Quando o telefone toca

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Ele permaneceu alguns minutos incrédulo assistindo aquela cena. Estava tentando se convencer que seus olhos não estavam o enganando. Ao abrir a porta, ele entrou em uma salinha pequena, úmida, mal iluminada e com cheiro de mofo. Ali, no centro dela, estava a velha. Ela estava contorcida no chão, os braços passando pelas pernas, a cabeça virada para trás, em uma posição que, em vias normais, quebraria vários ossos de qualquer pessoa. Ela rugia como se fosse um cachorro intimidando uma presa. Seus olhos estavam distantes, vermelhos, possuídos. Uma poça de um líquido preto estava se formando em volta dela. Era a cena mais aterrorizante que jamais vira em toda a sua vida.

Depois de alguns instantes congelado, tentando entender a situação, ela virou de costas e correu. Não se preocupou em procurar alguém da Igreja para mostrar aquilo. Não conseguia. Simplesmente correu o mais rápido que pode, para o mais distante possível daquele lugar. As imagens estavam cravadas em sua retina, e o rugido estranho, ecoava pelos seus ouvidos, como uma canção maldita que ele jamais poderia esquecer. Quando virou em uma praça, três quarteirões distante, ele parou. Se apoiou nos seus olhos e assistiu as gotas de suor caírem no chão. Estava exausto e assustado.

Quem era aquela velha? O que estava acontecendo com ela naquela salinha? Ela estava possuída por um demônio? Será que alguém da igreja a encontrara? Norman se recuperou, respirou fundo e continuou seu caminho. A noite já havia caído sobre a cidade. Ele caminhou por uma ruazinha mal iluminada do bairro e parou em uma padaria. Comprou comida para jantar e seguiu para casa.

Era inquietante pensar que a rua estava mais vazia do que de costume. Normalmente com alguns carros passando e pessoas transitando, naquela noite ela estava completamente deserta. Não pôde deixar de reparar também, que, inexplicavelmente, alguns postes de luz estavam queimados. Aquela noite parecia muito mais escura e solitária do que todas as outras. Ele parou em frente ao seu portão, puxou a chave, e entrou na casa.

Sentiu um grande calafrio quando parou na cozinha para deixar as compras. Não conseguia explicar por quê. Ele atravessou o corredor que corta sua casa, e entrou para o banho. Foi no momento em que o chuveiro já estava aberto, que ele começou a ouvir passos. Como se alguém tivesse acabado de entrar em sua casa. Ele fechou o registro e se concentrou para ver se ouvia mais alguma coisa. Depois de um tempo gritou:

- Quem está aí?

Ouviu novos passos, dessa vez mais fortes, andando pelo corredor. Norman se precipitou para fora do boxe, se vestiu rapidamente e foi até o corredor. Não havia ninguém. Quando considerou voltar para o banheiro, o telefone tocou no fim do corredor. Ele permaneceu parado ali, ouvindo o telefone tocar e murmurando para si:

- Eu não tenho telefone em casa.

Ele continuou olhando ao redor, e então partiu, calmamente, atrás do som do toque, tentando identificar onde estava o tal telefone. O som o conduziu até a cozinha, onde estava ali, ao lado das compras que acabara de deixar, um telefone antigo, tocando. Era marrom, daqueles que eram fabricados na década de 60. Ele andou devagar até o objeto, e o tirou do gancho.

- Quem é? – Falou com a voz trêmula.

Ele apenas pôde ouvir uma respiração do outro lado da linha. Mas ninguém falava nada. Então ele se descontrolou e começou a gritar:

- Eu não sei quem é você e nem o que quer comigo, mas por favor me deixe em paz. – Á medida que ele ia gritando no telefone, ele começou a perceber uma coisa estranha. – Eu sou só um cara normal, não queria ter visto o que vi na Igreja, me desculpe, eu nunca irei contar para ninguém.

Conforme ele ia falando, ia ficando cada vez mais aterrorizado. Ele percebeu algo que congelou seu corpo de medo. Sua voz estava ecoando na linha telefônica. Seja lá quem fosse do outro lado da linha, estava dentro da sua casa naquele momento.

A respiração ficou mais forte.

- Por favor... – Murmurou Norman. Então, em um reflexo, jogou o telefone longe e se virou para correr pela porta até a rua. Mas havia alguém bloqueando seu caminho. Parado bem em frente a porta estava a velha. Sem sangue, sem posições estranhas, sem rugir, com uma roupa branca e apenas com os olhos vermelhos.

- Olha, por favor, eu não sou uma ameaça, sou uma pessoa comum, não queria....

A velha começou a falar. Tinha uma voz grossa, demoníaca, como se alguém estivesse falando em frente ao ventilador.

- Você viu um de nós. Viu mais do que um ser humano pode ver. Passou da barreira do permitido. Eles não vão deixar isso barato.

- Eles quem? – Perguntou Norman relutante

- Eles – A velhinha apontou para trás de Norman. Quando ele se virou, viu bem ali, paradas em sua sala, pelo menos vinte criaturas demoníacas. Algumas muito piores e mais assustadoras do que a velhinha.

- Todo ser humano que entra em contato com o submundo deve ser eliminado. É a única forma de ser mantido o bem estar nessa Terra. Por isso que, em sua história, ninguém que teve contato com o paranormal está vivo até hoje para contar. É nosso trabalho eliminá-los. – A voz da velhinha saiu mais assustadora do que de costume.

Norman, por incrível que pareça, manteve a calma. Olhou para os mais de vinte demônios parados em sua sala, e depois voltou a encarar a velhinha bem ali na sua frente.

- Entendi – Ele olhou para o lado, para a janela da cozinha e disse em voz alta – Tudo bem, então venham me pegar.

Ele correu em direção a janela e saltou. O vidro se estilhaçou e ele caiu de uma altura de 3 metros. Depois, se levantou, e correu pela noite adentro.

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⏰ Última atualização: Aug 22, 2020 ⏰

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