3 - Simon

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"Dias de chuva são os melhores; Vazios, sozinhos e sem ninguém... Sombrios, do jeito que eu gosto."

~ Nathalia Lima.

A estrada era pouco a pouco molhada pelas gotas de chuva, inevitáveis e fracas, tornando o asfalto um verdadeiro sabão. O dia tinha começado bonito, digno de foto. Muitos saem para caminhar ao ar livre em dias assim, e com ele não era diferente. Gostava de andar com o sol radiante sob sua cabeça e o canto dos passarinhos como trilha sonora... Ás vezes, atracava-se dentre as árvores que formavam - de dia - uma linda floresta, sentindo o frescor da primavera adentrar e dominar os seus sentidos. Amava aquela estrada, pois, além de ser o caminho direto para casa, tinha todos os atributos que faziam-no acordar de manhã e sair para caminhar.

Infelizmente, naquele dia, o dia apenas começou bonito. Como dito, a estrada ficava cada vez mais molhada, e com ele não era diferente. O pobre homem tentava chegar logo em casa para não ficar mais molhado do que já estava. Gostava de dias de chuva, mas quando tinha como companheiros sua casa e uma caneca de café, não a floresta ficando extremamente sombria com o fim da tarde e a estrada que, sinceramente, parecia não ter fim. Esse era o mal das florestas... De dia, pela manhã, são lindas e irradiam a essência do natural. Agora, espere algumas horas depois do pôr-do-sol, e prepare-se para a mais assustadora das experiências.

Arrependimento, era tudo o que lhe vinha a cabeça... Pra que, dentre tantos dias, para que ter escolhido justo este para caminhar? E o pior, sem o celular. Procurou, futucou e, segundos depois de ter começado, amaldiçoou a si mesmo. Lembrou da cena do seu celular em cima da mesa, pedindo para ser levado junto. Ora, mas mesmo que detivesse o aparelho, que Uber em sã consciência aceitaria uma 'corrida' no meio do nada? "Droga. Além de tudo, vou chegar em casa molhado feito um pinto!".

Até que o silêncio constrangedor da floresta deu lugar ao reconfortante ruído do motor de um carro. "Graças a Deus, uma carona!", pensou antes de virar-se e começar a acenar quase que loucamente para o carro que vinha numa velocidade considerável. O carro parou, o vidro desceu. Dentro dele, um homem aparentemente simpático, porém muito nervoso. Não o julgou, afinal, o que esperar de alguém que, no meio de uma estrada cercada de arvores sinistras, pede carona? Sinceramente, ele não pararia, mas ficou feliz que aquele carro conteve-se. "Enfim, a hipocrisia", ponderou.

- Opa! Consegue me dar uma carona? - Pediu, ainda que apreensivo. O motorista, ajeitando a gravata, concordou sem nem ponderar quem ele colocaria dentro de seu carro.

O medo se fez presente; será que ele deveria entrar e aceitar que um desconhecido o levasse para casa? Antes que pudesse responder a si mesmo, um raio rasgou os céus, aumentando o volume de chuva consideravelmente.

- Olha moço, se quiser chegar em casa seco, é melhor entrar. - Disse simpático, convidando mais uma vez e convencendo de vez o carona.

Entrou no carro, se acomodou e tomou a liberdade e audácia de ligar o rádio. A melodia era doce, nem sequer combinava com o temporal que caia inconstante do lado de fora. Seguiram assim por um bom tempo, porém o nervosismo extremo do motorista assustava o coitado que só queria chegar em casa logo.

De vez em quando ajeitava a gravata azul marinho, quase batendo o carro. O terno preto quase amarrotado de tanto rebuliço, e a doce música tentando inútil acalmar a situação... Qualquer semelhança com os violinistas do Titanic seria mera coincidência.

Em uma curva, o rádio foi interrompido:

- Interrompemos a programação para um comunicado importante... - A voz quase estridente rasgava os dois pares de ouvidos, atentos ás notícias. - Foi confirmada a fuga de um dos pacientes do complexo psiquiátric-

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⏰ Última atualização: Feb 25, 2021 ⏰

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