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''And oh, I'm so annoyed, 'cause I just killed off what was left of the optimist in me...''


A primeira gota do pó colorido escorreu em forma líquida pela face branquinha de Jeongguk perto do quarto período de aula; era quarta-feira, e por algum motivo ele achava que deveria usar rosa nas quartas. Portanto, o fazia — dos pés à cabeça, o cabelo preto contrastando com a camiseta rosa-bebê, coberta por um macacão jeans, e então os tênis brancos onde havia assinado o próprio nome depois de colorir com canetinha corações e parte de uma letra de música que gostava. Nos olhos, a sombra colorida que havia pego emprestado dos artigos de maquiagens que eram da mãe, um esfumado bonito, além dos cílios devidamente alongados e do glitter que contornava parte do seu rosto.

E mesmo com a aparência fabulosa, Jeongguk sentia-se mal. Primeiro por ter sentido olhares atravessando suas costas desde o momento em que iniciou aquele novo dia escolar, segurando seus livros com um dos braços e agarrando seu melhor amigo, Jung Hoseok, com o outro. Depois, porque tais olhares geraram confusão em sua mente (tinha certeza que existia uma porcentagem quase inimaginável de desejo em todos eles, ainda que alguns fossem de asco até raiva) e, por fim, sentia-se mal por ter ido tirar satisfação com um dos colegas que, aparentemente, fez com que um burburinho fosse criado no momento em que chamou o Jeon de algo que nem mesmo o moreno sabia o que tinha sido — apenas soube o que o grandioso caminho da fofoca pôde lhe contar: era sobre si, e era ruim. Ruim a ponto de receber um cuspe no rosto no momento em que incitou conversa com o garoto. E depois ter dado um tapa no rosto do mesmo, afinal, ele havia borrado a sua maquiagem.

A sua maquiagem perfeita. De qualquer jeito, terminou o trabalho que o babaca do Seojoon começou quando foi mandado, aos berros pelo coordenador, que andasse reto em rumo a diretoria. Ali mesmo, no corredor, já de costas para os demais, precisou do auxílio da manga da camiseta para secar as lágrimas finais que caíram. Odiava ser violento, e não saber responder às provocações baratas que ouvia, e o pior é que saberia onde tudo aquilo terminaria.

— Jeongguk, o diretor Choi não pôde ter sua presença na sala de reunião, mas mandou lhe avisar que ditou uma semana só. Uma semana de detenção; sem castigo, apenas três horas fora do currículo escolar na sala da coordenação, que o senhor já conhece muito bem.

Suspirou pesado, soltando os ombros que estavam rígidos, praticamente declarando derrota — mais uma vez, tudo que havia feito era defender-se contra um primeiro ataque, e lá estava ele de novo: com ordem de detenção. Resgatou a mochila antes atirada no meio de seus pés e apoiou uma das alças no ombro direito, passando pela secretária do diretor Choi e acenando com a cabeça, em um agradecimento silencioso por ela ter mandado o recado. Continuou seu caminho para fora da sala, ainda sentindo o corpo funcionar em modo automático, já que vontade de chegar ao seu pai e dizer-lhe sobre o castigo-passivo-agressivo que novamente enfeitava seu currículo, ele não tinha alguma.

Topou com Hoseok no corredor e, puxando-lhe pelo braço, decidiram não fazer parte da próxima aula, e sim aproveitar o restante do período na cafeteria da escola, dividindo um milkshake de morango (e a conta também!), além de fazerem planos para final de semana que viria dali alguns dias.

Quase que ultrapassando toda paleta de cores do arco-íris, finalmente de encontro com o lado monocromático dos anos noventa que escondia-se por entre playlists de rock e sentimento de luto pela morte de Kurt Cobain, Kim Taehyung: confortavelmente sentado na cadeira de couro que o diretor mantinha em frente à sua mesa, as pernas afastadas e um olhar entediado. Ainda fervia em ódio pelo que havia passado momentos antes, mas não é como se pudesse demonstrar ao senhor Choi que, se possível, sairia dali em passos largos e acertaria o Park quantas outras milhares de vezes fossem necessárias, até que ele retirasse cada única palavra nojenta que disparou contra os ouvidos de todos da turma momentos antes.

Rose Colored BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora