capítulo único.

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— 911, qual a sua emergência?


— a-alô... — segurou o celular com dificuldade entre os dedos trêmulos. — acho que não... que não vou aguentar. quanto mais eu fico com ele, mais eu morro...


— senhora, precisamos que se acalme. qual a sua emergência? — ouviu a atendente, mas não lhe deu atenção.


— como um sádico, sabe? acho que ele gosta de ver a dor nos meus olhos. — soluçou, se sentando no sofá de capa abarrotada. — ele sabe que eu sou doente por ele, então ele me beijou e disse que tudo iria ficar bem. — riu, completamente chapada de antidepressivos. — nós dois sabíamos que era mentira, mas ele disse olhando nos meus olhos...


doutores do outro lado da linha, porque ele não voltou pra casa hoje. a última pílula já havia sido tomada.


— e-eu preciso de alguém. ele brinca comigo como animal crossing, mas eu não to gostando!


— senhora...


— eu preciso perder ele pra continuar sã? preciso de algo para aliviar a minha dor!


gritou, logo após começando a sussurrar.

— estou ouvindo vozes, acho que elas vieram me matar! — então outro grito. — VAMOS TOMAR CHÁ E NOS DROGAR!


— preciso que rastreiem essa ligação o mais rápido o possível, é urgente! — ouviu uma movimentação do outro lado da linha enquanto tirava a cocaína detrás do quadro e arrumava as carreiras na mesa de centro. — senhora, ainda está me ouvindo?


— você deve achar que eu sou louca, mas ele também acha, então somos três! ou dois? — riu, confusa, aspirando a primeira linha branca, ajeitando o celular na orelha.


— a polícia já está a caminho, senhora, aguente firme, por favor. não faça nada que lhe prejudique, por favor.


— ele sempre disse que a última coisa que eu veria seria ele, então porque ele não voltou pra casa?


cheirou as duas últimas carreiras e caminhou até o quarto do casal, se abaixando para alcançar a última gaveta e engatilhando a arma carregada que o marido deixava ali, encaixando em sua orelha como um fone de ouvido


— moça, pelo amor de Deus, o que foi isso?


ouviu as sirenes da polícia se aproximando e sorriu.


— eles não vão me pega-aaar.


cantarolou, chapada, e jogando o celular na parede.


ouviu-se um estouro, e depois a calmaria. tudo ficaria bem.


FIM.



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