas.

          Mal havia adentrado a floresta e percebi o erro terrível que tinha cometido. O suposto igniano era bem mais rápido no terreno arborizado do que tinha esperado. Por mais que tentasse acompanhar seu ritmo, ficou claro que não conseguiria quando perdi completamente de vista os cabelos castanhos no meio das arvores.

          Estava inconformado demais, simplesmente voltar para aquele quarto cheirando a roupas guardadas estava fora de questão. Continuei andando, decido a encontrar o rastro. Uma brisa temperada com cheiro de chuva e folhas encheu meus pulmões quando dei de cara com um campo aberto.

          O desconhecido estava lá, bem no meio do terreno. Escondi-me atrás de uma árvore de tronco espesso e observei. O indivíduo agia de forma débil, acariciando a grama acidentada e queimada enquanto os braços sangram deliberadamente.

           Uma garoa começou e com ela veio a tona um cheiro muito doce. Procurei em volta a fonte e um sobressalto me fez recuar.

          Pequenas e enigmáticas flores, de um azul arroxeado, brotavam de uma planta que se enrolava no tronco da arvore que eu tinha me agarrado. Uma forte dormência começou a se espalhar pelo braço esquerdo em direção ao restante do corpo. Enquanto tentava limpar a flor esmagada da palma da mão, minha atenção foi puxada para o descampado.

          Homens armado invadiam a campina. Algo era arrastado por um deles mas a distancia deixou a identificação impossível. Por um breve momento passou pela minha mente ir lá e fazer algo, mas um sentimento frio de puro terror afastou a ideia quando eu vi o igniano de pé.

          Minha visão começou a ficar debilitada ao mesmo tempo em que as minhas pernas cederam de forma repentina enquanto uma carnificina acontecia no terreno. Quando as coisas começaram a ficar escuras foi então que o igniano se aproximou, e eu pude enfim ver seu rosto e a tinta escura que pingava dos fios curtos do cabelo.

          Parada na chuva, suja de sangue, completamente cercada de prata e coroada de vermelho , estava a mulher mais bonita que já tinha visto. E eu apaguei sob o brilho ofuscante daqueles olhos dourados, sentindo seus braços me envolverem.

Vermelho e Branco. ( Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora