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📍 Granada, Espanha 

    Desde cedo era possível ouvir som de orquestra que tocava do lado de fora da porta, os passos apressados daqueles que passavam pelo corredor e as vozes baixas dos que ficavam de prontidão na minha porta. Eu permanecia no mesmo lugar, sentada naquela janela vendo as pessoas andando de um lado para o outro como se fossem formigas à procura de sustento, talvez seja isso o que tanto fazem.

    Carmen entrara no meu quarto junto com mais três, cada uma trazendo algo para o meu cabelo ou minhas vestes na intenção de ao menos me fazer trocar aquela camisola, essa sendo a única que me trazia o conforto sem apertar as feridas. Conversavam num tom pouco audível sobre a preparação do Baile, como todos estavam curiosos para me verem ou como o Rei estava ansioso para me apresentar ao meu prometido... enquanto eu estava ali tendo a vaga sensação que que algo está completamente fora do meu eixo, fora de mim.

     Meu eixo... esse que nem sei mais o que é de fato, esse que não sei se são coisas apenas inventadas da minha mente ou se realmente aconteceram. Não me lembro de como ganhei cada uma daquelas cicatrizes, muito menos de quando acordo ou durmo, não sei dizer se aqueles olhos verdes medonhos estavam de fato comigo durante a noite ou foi só um pesadelo do qual quero completamente esquecer, aquelas mãos realmente me tocavam de um jeito totalmente obsessivo ou era só um pesadelo real demais que eu chegava a senti-lo?

Estava parada em frente ao espelho observando meus cabelos escuros caindo sobre o tecido claro da camisola, mas o destaque disso tudo era com certeza o colar e a pulseira que eu usava, esses que a única que cuidava de mim não permitia que retirassem por nada. O pequeno papel que tinha naquele pingente de carta me trazia um conforto na hora que o choro me dominava.

"Se doer muito olhar para trás e você estiver com medo de olhar para frente, basta olhar ao seu lado e eu estarei lá".

    Me trazia a sensação de que alguém nesse castelo gigante ou até mesmo fora dele estava ali por mim, por algo que eu queria... ou até nós, mesmo que eu não soubesse quem.

    – Princesa... se sente mais disposta depois do ocorrido de mais cedo? - Sinto o toque de Carmen em meu ombro, o único que me relaxava como uma criança no colo de uma avó.

    Eu nunca estava disposta, mas pelo visto o que aconteceu hoje foi realmente real. Um dos milhares de monstros que me cercavam aqui dentro havia entrado no quarto e tentava a todo custo ter uma parte de mim... como todos outros, mas então aquele garoto entrou e tirou o monstro dos olhos escuros de cima de mim, tirou a vida daquele diante de todos no quarto e foi arrastado para fora como o errado da história. Se um dia eu encontrá-lo espero poder agradecer.

     – Estou... só atordoada como sempre - mexo o canto dos meus lábios tentando fazer um mínimo esforço para um sorriso aparecer.

     Foi questão de segundos para os gritos, as coisas irem ao chão e as pessoas que circulam por fora desse quarto ficarem tão atordoadas como eu. O Rei gritava para todos os quatro cantos desse país escutar, sua fúria era sentida daqui do quarto ao lado, de onde é possivelmente seu escritório.

"AQUELA VADIA BASTARDA!"

    Eu sabia que era da minha pessoa que ele estava falando, era assim que me chamava toda vez que nos encontrávamos, só de ouvir o timbre da sua voz já me fazia começar a tremer. As criadas perceberam minha reação e levaram-me até o banheiro tirando aquele fino tecido para me banhar. Aquele era o método de distração delas, cantavam ou conversavam enquanto lavavam meu cabelo, o banheiro era o lugar que menos se dava pra ouvir ou ver o terror que era aquele castelo.

Andrômeda  ⋰˚☆Onde histórias criam vida. Descubra agora