Lua de sangue
Que escorre seus filetes por entre os grilhões
De corpo, alma, pensamento
O homem frágil, engaiolado em sua negritude
Preenche a noite com os lamentos surdos
Que escorrem pela garganta da sua alma.
A dança, o embalo, o rodopiar da saia da mulata
O canto, o giro, a roda
As raízes entranhadas no peito,
Morrendo-se com o derreter
Dos ponteiros do relógio
Numa sociedade branca
Rastejando em sua imundície
De preconceitos
O negro
Largado no chão da indiferença, sendo pisoteado pelos homens da lei
A lei que o condena, sufoca
Por algo que
Não pôde escolher.
Pelos becos imundos, sem um lar o qual se apegar
Um amor para construir
Rejeitado pelo mundo
Ele ganha sua sina
E perde a sua alma.