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                                                                                              ALICE

  Alice. Soava bem melhor que Mary Alice. Com o passar das décadas, foi assim que Mary Alice passou a se identificar: apenas como Alice. Atualmente estava na Filadélfia. O ar da Pensilvânia era tão mais fresco durante aquele tempo do ano, ou ao menos era assim que a moça via. Viver naquela região tem sido bastante diferente da última cidade em que Alice esteve. Ela não ficava sozinha nunca. Em suas visões ela podia ver claramente um casal de vampiros que a acolheria. Via eles constantemente, mas sabia que para que aquele evento acontecesse, ela precisava fazer o amor da sua vida se apaixonar por ela. Era uma grande responsabilidade nas costas, porém, ela também não estava na desvantagem.
  Desde sua transformação, Alice não fazia ideia de como estava sua irmã. Na verdade, não tinha muita noção da existência dela. A não ser quando ela recebeu um cartão postal de Cynthia, quando ainda passava uma temporada em Minnesota, pouco tempo antes de ir para a Filadélfia. Um homem estava sempre por perto de Alice quando ela saía de casa, ela podia sentir o seu cheiro de modo constante. Era provavelmente um investigador particular. E Alice, tendo noção de que ele não a faria nenhum mal, deixou que ele passasse despercebido. Ela fingiu não saber que ele esteve a perseguindo por tempos. Foi em uma noite de Outono que ele a abordou na rua, perguntando se ela se chamava Mary Alice.

  ― Mary Alice Brandon? ― o homem com aquele sobretudo preto lhe perguntou.

  Alice estava distraída pelas estrelas no céu, fingindo estar com frio devido ao clima daquela noite. Usava um sobretudo vermelho e um cachecol amarelo extravagante no pescoço. Seus cabelos agora estavam em um corte diferente, mais ou menos na altura da linha do maxilar e eram levemente ondulados. Desde que teve seu cabelo cortado no sanatório, na época do surto da febre tifóide, ela já não tinha mais vontade de manter seu cabelo longo. De qualquer forma, não é como se ela se lembrasse de viver com os estigmas e padrões impostos pelo seu maldito pai, ou de qualquer coisa do seu passado humano triste.

  ― Não. Apenas Alice. ― ela franziu a sobrancelha, o encarando com seus olhos pretos como a escuridão. ― Eu posso ajudar?

  ― Cynthia Brandon soa como um nome familiar para você? ― o homem perguntou.

  Era misterioso, o sangue quente dele estava em suas bochechas naquele momento, talvez por causa dos agasalhos que ele usava. Seus batimentos estavam normais, e se Alice focasse bem nas veias do pescoço dele, podia ver sua artéria carótida pulsar. Aquela é uma das maiores fontes de sangue, mas ela pensava em não cometer um crime pelo qual se arrependeria depois e manteve sua postura. Respeitando, também, sua dieta vegetariana.

  ― Não exatamente... por que? ― ela perguntou, apreensiva.

  O rapaz colocou a mão dentro de um bolso do seu sobretudo, pegando uma carta e entregando para Alice.

  ― Leia isto. Sua irmã pediu para que eu lhe entregasse. ― após dizer aquilo, o rapaz foi embora.

  Não deixou explicações, simplesmente partiu.

  ― Minha irmã? ― Alice perguntou em um tom de confusão.

  Ela abriu o envelope. Junto com a carta, havia uma ilustração de Venice, Califórnia. Alice sorriu de forma gentil. Caminhou até um banco que havia ali perto, se sentando de uma forma confortável. Finalmente, começou a ler a carta que a tal Cynthia pediu que entregassem. Quanto mistério.

"Querida Alice,

  Talvez você não se recorde de mim. Sou sua irmã mais nova, me chamo Cynthia e vivia em Biloxi, Mississippi. Desde que as notícias se espalharam aqui na cidade, eu, papai e Barbara nos mudamos. As pessoas diziam que nossa família era repleta de lunáticos. Pessoas rudes, fúteis. É difícil dizer se você também se lembra dos acontecidos no dia em que você partiu. Por eu ser muito nova, nunca entendi o sentido de tudo que se passava diante dos meus olhos. Mas agora compreendo, minha cara.
  Conforme cresci, pude perceber o quanto nossa família era problemática. Eu fugi durante uma noite, quando tinha apenas dezoito anos. Nunca mais voltei, não deixei rastros, nada. Decidi que daquela noite em diante, a minha vida seria diferente. Eu te procurei por anos, mas nunca lhe encontrei. Agora estou na Califórnia, onde tive a chance de conhecer um rapaz que se apaixonou perdidamente por mim. Ele é bom, é carinhoso e planeja ter filhos comigo. Gostaria que você estivesse aqui para ver de perto.
  Me perdoe por nunca poder entrar em contato com você, irmã. Não imagino o que você deva ter passado, não sei como você está nesse momento e gostaria de lhe dizer que estarei sempre com as portas da minha casa abertas. Você pode me encontrar em West Los Angeles. Por sorte, eu também pude conhecer este Detetive que me ajudou a investigar sobre seu paradeiro e acabou descobrindo que você viveu por um tempo em umas cidades entre Wisconsin e Iowa. Se estiver lendo isso, espero que possa me responder algum dia.

Epiphany ― Uma História de Jasper e Alice {Twilight}Onde histórias criam vida. Descubra agora