Lua Cheia

I - A despedida

Em toda minha existência, nunca achei que haveria uma criatura mais avassaladora que minha espécie. Talvez, se existe de fato um Deus, ele provavelmente estaria a zombar de minha face agora. A criatura mais poderosa do planeta apaixonado por uma humana.

Cada personagem histórico, vilão ou herói, protagonista ou antagonista, têm suas fraquezas. Sansão e seus cabelos. Aquiles e seu calcanhar. Enquanto a mim - o vampiro centenário Edward Cullen, imortal e duro feito mármore- tinha uma frágil humana: Bella Swan.

Ela não era uma ameaça a minha vida, mas eu ameaçava a dela, por isso precisei deixar Forks. Ainda que me doesse, eu tinha que fazer o que era justo: não seguir minhas vontades egoístas. Porque se dependesse apenas da minha vontade, nunca a teria deixado.

Enquanto dirigia meu volvo rapidamente para fora da cidade, não conseguia parar de relembrar como foi a nossa despedida.

Precisava reviver cada palavra, qualquer feição, mesmo que de dor. Aquele foi nosso último momento e contato. Era tudo que eu tinha, tudo que me restava. Eu teria que me contentar apenas com minhas memórias agora.

A sensação física era como se cada parte do meu corpo fosse dilacerado e deixado em cada estrada e caminho de Forks.

Minhas mãos pressionaram o volante do carro fortemente, de modo que precisei me controlar para não quebrá-lo. À medida que eu pensava no que aconteceu, mais eu aumentava a velocidade do carro. Como se fosse eficaz a suposição que eu criara em minha mente: " quanto mais afastado daquela cidade eu pudesse ficar,mais a dor se afastaria. " Porém, eu sentia as sementes de romã deixadas para trás, a cada quilômetro percorrido. E realmente esperava que elas não dessem frutos.

- Venha caminhar comigo - pedi a Bella em um tom seco, em seguida pegando sua mão.
Não conseguia ler a sua mente, mas tinha certeza que vi estranheza em seus olhos castanhos.

A conduzi pela floresta à oeste do quintal de sua casa. Em apenas poucos passos para dentro de todo aquele espaço verde, achei o lugar ideal para fazer o que tinha ser feito. Provavelmente aquele foi o último momento em que peguei sua mão.

- Tudo bem, vamos conversar - ela disse, até meio determinada.

Eu respirei fundo, sabendo que não podia voltar atrás a partir daquele momento:

- Bella, nós estamos indo embora.

Foi sua vez de inspirar profundamente o oxigênio.

- Por que agora? Não pode ser outro ano?

- Bella, está na hora. Quanto tempo mais poderíamos ficar em Forks, afinal? Carlisle mal pode fingir que tem trinta anos e agora ele já está dizendo que tem trinta e três.Nós vamos ter que recomeçar tudo de novo em breve, de qualquer jeito.

Seu rosto branco era uma mistura de confusão e incerteza. Ela me olhou esperando uma confirmação do que eu queria dizer com: " nós". Ainda perdida, ela sugeriu, em sussurro:

- Quando você diz nós....

- Eu estou falando de minha família e de mim mesmo. - reforcei de modo plausível as palavras "minha" e "mim", para que ela conclui-se o que eu queria dizer.

Bella balançou sua cabeça de um jeito estranho, como se estivesse absorvendo tudo que eu estava transmitindo.

Alguns minutos depois, ela respondeu:

- Tudo bem, eu vou com vocês.

- Você não pode, Bella. O lugar pra onde estamos indo... não é o lugar certo pra você. - precisei unir todas as minhas forças para guiar a conversa para um patamar mais frio.