.8. Criança

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- Você não vem, John? - Jack indagou o amigo, que estava com os olhos fixados em vários papéis.

- Hã? Não. Eu preciso terminar de cuidar desses relatórios. Ser capitão não se resume só em lutar pelo bem, pelo visto, hehe... - Ele riu, o alien esverdeado acompanhando a risada.

- Se quiser, eu posso cuidar disso pra você e você pode ir ficar com Gary. - Desde que "A Sheryl" se foi, Jack pensou que poderia ter uma chance de chamar a atenção de John, mas esse parecia mais distante que nunca. Se enchia de trabalho para não ter que enfrentar seus próprios pensamentos.

- Melhor não, amigo. Isso é trabalho de capitão e tem que ter meu visto e tal... - Ele argumentou - Mas eu agradeceria se você ou Avocato fossem fazer companhia a Gary, não quero que ele fique sozinho...

- Ah, claro! Pode deixar. - Ele afirmou, ele apenas queria ser útil a ele.

Saindo de lá ele se dirigiu à rua para chamar um táxi. Jack não tinha carro, devido a sua incapacidade de dirigir por causa de sua altura.

- Quer carona? - Avocato sugeriu.

- Depende. Para onde você está indo? - O alien menor interrogou.

- Vou para casa de John. Ele pediu que ficasse com seu filho por essa noite.

- Ah, então ele pediu pra você também... - Ele resmungou, decepcionado de certa forma. - Então eu aceito. Estava indo pra lá, na verdade...

Ambos entram no carro. Eles ficaram em silêncio todo o trajeto. Avocato geralmente preferia não conversar à toa, mas vendo que o pequeno colega estava deprimido tentava puxar assunto, falhosamente...

Eles chegam à casa de John e Gary os recebe com abraços calorosos. Ele adorava a companhia dos mais velhos, sendo que não tinha muitos amigos de sua idade.

(...)

Já estava dando dez da noite. Hora em que crianças de 8 anos deveriam estar dormindo. Mas não Gary. Ele, junto a Avocato, estavam mais do que enérgicos, afinal, no dia seguinte não havia aula nem uma missão a realizar, então eles tinham todo tempo do mundo.

- Verdade ou desafio? - O pequenino perguntou.

- Desafio, obviamente. - Já fazia meia hora que jogavam esse jogo e Gary não havia convencido Avocato a escolher verdade. O que aquele felino escondia que não queria que ele soubesse?

- Hmm... - Ele resmungou, pensativo. - Eu te desafio a pegar todos os cookies do pote da estante mais altas pra mim!

- Você sabe que seu pai não permite você comer doces antes de dormir, Gary - Ele censurou.

- Então você escolhe verdade! - Gary afirmou vitorioso.

- Grrr, eu vou pegar os biscoitos - O ventrexiano resmungou.

Avocato foi até a estante e pegou o pote, entregando a Gary.

- Sua vez, verdade ou desafio? - Perguntou o homem gato.

- Desafio! - Respondeu a criança.

- Te desafio a retirar o controle de dentro do sofá!

- O capitão aceita o desafio! - Gary correu e pulou no sofá em busca do controle remoto perdido há semanas em meio as almofadas.

Jack estava sentado no outro sofá, apenas divagando em meio a resmungos. Até que Gary se aproximou dele, remexendo a almofada em que ele estava sentado, tirando-o de seus lamentos.

- O que você está fazendo? - Ele perguntou.

- Eu e Avocato estamos jogando Verdade ou Desafio e eu fui desafiado a encontrar o controle. - O menino respondeu.

- Verdade ou quê? - Ele indagou.

- É um jogo da Terra. - Avocato explicou - Você escolhe uma alternativa e age de acordo com sua escolha.

- Tipo um treinamento? - Jack se intrigou.

- Mais ou menos isso... - Avocato disse, meio estranhado - Se você escolhe verdade, deve responder uma pergunta com total sinceridade e se escolhe desafio deve atender a uma ordem. 

- Achei!! - Gary gritou, segurando triunfantemente o controle na mão.

- Parabéns. Devia ter te desafiado há isso mais tempo. - Avocato esfregou a cabeça do menor, fazendo o corar enquanto sorria, feliz por orgulhá-lo. - Quer jogar também, Jack?

- Não acho que me sentiria confortável com ter meus segredos expostos... Ou ter que acatar ordens. - Jack contornou.

- Ah, vamos! Por favor!! - O garoto fez uma cara de cãozinho pidão.

- Não sou vulnerável a esse truque, pequeno humano.

Dito isso, o jovenzinho desistiu, voltando ao jogo com Avocato. Jack apenas limitou-se a observá-los. Aquele garoto era cheio de bondade e ternura. Como ele poderia culpá-lo por tudo? "A Sheryl" era a culpada e onde estava agora? Ele não tinha obstáculos e ainda assim... Por que o que ele desejava estava tão longe de seu alcance?

(...)

Os mais velhos estavam botando Gary na cama. Enquanto Jack confortava o humano entre os lençóis, Avocato observava de perto uma lâmpada de lava, sentindo um imenso desejo de jogá-la no chão.

- Você pode contar uma história pra mim, Jack? - O pequeno pediu, bocejando.

- Eu não conheço nenhuma história. - Jack resmungou.

- Invente uma... - O garoto insistiu.

- Inventar? Uma história sobre o que? - Ele indagou.

- Uma história de amor. - O menino falou, surpreendendo os adultos. - Uma história de amor, com muita ação, é claro.

- E por que uma história de amor? Tem alguém na escola que você goste? - O alien esverdeado perguntou, agora curioso.

- Não! Eu não posso gostar de ninguém da escola. Eu já vou me casar com Avocato. - Ele disse, decidido.

- Ah, é? - Ele olhou para Avocato, desconfiado.

- Ele ultimamente vem dizendo isso, eu não sei por que! - Avocato se defendeu.

- Deve ser coisa de criança, quando crescer ele muda de ideia. Quem em sã consciência iria querer casar com você? - O menor de todos zombou o ventrexiano.

- Você não perde uma chance, baixinho. - Avocato o empurrou. Ele não bateria nele por suas provocações, o pequeno não sobreviveria.

- Eu vou me casar com você, Avocato. E você vai ser nosso padrinho, Jack! - O garotinho falou em meio a bocejos, até que, por si só, pegou no sono.

Os mais velhos aproveitaram a deixa e saíram do quarto.

- Ele é um garoto adorável, não é? - Jack comentou. - Se assemelha muito a John.

- É, sim...

Ele é um anjo..

Amor Juvenil (Garycato) [Cancelada]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora