Capítulo único

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"Estou tão solitário

Eu sou o sr. Solitário

Eu não tenho ninguém

Só a mim mesmo

Estou tão solitário."

O trecho da música se repetiu pela décima vez, apenas naquela noite. Seguido de um grito agudo que dizia "Eu sou o Sr. Solitário, porra!". Jimin não estava nem aí se o seu vizinho era o "Senhor Solitário", ele logo se tornaria o "Senhor assassinado pelo próprio vizinho" se não desligasse aquela merda de música. O verso inicial se repetiu mais uma vez, para o desespero do homem de cabelos pretos que tentava abafar o barulho com um travesseiro. A voz se parecia com o Alvin de Alvin e os Esquilos, acompanhando de muito autotune.

E essa voz estava perseguindo Jimin, não importa onde ele esteja ou o que esteja fazendo. A voz aparece quando ele está tentando dormir, a melodia desafinada soa na sua mente quando ele está na academia, no trabalho e até quando ele está tentando transar com um estranho na balada — o "Estou tão solitário" estava sempre lá, impedindo que ele conseguisse fazer alguma coisa além de se sentir muito, muito irritado.

Não podia deixar de se questionar se o seu vizinho misterioso era louco por ligar o som naquele volume às 2 da manhã ou se ele simplesmente achava que não morava ninguém no andar de baixo daquele duplex — considerando que nem mesmo tinha descido para dar as boas vindas a Jimin no último mês, que só sabia que o seu vizinho era um homem por causa da voz desesperada que cantava a mesma música todas as noites.

Todas as noites. Durante 31 dias. Sete dias por semana, impedindo que Jimin tivesse uma noite de sono decente.

Não que Park Jimin odiasse o cantor Akon, ele até gostava da música que lhe dava uma sensação nostálgica; mas quando se ouvia a mesma coisa todas as noites, se tornava difícil não sentir o mais puro ranço pela música. Talvez o seu vizinho fosse realmente louco, foi o que pensou quando se sentou na cama, olhando para o relógio com um olhar triste; só sendo louco para preferir incomodar os outros ao invés de usar a porra de um fone de ouvido. Eles estavam em 2020, pelo amor de Deus!

Se levantou a contragosto, calçando os chinelos para se impedir de pisar no chão gelado da madrugada. Não tinha condições de ficar naquela situação por mais um segundo, não podia aparecer no trabalho com cara de zumbir outra vez. Trabalhava diretamente com os seus clientes — era dono de uma floricultura no centro de Seul — e não podia deixar a sua cara de zangado e mau humor afastar a freguesia.

Pegou o celular que estava jogado em uma cadeira marrom no canto do quarto, deixando um choramingo escapar quando viu o horário na tela, outra vez. Não importava quantas vezes encarasse, não entrava na sua cabeça que alguém poderia ser tão inconveniente ao ponto de ligar música naquela altura e de madrugada. Mas Jimin realmente era uma pessoa pacífica e era justamente por isso que ele estava discando o número do melhor amigo ao invés do da polícia.

Felizmente, para ele, Seokjin era uma pessoa noturna e que aproveitava a madrugada para ficar em sites de fofoca xeretando a vida dos famosos — como ele conseguia estar bonito no outro dia de manhã, ainda era um mistério para Jimin.

— Espero que seja importante, estava prestes a descobrir o motivo de uma traição. — Essa foi a recepção que Seokjin deu ao mais novo, assim que a chamada foi atendida.

Jimin apenas revirou os olhos, cansado demais para pensar em uma resposta inteligente.

— Você está ouvindo isso? — Lá estava o "Estou tão solitário", junto da voz desafinada do seu vizinho, gritando a pleno pulmões. Com aquela altura toda, não surpreenderia Jimin se a vizinhança inteira soubesse que ele era o "Sr. Solitário". — Essa porra de música já tocou tantas vezes que eu tô sentindo o meu cérebro derreter. Hyung, eu preciso de um lugar para dormir. Por favor, diga que o seu quarto de hóspedes está disponível para mim.

Sr. SolitárioOnde histórias criam vida. Descubra agora