Monstruosidades tomavam o mundo dos homens. Eram tão asquerosas e amedrontadoras que penderam para o indescritível. São famintas por carne, desde a mais dura carne de búfalo até a mais macia carne de bebês. Derramam sangue onde quer que vão, fazendo os humanos se amargurarem pela morte de seus entes queridos e a destruição de suas casas.
Os ataques daquelas coisas se tornaram constantes nos últimos seis anos. A partir desse momento, as pessoas, fugindo da praga, foram pouco a pouco se refugiando mais para sul, indo ao lado oposto a o que as coisas vieram. Do norte.
A Terra das Gaivotas, o país no extremo sul da península, estava ficando superlotado. Com pessoas caridosas dando abrigo aos fugitivos das coisas, e o número de mendigos aumentando junto ao número de orfanatos. Canopus ficava em um desses orfanatos, um infelizmente muito para o norte. Orfanato do Padre Bartolomeu Rúbio para Cristãos.
E foi com esse orfanato que Canopus sonhou, ele e com as coisas.
Agora a garotinha estava despertando.
Seu primeiro pensamento foi exatamente esse: estou viva. O que lhe rendeu um fiasco de felicidade.
Quando abriu os olhos ela foi encharcada de surpresa. Não estava jogada no chão onde havia desmaiado de cansaço e fome, mas sim em uma cama confortável, com o corpo sob lençóis mornos.
Dentro de um quarto.
Canopus levantou de uma vez, uma tontura passando por sua cabeça. Estava morrendo de fome, chega seu estômago latejava. Notou suas roupas, um vestido simples de cor azul, sem dúvida a veste mais adorável que já vestira em toda a sua vida.
Pondo os pés no tapete fofinho, a menina olhou ao redor com certa hesitação. Presa em um medo absurdo de que as coisas iriam invadir o quarto e pôr fim em sua curta existência.
Respirando fundo, Canopus endireitou a coluna para se dar dignidade e foi até a janela. As pernas fracas e trêmulas. Lá em baixo havia um grandioso pátio todo coberto de grama, menos no caminho em que carruagens e cavalos costumavam passar. E um portão mais ao fundo, baixo e de madeira. Um homem moço andava de lá para cá sobre um cavalo de pelagem escura, parecia se divertir.
E como se sentisse olhos sobre ele o moço ergueu a cabeça.
Tendo um breve ataque no coração, Canopus recuou, se afastando da janela.
Sua mente raciocinou: as coisas não chegaram até aqui. Não teriam um portão tão pequeno se se preocupassem com elas. E aquele homem também não estaria assim tão descontraído.
Imaginou com esperança que ali fosse um lugar seguro para viver, que, de algum modo extraordinário, Canopus tenha ido para o sul invés do norte.
Suas suposições foram interrompidas por um chiado. Um chiado que vinha do movimento da porta.
Rápida como uma raio a menina se esgueirou para trás do armário e vigiou.
Ouviu passos e logo avistou uma mulher gorducha, vestida de verde. Ela deu uns tapinhas na cômoda como se não acreditasse que Canopus não estivesse realmente ali.
- Eita... - A mulher balbuciou, preocupada. - Menina? Está aí no banho? Não precisa ter medo, eu não sou má.
Como se sua bondade pudesse ser comprovada por meras palavras.
Canopus aproveitou que a mulher estava de costas e saiu do aposento. Seu coração batia contra suas costelas, um estranho medo em seu íntimo. Um medo irracional! Aquela mulher a ajudara. Por que bulhufas estava fugindo?

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O Reino de Fogo
ФэнтезиMonstruosidades tomavam o mundo dos homens. Invadiam suas cidades, tomavam seus lares e se alimentavam de seus parentes. Se sabia nada sobre elas, apenas que vieram do norte com uma fome enorme. Canopus infelizmente teve seu lar tomado por tais fera...