Capítulo Único - (des)merecer

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Hellou pessoinhas, essa aqui é mais uma história de capítulo único que eu trago para minha conta mesmo tendo muito medo e vergonha. Eu realmente gosto de ler e escrever fanfics que tenham apenas um capítulo, espero que vocês também gostem dessa aqui.
Como quase sempre, eu escrevi ela pra uma amiga muito especial, num dia que ela precisava de um ânimo e mimo a mais.
Boa leitura, então, e até as notas finais!

***

Senti o celular vibrar por sobre a mesa do restaurante nem tão requisitado da noite. Ao lado dele os pratos de meus amigos jaziam quase vazios, uma vez que a refeição já havia sido ingerida há um tempo e o que restava para nos manter ali era a conversa paralela jogada fora entre o grupo razoavelmente grande de pessoas. Hesitei em olhar, pois eu apreciava o modo com que meus amigos riam do assunto que Seungmin havia colocado em pauta, mesmo que eu mais observasse àquela altura do que participasse realmente, não pareciam sóbrios ou atentos o bastante para perceberem. Olhei mais uma vez para a tela já apagada do celular e tentei adivinhar quem era que havia mandado a mensagem e sobre o que se tratava. Uma parte de minha mente temia que fosse meu namorado, pois havíamos discutido feio horas antes, o relacionamento já não parecia mais tão interessante.

Mas, terminar por mensagem seria muito rude, certo?

Enxuguei o dedo molhado, das gotas de água ao redor do copo que segurava, no guardanapo de Jisung, sentado ao meu lado, e peguei o celular, levantando-me para verificar aquilo educadamente em outro lugar. Murmurei um "com licença" antes de sair, mesmo que quase ninguém prestasse atenção, pois riam de alguma frase que saíra da boca de Jeongin enquanto lhe apertavam as bochechas elásticas. O único mais silencioso além de mim era Bang Chan, que apreciava seus amigos como se fossem realmente sua família, ao passo que não proferia nenhuma palavra. Olhou em minha direção, pois fora o único a perceber minha pronta saída, seus dedos rodeavam a boca do copo tediosamente. Sorri sem ânimo, preparando-me para uma provável noite desagradável. O peso em meu seio esquerdo me incomodou, parecia uma sensação de aviso prévio que eu tentava a todo custo esconder. Óbvio que um relacionamento como esse não daria muito certo. Eu já estava na faculdade, numa cidade diferente da de antes, onde ele ainda vivia. Mais velho que eu alguns anos, parecia não se importar tanto com o futuro, despreocupado como eu nunca conseguiria ser, metódica e ansiosa. Só nos víamos quando o trabalho dele permitia que seu trajeto tivesse um ponto de parada aqui, o que era basicamente uma ou duas vezes na semana, com sorte.

Eu deveria ter prestado atenção nos sinais, ele já falava com Viviane há um tempo. Por que eu tentei a todo o custo manter isso funcionando? Minha mente parecia uma parede de detetives americanos, onde cada evidência era circulada e ligada a outra, que era óbvia demais para ser ignorada. Toda a situação parecia um péssimo filme com um final óbvio, que eu deveria ter parado de assistir há muito tempo.

Sem ao menos perceber, eu já empurrava a porta do estabelecimento morno e encontrava uma rajada de vento noturna e fria. Minha jaqueta ficara no encosto da cadeira. Merda. A rua parecia inabitável, a não ser por algumas pessoas que fumavam e jogavam conversa fora no meio fio mal iluminado pelos postes. Até mesmo minha saia de couro parecia gelada e curta demais naquele momento. Andei um pouco para a esquerda, procurando um local na parede para me escorar sem precisar pisar na grama com meu salto fino. Meu estômago finalmente revirou, tremeu com um calafrio que eu não pude distinguir se fora de frio ou medo. Quer dizer, obviamente era uma mensagem dele, meus únicos amigos estavam me acompanhando nessa noite, não mandariam uma mensagem à toa bem ao meu lado. Não eram muitas as pessoas que possuíam meu número, e meu celular para negócios ficara em casa.

Não queria ter de lidar com um relacionamento falido. Nathan era o único cara com quem eu me relacionara em todos os meus vinte e quatro anos de vida. Confiamos um ao outro quase tudo que tinha "primeira vez" no contexto. Mesmo que não existissem mais os mesmos sentimentos de antes, era difícil precisar soltar algo que segurei com tanto afinco, muitas vezes desejei não ser tão dependente de atenção e carinho como eu era. Mas o medo da solidão e da insuficiência era letal e avassalador.

Ocean Eyes (Bang Chan OneShot)Onde histórias criam vida. Descubra agora