Capítulo 1

19 1 1
                                    

Deitada em sua cama, Margo escrevia seu romance de 4 folhas (frente e verso). Definitivamente era a tarefa mais difícil que sua mentora já havia passado. Como escrever todo um enredo em um espaço tão pequeno? Eram tantas ideias que lhe surgiam a mente, uma melhor que a outra, mas nenhuma boa o suficiente para que fosse lido em voz alta. Ela gostava de romances, principalmente os clichês; mas não entendia como duas pessoas conseguiam se apaixonar tão rápido mesmo que no começo elas se odiassem. Então ela começou o romance com dois personagens principais que se conheciam desde a infância; assim, foi mais fácil criar uma fantasia curta.  E mesmo depois de 5 rascunhos e 3 xícaras de chá, ela ainda não estava satisfeita com os resultados e já estava cansada e dolorida de tanto escrever. Margo então decidiu que era hora de um intervalo e saiu de seu quarto, ainda sem saber para que secção seguir. Apesar de ser grande, não existia um lugar sequer na casa que aquela menina não conhecesse. Foram anos de exploração, e tinha até um mapa, feito á mão por ela mesma, contento cada pequeno espaço daquela enorme residência. Como toda adolescente, ela tinha um lugar especial para fugir de tudo, seu  jardim. Gostava de ir lá durante o dia, sentar-se na grama verde e sentir o sol em seu rosto. O canto dos pássaros penetrava fundo seus ouvidos, encobrindo qualquer outro som, e ao fechar os olhos sentia-se livre de tudo; apenas existindo e apreciando aquele momento mágico. Depois de vários minutos na mesma posição, o sol já lhe queimava a pele, então era hora de se esconder sob as copas das arvores e se refrescar em uma linda lagoa natural que havia bem no meio de sua mini floresta. 

Rodeada de pedras e com o fundo de areia macia, a lagoa era sem dúvidas, a parte mais mágica do enorme terreno. Aos olhos daquela jovem, a água se ondulava de maneira única sob a brisa macia que passava, além de pontos de luz que faziam com que pequenas fumaças subissem em direção à densa folhagem, trazendo ainda mais mistério ao lindo ambiente. Ela poderia passar horas ali, apenas observando de diversos ângulos a mesma cena. Mas hoje estava tão quente, que a moça não se conteve, e ao se despir por completo, entrou vagarosamente na lagoa, sentindo a areia quente entre seus dedos e observando uma linda borboleta amarela que por ali voava, tão silenciosa quanto a menina. Ao cobrir seu corpo até o pescoço o alívio foi imediato e provocou um pequeno arrepio em sua espinha. Tendo perdido o inseto de vista a garota deu um mergulho profundo e se segurou abaixo da superfície pelo maior tempo que conseguiu. Lá de baixo o alvoroço das aves agora mais parecia um ruído distante, trazendo o conforto que ela buscava. Por todos esses anos ela conseguiu segurar o fôlego cada vez mais, e hoje já alcançava pouco mais de dois minutos sem respirar. 

Com um pequeno impulso dos pés sua cabeça volta a aparecer nas margens junto as pedras quentes, onde sua costa apoia calmamente para mais um banho de sol. Deitada sobre a superfície irregular, Margo mantinha os olhos fechados e os ouvidos atentos; não costumava ir aquele lugar apenas para relaxar. E enquanto ela esperava calmamente, seus pensamentos foram ficando turvos e sua mente se desligando quando de repente ela estava em outro lugar; uma floresta bem maior e mais densa do que a existente em sua propriedade. Seu corpo estava coberto por um tecido fino que mais parecia uma camisa masculina, grande o suficiente para servir-lhe como um vestido. Ao sentir um leve toque em seu ombro ela percebeu que sua espera havia chegado ao fim. Oliver estava ali, parado à sua frente, tocando-lhe e fazendo gracinhas. Seu riso era contagiante e ela não conseguia deixar de sorrir também; nem que fosse por um momento. Assim que percebeu o que estava acontecendo, sua expressão ficou séria, o que chamou a atenção de seu noivo. Ele a puxou para um abraço demorado e lhe deu um beijo na testa. Foi uma das sensações mais vividas que ela presenciou em um sonho. E do mesmo jeito que começou, o sonho chegou ao fim rapidamente, tirando-lhe a chance de se despedir mais uma vez. 

Ao acordar na pedra, Margo se vestiu rapidamente e ficou sentada na grama próximo a lagoa. Não sabia quanto tempo mais teria que aguentar isso, mas de acordo com Mimi, sua mentora, ainda seriam anos de espera até que ela pudesse reencontrar seu amado. Margo era mantida prisioneira por um poderoso mago negro o qual, depois de tanto tempo ali, nunca tinha visto e nem sabia seu nome; na verdade, só sabia de sua existência porque podia sentir sua presença, observando-a, acompanhando seu progresso. Ele a sequestrou ainda bem jovem, mas depois dela já estar apaixonada por Oliver, que havia feito o pedido de casamento um dia antes de seu desaparecimento. E desde então, era daquela maneira que ela se conectava com o futuro esposo, através de pequenos sonhos. Perdida em seus pensamentos, mal ouviu Mimi chegar, meio sem fôlego, um pouco descabelada, mas bem séria e preocupada. Ao perceber a senhora parada lhe encarando, levantou-se rapidamente, alisando o vestido e limpando a terra grudada.

- Ora Margo, tantos dias para visitar este belo lugar, e só consigo ver quando estou atrás de você! Por mais que eu admire a visão, precisamos correr; não sei porque hoje, mas o grande mago gostaria que jantassem juntos essa noite. - E antes que a garota pudesse fazer qualquer pergunta, a mentora lhe pegou pelo braço e a levou todo caminho de volta num piscar de olhos, pois no segundo seguinte elas já estavam em seu quarto e depois disso, Margo foi envolvida numa correria de preparação para a primeira vez que veria seu sequestrador.

Maga dos sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora