Colorindo minhas sinapses

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Sinto a leve brisa que vem das árvores ao meu redor, uma brisa que bagunça meus cabelos presos em um rabo de cavalo. Sinto-me livre, como se o mundo se abrisse para o que eu quisesse sentir. Sinto como se as cachoeiras, a mata, os lagos me chamassem e dissessem que é lá que eu pertenço. Lá eu posso esquecer de todos os meus problemas, tudo que me assola, tudo que tira minhas noites de sono. Estou parada no deck do lago, enquanto meus pés mergulhados sentem as cosquinhas que os peixinhos fazem, meus ouvidos percebem o canto dos pássaros na copa daquelas árvores infinitas, meus olhos veem o voo da arara com todas suas cores que pintam o céu como se ele fosse uma tela, meu nariz sente o cheiro dos diferentes aromas que tem nesse lugar: o eucalipto, o pinho, as flores, a água; minhas mãos sentem vontade de pegar o ukulele, ou até mesmo colocar alguma música no celular para que minha boca possa acompanhar a melodia que me anestesia e preenche meus sentidos de sentido. Fico pensando nas minhas músicas favoritas e como todas elas são anseios, realizações ou até mesmo desabafos de pessoas que precisavam soltar o que estava entalado em suas laringes e sufocando suas sinapses. Pessoas que escolheram a arte como mãe, melhor amiga e psicóloga para conseguir dividir tudo de mais precioso de seus pensamentos. Pessoas como eu, artistas como eu, que sentem necessidade de produzir arte, se sentem afogados quando não estão em contato com sua natureza, se sentem afobados para produzir algo, para pegar as notas do celular e começar a vomitar palavras sem sentido, no princípio, mas que no final alimentam a si mesmos e ao mundo. Às vezes me pego pensando o que seria da minha vida sem a arte. Creio que esse paraíso diante de meus olhos seria apenas natureza, apenas cores, apenas cheiros, apenas sensações, apenas sons. Pensando bem, tudo que me faz gostar desse lugar provém do pensamento artístico enraizado na terra que corre em minhas veias. Será que todos os lugares que vou e me sinto em casa, é, na verdade, minha necessidade de ver o mundo com cores de tinta aquarela falando mais alto? Vou pensar nisso enquanto sinto o frescor e o carinho das águas daquela cachoeira me chamando.

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