Capítulo III

17 4 6
                                    

Demorou um pouco para que a mente de Henrique compreendesse a informação recebida. E um pouco mais para que ele entendesse o que deveria fazer.

Atena não estava casada?

Ele se perguntava, um tanto quanto desestabilizado. Estava inerte, as sobrancelhas franzidas, embebido por lembranças.

Por essa razão, hesitou em apanhar a máscara prateada esquecida na cadeira ao lado, mas quando, enfim, o fez, analisou o acessório por menos de dois segundos e seguiu em direção ao corredor.

Atena estava quase chegando ao salão de baile, contudo, ele foi mais rápido e conseguiu alcançá-la antes que se perdesse na multidão de convidados, colocando o corpo enorme na frente dela e impedindo sua passagem.

Ela cessou os passos, a respiração entrecortada, elevando a cabeça para encará-lo.

Henrique achou inusitado que precisasse fazer isso agora. Quando crianças, sempre foi cinco centímetros mais baixo do que ela, uma diferença não muito significativa, mas que Atena nunca o deixava esquecer. 

Ele engoliu, nervoso com a mulher a sua frente.

Em suas recordações, Atena era menos que uma menina, pouco feminina ou graciosa, um contraste gritante com a jovem perfeitamente trajada em tecido azul marinho, cheia de curvas e... Seu olhar desceu um pouco, seios.

Eles não estavam ali antes, ou pelo menos, Henrique não se lembrava. Franziu o cenho, não conseguiu evitar a surpresa. Sabia que ela era uma mulher, e até onde sabia mulheres tinham seios... mas Atena? Era... era... Limpou a garganta, ela havia mesmo amadurecido.

— Você esqueceu algo — avisou, apenas porque precisava quebrar a sensação de deslumbre. — Tome — estendeu-lhe a máscara, tomando o máximo de cuidado para não tocar em sua pele.

Eles estavam a alguns centímetros de distância um do outro, de modo que Atena precisou esticar a mão enluvada para pegar o objeto.

Foi um gesto rápido, mas Henrique percebeu que seus dedos tremeram. Isso foi incomum, pelo que lembrava, e tinha uma memória excelente, tremer não era algo típico de Atena, ela nunca oscilava.

Era impulsiva e temperamental, e quando colocava uma ideia na cabeça era mais fácil arrancá-lhe a cabeça do que dissuadiá-la do contrário, mas nunca hesitava.

Em hipótese alguma.

Nem mesmo antes de magoar as pessoas, coisa que Henrique sabia que ela não fazia por mal.

Atena era extremamente sensível, percebia o mundo com profundidade e de uma forma que ninguém mais entendia. O problema é que ela não sabia como demonstrar isso, e era simplesmente incapaz de refrear a língua. Ou a caneta, que foi o que fez com ele.

Antes de partir para a Europa, alguns anos atrás, Henrique estava decidido a se comprometer com Atena. Não passava de um garoto na época, havia acabado de completar o seu vigésimo aniversário, ainda tinha espinhas pela cara e nem um mísero cabelo no peito, mas estava convicto quanto aos seus sentimentos pela amiga de infância. 

No entanto, os dois discutiram, algo inexpressivo relacionado a Atena ter acusado ele de trapacear em um jogo, que as irmãs dela e também outros dois amigos estavam envolvidos, nada demais, embora discutir com Atena sempre se transformasse em um evento de grandes proporções.

O fato, é que na manhã seguinte a esse desentendimento, dia em que Henrique iria deixar o país, ele foi até a caixa de correspondência dos dois — um antigo baú de madeira colocado em uma árvore no limite da propriedade campreste das duas famílias e que somente os dois tinham a chave — e encontrou uma carta.

Um Bilhete Para AtenaOnde histórias criam vida. Descubra agora