Demorou um pouco para que a mente de Henrique compreendesse a informação recebida. E um pouco mais para que ele entendesse o que deveria fazer.
Atena não estava casada?
Ele se perguntava, um tanto quanto desestabilizado. Estava inerte, as sobrancelhas franzidas, embebido por lembranças.
Por essa razão, hesitou em apanhar a máscara prateada esquecida na cadeira ao lado, mas quando, enfim, o fez, analisou o acessório por menos de dois segundos e seguiu em direção ao corredor.
Atena estava quase chegando ao salão de baile, contudo, ele foi mais rápido e conseguiu alcançá-la antes que se perdesse na multidão de convidados, colocando o corpo enorme na frente dela e impedindo sua passagem.
Ela cessou os passos, a respiração entrecortada, elevando a cabeça para encará-lo.
Henrique achou inusitado que precisasse fazer isso agora. Quando crianças, sempre foi cinco centímetros mais baixo do que ela, uma diferença não muito significativa, mas que Atena nunca o deixava esquecer.
Ele engoliu, nervoso com a mulher a sua frente.
Em suas recordações, Atena era menos que uma menina, pouco feminina ou graciosa, um contraste gritante com a jovem perfeitamente trajada em tecido azul marinho, cheia de curvas e... Seu olhar desceu um pouco, seios.
Eles não estavam ali antes, ou pelo menos, Henrique não se lembrava. Franziu o cenho, não conseguiu evitar a surpresa. Sabia que ela era uma mulher, e até onde sabia mulheres tinham seios... mas Atena? Era... era... Limpou a garganta, ela havia mesmo amadurecido.
— Você esqueceu algo — avisou, apenas porque precisava quebrar a sensação de deslumbre. — Tome — estendeu-lhe a máscara, tomando o máximo de cuidado para não tocar em sua pele.
Eles estavam a alguns centímetros de distância um do outro, de modo que Atena precisou esticar a mão enluvada para pegar o objeto.
Foi um gesto rápido, mas Henrique percebeu que seus dedos tremeram. Isso foi incomum, pelo que lembrava, e tinha uma memória excelente, tremer não era algo típico de Atena, ela nunca oscilava.
Era impulsiva e temperamental, e quando colocava uma ideia na cabeça era mais fácil arrancá-lhe a cabeça do que dissuadiá-la do contrário, mas nunca hesitava.
Em hipótese alguma.
Nem mesmo antes de magoar as pessoas, coisa que Henrique sabia que ela não fazia por mal.
Atena era extremamente sensível, percebia o mundo com profundidade e de uma forma que ninguém mais entendia. O problema é que ela não sabia como demonstrar isso, e era simplesmente incapaz de refrear a língua. Ou a caneta, que foi o que fez com ele.
Antes de partir para a Europa, alguns anos atrás, Henrique estava decidido a se comprometer com Atena. Não passava de um garoto na época, havia acabado de completar o seu vigésimo aniversário, ainda tinha espinhas pela cara e nem um mísero cabelo no peito, mas estava convicto quanto aos seus sentimentos pela amiga de infância.
No entanto, os dois discutiram, algo inexpressivo relacionado a Atena ter acusado ele de trapacear em um jogo, que as irmãs dela e também outros dois amigos estavam envolvidos, nada demais, embora discutir com Atena sempre se transformasse em um evento de grandes proporções.
O fato, é que na manhã seguinte a esse desentendimento, dia em que Henrique iria deixar o país, ele foi até a caixa de correspondência dos dois — um antigo baú de madeira colocado em uma árvore no limite da propriedade campreste das duas famílias e que somente os dois tinham a chave — e encontrou uma carta.
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Um Bilhete Para Atena
Исторические романыNinguém seria capaz de imaginar que um reles pedaço de papel poderia interferir em algo tão poderoso quanto o destino, no caso de Atena González e Henrique Martins foi exatamente isso que aconteceu. Amigos desde a infância, ambos desconhecem a natur...