NYX

Capítulo 1

Reino Fênix - Era da Ascensão - 9º mês do ano 126.

Em uma saleta reservada do austero Palácio Fênix, dois importantes membros da realeza de Íkarus aguardavam para serem recebidos pelo mais poderoso monarca dos cinco Reinos da Ascensão, o Rei Marcus Fênix Elite I.

A espera já durava mais de duas horas e o jovem herdeiro ao trono de Íkarus estava cada vez mais impaciente, embora tentasse esconder esse fato a todo custo.

Com passos calculadamente distraídos, o Príncipe Christopher Íkarus Elite XVII caminhou até a janela tentando não deixar transparecer em seu semblante o quanto estava irritado. Entretanto a vista através do espesso vidro blindado não contribuiu em nada para melhorar o seu humor.

Situado no Patamar mais elevado de Fênix, o palácio possuía uma visão privilegiada de alguns dos principais patamares do reino e isso o enervava ainda mais. Todo o progresso tecnológico visível em cada patamar era um lembrete gritante e amargo de como o povo de Íkarus poderia estar em melhores condições se apenas o Rei Marcus compartilhasse sua tecnologia extraordinária. Se ao menos ele...

Um suspiro audível vindo do outro lado do cômodo chamou a atenção do príncipe de volta ao recinto, interrompendo o fluxo de seus pensamentos revoltantes.

Seu pai, o Rei Enzo Íkarus Elite XVII já não gozava de boa saúde e mesmo com todo o conforto e rapidez das cápsulas de transporte, a viagem tinha sido um tanto extenuante para as juntas cansadas do velho homem. O que tornava a longa espera que o soberano de Fênix havia lhes imposto um insulto grave, para dizer o mínimo.

A vontade do príncipe era adentrar o escritório do monarca sem esperar ser chamado, porém os dois guarda-costas a porta eram um obstáculo a considerar. Não que o príncipe Christopher se intimidasse com o aspecto de massa em excesso de ambos, já que recebeu treinamento militar desde criança e confiava em suas habilidades. O verdadeiro empecilho estava nas armas Kor-17 a mostra em seus coldres por cimas dos elegantes ternos de embrex.

Tomás e Noah, respectivamente os guarda-costas do rei e do príncipe, portavam simples armas Drensi semiautomáticas com balas de titânio, praticamente itens de museu ou meros brinquedos em comparação as armas Kor. Porém a diferença tecnológica das armas não era o único problema.

Aos olhos de qualquer outro, o quase imperceptível brilho perolado das armas não significaria nada, mas os olhos sagazes do Príncipe Christopher eram capazes de reconhecer facilmente armas carregadas com balas compostas de nanopartículas NYX.

NYX. A misteriosa nanopartícula que de algum modo era a responsável por todo o avanço cientifico tecnológico que deixava Fênix anos luz de conhecimento a frente dos outros quatro reinos do continente de Éter. E todo esse poder nas mãos do Rei Marcus lhe permitia vender migalhas dessa tecnologia a preços exorbitantes causando a revolta de todos.

Estar ali, com o objetivo que tinham em mente, era muito humilhante para o príncipe, porém não havia nada que ele não fosse capaz de fazer pelo o bem estar de seu povo.

Um zunido pouco discreto da trava de segurança automática da porta ressoou e o secretário pessoal que os recebeu mais cedo, anunciou:

- Vossa Majestade irá recebê-los agora. Por favor, entrem.

Tomás se apressou para ajudar o seu soberano a se levantar, enquanto Noah seguia os passos do príncipe como uma sombra.

- Apenas o Rei Enzo e seu filho tem permissão para entrar. -o secretário informou barrando a entrada dos guarda-costas.

- Isso é um absurdo! -estava cada vez mais difícil para o príncipe manter a compostura. - Eles são nossos guarda-costas e nunca deixam o nosso lado em ambientes desconhecidos!

- Está tudo bem, filho. -o rei Enzo assegurou pousando a mão no ombro de seu herdeiro. - Podemos confiar em Marcus.

O Príncipe Christopher discordava totalmente do pai, mas achou melhor ceder para evitar maiores problemas.

Deixando para trás seus guarda-costas um tanto contrariados, o príncipe e seu pai entraram no escritório real seguidos por apenas um dos guarda-costas do Rei Marcus e o secretário com cara de poucos amigos.

O soberano de Fênix cumprimentou o rei de Íkarus como um igual através de um aperto de mão e destinou ao jovem herdeiro apenas um leve aceno com a cabeça.

- Sentem-se, por favor. -disse o rei Marcus apontando duas poltronas a frente de sua mesa.

Nenhum pedido de desculpas pela longa espera ou mesmo uma felicitação de boas-vindas. Até mesmo as palavras "por favor" soaram tão mecânicas aos ouvidos do príncipe que perderam o significado de gentileza.

O Rei Marcus se sentou atrás de sua escrivaninha metálica ostentando o seu conhecido sorriso presunçoso e ar despreocupado. O mais poderoso monarca dos cincos reinos era sem dúvidas o mais arrogante e também era o mais jovem. Não devia ter mais do que quarenta anos e aparentava ter bem menos. O que transmitia a falsa ideia de um rei inexperiente.

- Marcus, meu filho e eu estamos aqui porque...

- Eu sei perfeitamente porque estão aqui. -o rei interrompeu. - Você quer unir nossos reinos casando o seu filho com a minha herdeira. Não é exatamente isso o que tem em mente, Enzo?

- Sim, Marcus. -o rei de Íkarus confirmou em um tom cansado. - Assim como também gostaria de propor...

- E por que acha que eu aceitaria como genro um príncipe que pertence a uma família da décima sétima elite? -o desprezo do Rei Marcus pelas origens da família real de Íkarus não poderia ser mais claro. - Até hoje não entendo como a mais baixa das elites da nobreza conseguiu o direito de governar um dos cinco reinos da ascensão...

- Não viemos até aqui para sermos insultados! -a frágil paciência do príncipe se estilhaçou de vez e ele se pôs de pé em um átimo. - Vossa Majestade não tem o direito de...

- Um príncipe que se ofende tão facilmente e que não está disposto a se humilhar pelo bem de seu povo me interessa menos ainda.

- Marcus, por favor, perdoe a insolência de meu filho. -o Rei Enzo intercedeu por seu filho pedindo com o olhar para que seu herdeiro voltasse a se sentar. - Ele ainda é muito jovem e impetuoso.

Como se estivesse se divertindo com o comportamento do príncipe, o Rei Marcus sorriu amplamente para o jovem ao dizer:

- Se quer a mão da minha filha, garoto, terá que lutar por ela. -declarou de maneira sombria e perversa. - Literalmente.

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