Meu nome é Adam. Astrônomo, físico e lógico.Porém, apaixonado por Ava. Química, bióloga e linda. Eu estava, enfim,preparado para a proposta, mas, hoje o sol não apareceu.
Nosso país foi o último a se importar com o eminente colapso solar. Por isso, aderimos tardiamente ao projeto "Arca de Noé". Causando uma caótica fuga em massa para os países mais desenvolvidos que possuíam meios de transporte já homologados e prontos para partir.
O projeto consistia na construção de astronaves capazes de dar seguimento a aventura humana fora da Terra, levando tudo que fosse possível: vegetal, animal, cultura, minerais, informação, música. O destino seria o suposto planeta equivalente a Terra, TOI 700 d.
A dois meses atrás, a China enviou sua primeira astronave da missão Arca de Noé. O lançamento foi um sucesso. O meu país esperou até o último momento para autorizar a construção. Eu e Ava fazemos parte da equipe.
Nossa astronave é menor e comos constantes desvios de verba, a capacidade total foi reduzida drasticamente. Portanto,ela foi destinada, prioritariamente, ao governante da nação. E isso, eu nãoachei justo. Eu não deixaria que Ava morresse junto com a Terra.
— Corre Ava! Mais rápido! Iniciei a sequência de lançamento a trinta minutos atrás!
A estação de lançamento estava praticamente vazia. Ninguém em sã consciência ficaria esperando o presidente zarpar para a salvação enquanto o restante queimava com o resto do mundo. Apesar de que, eu não sei se existe sã consciência em um momento como este.
— Estou logo atrás de você Adam!
Não era fácil correr com os trajes de astronauta. Mas tínhamos que chegar à cabine o mais rápido possível. Como nós, outros talvez pudessem ter tido a mesma ideia.
Atravessamos a ponte de conexão. DEZ. Ava tropeçou nos cabos de força e caiu. NOVE. Eu a ajudei a se levantar e voltamos a correr. OITO. Chegamos à câmara de checagem. SETE. Meu cartão não passou no painel, deve ter sido danificado. SEIS. O cartão de Ava funcionou e entramos. CINCO. Abrimos a escotilha e chegamos na cabine. QUATRO. Ava selou a escotilha, eu iniciei o contato nos controles. TRÊS. Ajudei Ava a se fixar no acento e logo fui para o meu. DOIS. Lá embaixo, o veículo do presidente acabara de chegar. UM. Seguramos firme. ZERO.
A astronave ganhou velocidade rapidamente, aplicando a força G em nossos corpos. Não posso negar meu medo imediato, porém, no contraponto, estava minha alegria por voar na última astronave com aquela que amo, minha pequena Ava.
Não sei precisar quanto tempo levamos para sair da órbita da Terra nem quantos milhões de pessoas não conseguiram escapar.
Saímos do engate dos acentos e flutuamos pela cabine. No primeiro momento a sensação era estranha, mas, logo tornou-se divertida. Nada melhor do que a prática da teoria.
O toque dos lábios de Ava nos meus foi a sensação mais sublime desde a tensão da fuga da Terra. Enquanto nos beijávamos, atrás de nós, a terra tornava-se gradativamente um ponto alaranjado no espaço. Para nós aquele foi o marco final da odisseia terrestre.
Um flash vindo dos painéis nos interrompeu. Lá vimos que haviam várias falhas que estavam ocorrendo em cadeia. Seria um destino catastrófico se tivéssemos nos distraído um pouco mais. Então, acionamos os controles antiatômicos e deixamos a astronave à deriva até que pudéssemos consertar tudo.
— Os danos são contornáveis. Devemos terminar em umas três horas.
— Os circuitos podem ser contornáveis, mas temos um problema maior, Adam. — disse Ava com uma expressão tensa no rosto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
AVA - Pelo espaço de um instante
Science-FictionEste texto é o resultado de um exercício criativo, onde utilizei a letra de uma música popular brasileira para desenvolver uma narrativa um pouco mais elaborada.