No dia seguinte, como havia pensado que aconteceria, Katsuki desceu para a praia com um livro em mãos, seus novos óculos (para leitura) de lentes e armação fina e redonda no rosto e sua carteira no bolso de sua bermuda.
Ele vestia a aberração chamada regata que ele sempre odiou, mas não queria ir sem camisa se não ia entrar na água e também parecia muito estranho ir com alguma camisa com manga.
Bakugou logo se acomodou num canto na praia debaixo de uma árvore, sentando em cima da pequena toalha de picnic que tinha comprado só para aquela viagem. Foi o primeiro pedaço de pano grande o suficiente para ele deitar em cima, então ele só pegou a primeira coisa que viu na loja e foi.
Na sombra de um coqueiro não muito grande, ele continuou o livro que lia antes mesmo da viagem, acompanhando uma história de fantasia qualquer. Era mais um dia calmo na praia, o som distante de crianças brincando e jovens e adultos conversando era baixinho o suficiente para que ele não se importasse.
Todavia, após mais algumas horas no sol quente daquele dia e nem aquela sombra gostosa do coqueiro era suficiente para protegê-lo. Bakugou levantou, batendo o pano e o dobrando com perfeição antes de seguir com ele e seu livro para um dos quiosques que viu por ali mais cedo.
Katsuki se apoiou no banquinho de ferro e pediu uma água de coco para beber, se perguntando se estava com fome o suficiente para se arriscar comendo naquele local. Não que fosse alguém muito preocupado com sua alimentação, ele só era fresco e não gostava de comer em locais desconhecidos que não tivesse uma referência da qualidade da comida. Ele podia sempre almoçar no restaurante do hotel, entretanto ainda não estava pensando em voltar para lá, pois sabia que no momento que pisasse em seu quarto não sairia mais.
— Olá. — Uma voz masculina interrompeu seus pensamentos.
— Oi. — Bakugou respondeu com uma voz um tanto seca, olhando para a pessoa que o incomodava.
Era um jovem que mal devia ter seus 20 anos, o cabelo ruivo vibrante claramente pintado, um sorriso largo e covinhas fáceis de notar. Pelo bronzeado escuro em seu corpo devia viver ali pela praia e pelos musculos definidos talvez gostasse de se exercitar na areia. Ele não era tão ruim de olhar. Mas era quase uma criança.
— Então, eu percebi você aqui sozinho e pensei se não gostaria de uma companhia pro almoço, talvez...? — Ele perguntou, o olhar cheio de expectativa focando nos lábios de Katsuki em volta do canudo.
Katsuki riu. Será que ele não tinha reparado que Katsuki tinha idade para ser seu pai? Não era nenhum papa-anjo ou coisa do tipo.
— Não preciso de companhia pro almoço, obrigado. — Bakugou tentou ser um pouco gentil ao dispensá-lo.
Talvez estivesse apenas brincando com ele? Um desafio dos amigos talvez?
Ele parecia um pouco familiar, mas não conseguia lembrar de onde.
— Talvez uma companhia pro jantar? — Ele tentou, mordendo o lábio de um jeito fofo.
Uma criança, de fato.
— Não preciso de companhia.
Bakugou terminou sua água de coco e jogou o coco no recipiente adequado ao lado do quiosque, jogando o canudo no recipiente para material reciclável e indo de volta para o hotel, de repente sem querer mais ficar na praia, porém sentindo o olhar do falso ruivo lhe seguindo pelo caminho.
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Bakugou aceitou que era um homem com uma vida que podia ser considerada desanimada e maçante para os outros há muito tempo. Quando informou a Uraraka que aquele era o segundo dia em que pretendia sair do hotel para se sentar e ler debaixo de uma boa sombra na praia, ela lhe lembrou exatamente isso. Falou sobre como ele não tinha preguiça de passar horas e horas trabalhando, entretanto tinha para conversar com pessoas ou ir em festas. Tentou colocar em sua cabeça para ao menos ir a um barzinho à noite durante o fim de semana.
Bakugou, no entanto, não estava de férias pra conhecer gente nova e nem viver uma vida agitada enquanto podia. Ele queria viver férias relaxadas e calmas, pegar um pouco de vitamina D e ter como maior gasto o protetor solar e comida.
Alguém além de Uraraka estava tentando estragar seus planos pacatos.
Quando uma bola passou por Bakugou e levantou areia em seu colo, batendo na capa do novo livro de mistério que ele lia (terminara o de fantasia ontem no hotel), o loiro suspirou tentando manter a calma para não surtar com uma possível criança em público.
Todavia, quem veio pegar a bola de vôlei não foi uma criança de 12 anos como Katsuki imaginou, e sim uma que tinha idade suficiente para ele gritar sem ser taxado de cruel e sem coração, ou mesmo ter que enfrentar os pais.
— Olá, de novo. — O garoto de ontem se dirigiu a ele, com a bola em mão, bloqueando o sol.
— Por que cê tá tapando o sol? — Foi a primeira pergunta de Katsuki, que estava propositalmente deixando suas pernas muito pálidas levarem um pouco mais de sol que o resto do corpo, já que já tinha passado uma camada extra de protetor.
— Calma, chocolate branco, eu não quero que você derreta.
Bakugou franziu o cenho. Mas que porra...?
— Ah, cê não pegou a referência. É de um filme. Desculpa pela bola, o Denki tem uma mira péssima quando bebe. E a gente se conheceu ontem, né? Prazer, Eijirou.
Muita informação, calma.
Crianças bebiam tão cedo da manhã esses dias?
O tal Eijirou achava mesmo que a interação deles do dia interior o permitia mesmo chegar e se apresentar? Bakugou não foi claro o bastante?
Olhando para o jovem alto em sua frente e a bola de vôlei em suas mãos Katsuki finalmente lembrou de onde o conhecia de verdade. Era o rapaz que levou uma bolada na cara naquele dia. Riu.
— Meu nome é Katsuki. — Ele disse, o bom humor de lembrar da bola batendo na cara dele e ele caindo no chão em seguida o tornando mais sociável por dois segundos.
— Então, Katsuki, talvez hoje fosse gostar de um pouco de companhia? — Ele perguntou.
Quase teve pena daqueles olhos de filhotinho que caiu da mudança. Quase.
— Sua mãe sabe que você tá por aí falando com estranhos na praia? — Bakugou falou, no seu melhor tom de quem lidava com uma criança.
O outro pareceu ser bem atingido pelo fora e Katsuki apreciou a expressão amarga com satisfação, pensando que finalmente ficaria livre.
— Pra sua informação, eu tenho 19 anos. Não sou criança. Se tu gosta de sair e ficar sozinho por aí, aproveita. — E saiu, voltando para o grupo de amigos que o esperava por estar com a bola.
Bakugou suspirou. Foi um pouco cruel, mas pelo menos ele entendeu. Era muito jovem para um homem aos 40 como Katsuki, era melhor que procurasse alguém da mesma idade.
Curioso, voltou a ler seu livro, montando sua teoria sobre quem havia matado uma das protagonistas e juntando mais pistas ao longo da leitura, logo esquecendo a existência de Eijirou.
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Does your mother know?
FanfictionApós duas internações consecutivas por estresse e má alimentação, Katsuki Bakugou é obrigado por seu chefe a tirar férias. A contragosto, ele acaba decidindo passar duas semanas no litoral, longe de sua capital agitada, apenas para relaxar e tomar u...