1. Jungkook

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Será que hoje é um bom dia para morrer? ¹

Eu me pergunto isso todos os dias de manhã, quando tento sair de casa, quando tento dormir, quando tento me distrair e minha cabeça não para.

Hoje é o dia?
E, se não hoje, quando? ¹

E é nisso que minha cabeça pensa agora, enquanto caminho em direção ao meu trabalho sentindo o vento gelado no meu rosto junto com as gotículas de água que caem. Nem mesmo os fones de ouvido no volume máximo são capazes de desviar meus pensamentos disso, e isso me enlouquece aos poucos. As vezes eu simplesmente apago, porque sei que é a única forma de fazer isso parar, e foi como resolvi a última crise que tive à uma semana, foi algo tão forte para mim que sem pensar duas vezes eu engoli uma cartela de comprimidos para dormir, e fiquei apagado por muitas horas.

Faltei no trabalho por uma semana, e no fim das contas dei a desculpa de que tinha ido as pressas a Busan ajudar meu irmão, com certeza não acreditaram porque eu recebi uma advertência mas pelo menos não perdi meu emprego, eu também deixei minha gata sozinha, com fome durante esse tempo e completamente desesperada. Ela ficou parada do meu lado na cama, esperando que eu desse qualquer sinal durante todos esses dias, sua sorte foi que ela conseguiu derrubar o pote de ração e beber água da privada até que eu despertasse.
Eu me senti extremamente culpado, claro, mas era isso ou eu desistiria.
Foi o jeito que arranjei de parar, não tinha pra quem ligar, nem pra onde ir.

Eu acordei muito fraco, mas me recuperei e consegui voltar ao trabalho, já me sinto mais controlado mas sei que não vai durar muito tempo, é questão de meses até que outra crise dessa aconteça e eu não sei do que serei capaz de fazer.

Depois de caminhar por 15 minutos, sinto meus pés congelarem dentro das botas, mas mesmo assim eu opto por ir trabalhar a pé, andar me ajuda.

Eu cruzo a grande entrada da Escola de música e Artes Cênicas de Seul, é um prédio de arquitetura antiga, enorme e com uma bela decoração. Aqui eu dou aula de piano para crianças, comecei há 3 anos quando me mudei para a capital com o intuito de viver minha vida em paz longe da minha família. Eu consegui, arranjei esse emprego no primeiro mês e aluguei um apartamento, e essa tem sido a única parte da minha vida que chega perto de me fazer feliz. Eu sai da empresa de logística da qual trabalhei por 2 anos, eu odiava o trabalho, meu chefe, as pessoas, mas me ajudou a guardar dinheiro para chegar até aqui.

Eu amo música, sempre amei, comecei a tocar piano na infância quando encontrei o piano velho que era do meu avô no porão. Me lembro claramento do dia em que meus pais brigavam na cozinha, minha mãe gritava e jogava coisas no meu pai, meu irmão não estava em casa, já era noite e eu estava no meu quarto ouvindo tudo, eu queria descer para proteger minha mãe mas sabia que se eu saísse ele viria atrás de mim. Então eu chorei por horas, até que parei de ouvir gritos, em seguida meu pai subiu as escadas em direção ao seu quarto, eu vi pela fresta da porta ele pegar uma cinta de couro e descer correndo, eu já sabia o que ele faria com ela. O mesmo que fazia comigo, então desci silenciosamente e vi de relance ele acerta-lá diversas vezes nas costas, até o sangue escorrer. E quando ele se virou, não tive tempo de correr, eu estava paralisado, e antes que ele pudesse vir até mim eu me escondi no porão e tranquei a porta. Fiquei lá pelo resto da noite, e depois que tudo se acalmou e a casa ficou silenciosa eu acendi a luz, e vi coberto por um lençol branco o piano. Ele estava muito empoeirado mas eu não me importei, eu comecei a mexer nas teclas e fiquei impressionado com o som que ele fazia, era lindo.
No dia seguinte quando minha mãe me pediu para abrir a porta, ela agiu com ignorância, me empurrou e puxou meu cabelo, não sei dizer ao certo o porquê, mas ela estava machucada e parecia gostar de me ver daquela forma também, ela dizia que a culpa era minha. A partir daquele dia eu comecei a pesquisar sobre música e me apaixonar cada vez mais, e comecei a aprender. Depois disso, todas as vezes que meus pais brigavam, ou que eu era ameaçado eu descia, trancava a porta e tocava por horas para que eu não pudesse ouvir o som dos gritos e somente o som doce das teclas.

Serendipity || JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora