Imperadores

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Encarei os talheres de prata e esperei.

Comportei-me como uma dama naqueles longos minutos silenciosos.

Não demonstrei minha impaciência ou o ódio que se formavam dentro de mim. Tão pouco deixei transparecer o sentimento sem nome que eu me recusava a dar atenção.

Mulheres eram consideradas emocionais, passionais, totalmente ausentes da razão, entretanto as virtudes esperadas de uma dama eram o controle, a passividade, a simpatia eterna. Um paradoxo.

Os olhos dos criados estavam em mim o tempo todo e receei que eles soubessem de algo que não era do meu conhecimento.

Afinal, por que James demorava tanto para descer para o jantar?

- Sabe onde se encontra Vossa Majestade, sr. Zabine?

- Está em seus aposentos, majestade – respondeu o mordomo.

Não hesitei, levantei-me com o intuito de chegar ao quarto de meu marido.

Se ele estivesse se atrasando para simplesmente me enfurecer e criarmos mais uma cena ou se ele estivesse com...

Respirei fundo. Cogitar a ideia de que ele estivesse com alguém naquele quarto enquanto eu o esperava para jantar me causava uma ira difícil de controlar.

Quando eu não me controlava, criava problemas e isto era o que eu precisava evitar devidas as circunstâncias.

Qualquer cena entre James e eu serviria de munição para a sua família e seus amigos políticos que queriam me tirar do lado do imperador.

Segurei a maçaneta da porta com força e parei.

Tentei controlar a minha irracionalidade.

Tentei extinguir a ira.

Tentei me preparar para o que eu poderia encontrar.

Não obtive sucesso.

Nada poderia ter me preparado para o que eu encontrei.

Abri a porta e todas as minhas emoções se esvaíram.

Senti uma dor no peito tão forte que me fez estancar.

- James?

O imperador estava no chão, segurando sua barriga e chorando. Parecia em dor.

Ele me olhou. Tanta dor.

Corri para ele.

Abracei-o, com força.

Ele chorou mais.

- O que aconteceu?

- Eu...

Seus cabelos estavam desorganizados, seus olhos estavam vermelhos, sua boca tremia.

Ele sentia tanta dor que não conseguia falar.

Senti lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Segurei seu rosto.

- Por favor, James, me diga o que você tem.

Nenhuma reação.

- Eu vou chamar o médico...

Fiz menção de levantar-me e ele me segurou.

- Por favor, não vá.

- Mas você precisa de um médico.

- Eu preciso de você.

Meu coração se acelerou.

Não me mexi.

James se movimentou, colocando a cabeça em meu peito. Estreitei meu braço em volta dele e acariciei seus cabelos.

Seus gemidos diminuíram até que enfim pararam.

Beijei seu cabelo.

Ele deu um suspiro de cansaço.

- Rose...

- Não diga nada, meu amor.

Ele apertou a saia de meu vestido e tentou erguer o rosto para me ver.

- Eu... Eu nunca poderia me separar de você.

Meus olhos se encheram de lágrimas novamente.

- Está tudo bem, James.

Ele negou com a cabeça, parecia aflito.

- Não, não está.

- Tudo vai ficar bem, eu prometo.

Ele parecia não acreditar.

Segurei seu rosto e delicadamente beijei seus lábios.

O gosto de suas lágrimas estava em sua boca.

- Eu te amo – Ele disse.

Meu coração se aqueceu, afastando quaisquer sentimentos anteriores.

- Eu também te amo, Bonaparte.

- James. Eu prefiro James – Ele sempre dizia isso.

Dei um pequeno sorriso.

- Eu te amo, James.

Quando ele me beijou, não foi de forma delicada, ele raramente o conseguia ser.

Seus beijos sempre foram ardentes, cheio de paixão, assim como a sua personalidade.

A dor, o sofrimento e as lágrimas foram esquecidas e ao invés delas, abraçamos a luxúria, o calor, a paixão.

James se levantou com dificuldade e me estendeu a mão. Eu a segurei para me levantar. Ele fez tanta força para me erguer, que fui jogada para cima dele e caímos na cama.

Eu ri. Ele sorriu e segurou o meu queixo, pronto para me beijar.

- Você está melhor?

- Sempre fico quando estou com você.

Ele me beijou e não parou pelo resto da noite.



Paris, 1809

O Imperador separa-se de Rose Granger Weasley.

Casados desde 1796, cinco anos após a coroação, o casamento se desfez.



"Serei expulsa em desgraça da cama do homem que me coroou, mas Deus sabe que o amo mais do que à minha vida e muito mais do que ao trono". (Rose).


"Nenhuma mulher foi alguma vez amada com maior devoção, ardor e ternura". (Bonaparte).





Notas finais: 

Essa one foi baseada numa cena real (segundo a biógrafa Kate Willians) ocorrida entre Josefina e Napoleão Bonaparte. Um dia, Napoleão não desceu para o jantar, sua esposa quando foi procurar, encontrou-o no chão, contorcendo-se em dor estomacais. Ele chorava. Ela o abraçou. Ele disse que nunca poderia se separar dela. Se beijaram e foram para a cama. Naquele dia mais cedo, Napoleão havia concordado em pedir o divórcio. Isso lhe deixou tão mal, que o fez sentir dores físicas. Depois dessa cena, Napoleão desistiu de se divorciar, porém em 1809 acabou se divorciando e casando-se com a princesa austríaca Maria Luísa.


Essa cena sempre me abala, mas gosto dela porque mostra que em algum momento houve amor entre eles. O relacionamento deles foi cheio de traições (de ambas as partes), humilhações, dramas, lágrimas... Pura ogiva nuclear. Eles eram intensos.

As duas frases finais são realmente de Josefina e Napoleão. Para quem quer se apaixonar (e sofrer) por esse casal, leiam a biografia. Vocês não vão se arrepender.

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