2 - My neighbor

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Era uma noite fria e chuvosa... E os meus sapatos estavam molhados, de tantas poças d'água que a chuva formava sem dó. Nas mãos, carregava as sacolas que continham o que viria a ser o meu solitário jantar.

Todas as noites, desde que a minha filhinha foi para a faculdade, minha rotina é a mesma; Saio do trabalho, passo no mercado aqui perto de casa e volto para o que, um dia, já foi o cenário dos primeiros passinhos de minha filha.
Moro neste prédio a mais tempo do que consigo me lembrar, e desde sempre tive uma ótima relação com os meus vizinhos, e todos sempre se deram muito bem. Minha filha sempre teve muitos ciúmes das mulheres que alugavam periodicamente os apartamentos vagos... Era fofo. Fora isso, e as outras estripulias que ela sempre cometia, vivíamos em paz.

Adentro os portões do condomínio, acelerando o passo até o meu bloco, não queria dar de encontro com uma certa pessoa...

Fechei o guarda chuva e entrei, subindo as escadas do prédio, que são ao antigo estilo, em forma de espiral, então eu consigo ver as portas dos outros apartamentos até chegar no meu. Meu apartamento fica no 3⁰ andar, e logo acima tem um outro apê que tinha sido alugado a poucos meses... Antes continuasse vazio. Este novo vizinho é estranho, solitário, e nunca, desde que chegou aqui, fez questão de sequer conversar com qualquer um de nós (outros vizinhos). Sendo extremamente sincero, sinto medo desse cara. E olha que ele não está aqui nem a dois meses.

Caço as chaves, que se acham crianças e vivem se perdendo na Nárnia que são os meus bolsos... Um saco.
Ouvi os passos dele subindo a escada, eram sempre passos calmos, e isso me desespera de uma maneira surreal. Abri a porta, entrei para dentro sentindo o coração saltar pela boca e a fechei... Sabe, as vezes me sinto mal por ter tanta 'medo' de uma pessoa que nada fez para mim, mas... É mais forte que eu, as poucas vezes que eu vi ele, não consegui dormir direito... Aquele cara esconde alguma coisa, algo que sinceramente, eu nem quero saber.

.oOo.

Meus pés estavam mais frios do que um pedaço de gelo, e os montes de cobertores não ajudavam muito... Droga. Após o meu jantar, dirigi-me até meu quarto, tomei uma ducha, esquecendo em parte os problemas da minha vida. Vesti uma roupa mais confortável, o meu pijama, deitei-me e apaguei as luzes... Tentei dormir; em vão.

Nunca consegui dormir com os meus pés frios, mas eles não esquentavam de nenhuma forma... Eu e os meus problemas de temperatura corporal.
Plenas nove e meia da noite, e nada do meu sono dar as caras... Viro de lado na cama, encarando o vulto que chamo de teto. De repente, ouço batidas. Não na porta... Nem na janela, mas no teto... No teto que é o chão do meu vizinho de cima.

Três batidas curtas...

Três batidas longas...

Três batidas curtas...

Parou. Meu Deus me proteja, porque eu estou tremendo. Agora não é mais só o meu pé que está petrificado... Meu corpo todo está. Meu quarto estava escuro, e eu mal enxergava o teto, deixando tudo ainda mais num clima de filme de terror e...

Três batidas curtas...

Três batidas longas...

Três batidas curtas ...

Naquele momento, eu me desesperei... Sabe, nunca fui muito corajoso, a não ser na frente da minha filha, e qualquer coisinha me assusta muito. Senti a gota fria do suor escorrendo pela minha testa, irreprimível...
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As batidas continuaram noite adentro, fazendo o coitado tremer de medo, e sua cabeça ia a mil só de imaginar o que estaria por trás daquelas malditas colisões no seu teto... O desespero aumentava quando vinha ao seu conhecimento de que, as batidas vinham do homem que tanto o apavorava...
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Inversos: As histórias (in)contadasOnde histórias criam vida. Descubra agora