Capitulo 1 - Dia frio

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 Existem algumas coisas que não se pode mudar, o passado é uma delas. Quando você comete um erro, em alguns casos, ainda há uma chance de reparo,mas em outros não existe essa possibilidade. Quando corro não existem erros, preocupações ou o passado, tudo o que existe é agora e por isso o faço todos os dias no mesmo horário. 

São 05:00 da manhã e em um domingo com temperatura de 5º C já era de se esperar que eu fosse a única pessoa na rua. Sinto meus pulmões arderem com o ar frio, porém eu amo esse clima de inverno. Decidi deixar meus fones de ouvido em casa,pois eles me deixam mais vulnerável, tudo o que ouço é o som dos meus pés no asfalto molhado.

Continuo correndo mesmo com a rua coberta com a neblina. Essa paz de espirito é o que necessito. Preciso me desligar de tudo por pelo menos alguns quilômetros diários, a unica maneira que encontrei de lidar com a vida, não se pode trabalhar infiltrado para uma agência inteligência governamental e sair sem alguns  problemas. A vida é mais complicada do que pensamos.  

Volto para o prédio onde moro, olho no relógio e são 07:40. O porteiro, Seu Manoel, está sentado atrás da mesa da recepção segurando seu jornal, provavelmente lendo sobre a situação do seu time, como ele diz essa é a unica parte do jornal que importa, as noticias sobre acidentes ou brigas são desperdício de sanidade. Ao me ver ele sorri e se levanta. Abre a porta, já sei o que ele vai dizer "você deve estar feliz hoje com o frio" , para meu azar ele não o diz. 

- Senhorita Blanco, um homem esteve aqui agora a pouco a procurando, eu disse que a senhorita não estava e ele disse que provavelmente você não estaria mesmo e quando perguntei seu nome ele não me disse e apenas falou que não era necessário que você saberia quem ele é.

- Como ele era? - pergunto já temendo a resposta

- Ele era alto, cabelo claro e tinha uma cicatriz no perto do olho.

Nesse momento senti meus ossos gelarem, não podia acreditar que ele me tivesse me achado. Senti vontade de vomitar, tudo ao meu redor não parecia ser real. Otávio fazia tudo que o irmão, Eric, mandava e se ele esteve ali, minha vida já estava em perigo. 

Minha cara não podia estar das melhores, vi o rosto preocupado do porteiro quando minhas pernas bambearam. Nesse momento minha vizinha de apartamento a Sra. Machado apareceu descendo no hall de entrada, todo domingo ela ia a padaria nesse horário. E ao bater seus olhos em mim ela fica completamente assustada.

- O que houve Helena? - Ela me pergunta

Tento entender o que ela e seu Manoel falam, porém nesse momento minha mente está a mil por hora. Balbuciando um "estou bem" caminho em direção ao elevador e subo para meu apartamento.

As portas do elevador se abrem no 13º andar. Vou até a porta do numero 131, coloco a chave na fechadura e giro destrancando a porta, caminho com cautela analisando o ambiente. Percebo que nada foi levado, tudo parece estar onde deixei, mas ao baixar meus olhos para o chão, no lugar do tapete da sala, vejo um liquido vermelho.

Eu me agacho e logo sinto o cheiro de sangue. Meu estomago revira, me levanto e corro para o banheiro, me ajoelho em frente ao vaso e jogo pra fora tudo o que estava no meu estômago.

Me assento ao lado da privada, "como eles me acharam?", "o que eles querem comigo?" é tudo em que consigo pensar, minha mente gira. tentando manter a calma eu respiro profundamente, começo a reorganizar os pensamentos. 

Eles me acharam e aquela poça na minha sala era um sinal, estavam com alguém que amo, reunindo forças me levanto e vou até meu quarto e chamo por Steve, novamente uma onda de desespero me atinge quando não o acho no apartamento.

Meu celular toca e mesmo com medo de atender eu atendo.

- Como está Helena?

Eu reconheço essa voz de imediato, um calafrio percorre minha espinha, era ele. 

- De quem é o sangue no meu apartamento? - Pergunto com uma voz firme, mantendo o auto controle. 

- Direta ao ponto, como sempre. Já achou o Steve?

- O que você fez com ele?

- Ainda nada, mas você está preocupada apenas com seu cachorro? Há quanto tempo você não fala com seu sobrinho?

Meu silencio me entrega, não consigo formular frase alguma e ele percebendo essa falha continua. 

- Helena, Helena – diz sorrindo – Acho que você deveria ligar para a Ana e perguntar  sobre Thiago. E nem preciso dizer, que chamar seus amigos da policia não vai ajudar muito. Boa sorte em me encontrar, e caso você consiga, estarei esperando.

A ligação se encerra. Caio ao chão e começo a chorar, eles pegaram meu sobrinho e meu cachorro e provavelmente a essa hora devem estar mortos. 


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