☾ Capítulo 2 ☾

378 54 700
                                    

- Ainda não entendo o porquê de termos que ir para a escola - eu disse, terminando de colocar os cadernos em minha mochila. - Não é o mesmo ensino, não são matérias relevantes para nós e, sinceramente? Eu não vou usar absolutamente nada do que ensinarão lá. É uma perda de tempo!

- Já conversamos sobre isso, minha filha - minha mãe disse, com os braços cruzados. - Temos deveres aqui assim como temos lá. O que acha que dirão de nós se verem que você e James não estão na escola?

- Pelo o que eu saiba aqui não é necessariamente obrigatório ir para a escola a partir dos dezesseis, certo? - perguntei de forma genuína.

- Não, mas não podemos chamar atenção, lembra? É melhor assim, Lorraine, faça esse esforço - mamãe pediu.

- Eu juro que preferia o James me explicando a história do Mundo Abandonado toda de novo, mesmo eu já a sabendo de cor e salteado - eu disse, ajeitando minha bolsa em minhas costas.

Parei meus movimentos ao olhar para minha mãe. Seus olhos castanhos, da cor dos meus, mostravam o cansaço que ela tanto tentava esconder. Ultimamente podia-se ver alguns poucos fios brancos em seus cabelos castanhos causados pelo estresse, coisa que não deveria acontecer ainda por ela ter trinta e seis anos. Observei sua mão acariciar seu braço, sua pele escura como a minha. Eu era o retrato físico de minha mãe, sua cópia, como muitos que nos conheciam diziam quando nos viam juntas. Sabia que sua preocupação comigo a estava a envelhecendo gradativamente e sabia que eu era responsável por isso.

- Tudo bem - eu disse, rendendo-me por ela. - Vou fazer como você me pediu. Desculpe-me.

Ela sorriu e caminhou em minha direção, abraçando-me logo em seguida. Senti todo o amor presente ali e, como um passe de mágica, todos os meus problemas se esvaíram.

Queria ser essa calmaria para minha mãe assim como era para mim.

- Sei que não é fácil, minha menina, mas estamos nessa juntas, está bem? - ela colocou a mão em meu rosto e assenti - Saiba que pode contar comigo, não importa quais sejam as circunstâncias. Qualquer preocupação ou receio, fale para mim. Não se restrinja ou tenha medo de me contar. É sua vez de ser protegida, minha filha, então me deixe fazer isso por você.

A imagem daquele espectro do dia anterior voltou à minha mente. Eu não havia mencionado nada a ninguém pois não queria preocupá-los. Já estavam com problemas demais no Novo mundo, comigo sendo a principal delas. Não queria agregar mais peso para toda a situação.

Mas vendo a preocupação e o amor em seus olhos, não consegui me conter em me sentir como uma criança de cinco anos que busca o auxílio da mãe, como se ela tivesse poderes para resolver todos os problemas.

- Eu preciso te contar algo - comecei, tomando fôlego e coragem para quebrar aquela voz dentro de mim que teimava em tentar protegê-los e dizendo nao poderia deixá-los me ver tão fraca assim. - Ontem eu...

- Amor, você pode me ajudar aqui, por favor? - escutamos o meu pai chamar com uma certa tensão na voz - É urgente.

Olhamos uma para a outra e senti meu coração palpitar em minhas costas. Nos dirigimos para o quarto de James, de onde achávamos que a voz de meu pai vinha e o encontramos um olhando de frente para o outro com caras preocupadas.

- O que houve? - tentei controlar o desespero em minha voz ao perguntar.

- Eu não sei onde coloquei meu comprovante de matrícula para apresentar na secretaria da escola - meu irmão disse, olhando com receio para minha mãe, enquanto papai estava com a mão sobre o rosto, esperando a bronca da esposa.

- James, quantas vezes eu falei para guardar isso? - minha mãe disse, já elevando um pouco a voz enquanto eu respirava aliviada, acalmando meu coração - Venha, procure direito em sua gaveta, pois tenho certeza que você e seu pai só passaram o olho por ela, sem procurar de fato.

Não Podem Saber!Onde histórias criam vida. Descubra agora