Chapter One

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chapter one, sense memories

forgive me [...] — for ruining you with my love

the brothers karamazov, fyodor dostoyevsky


Uma vez sobre um palco, Baekhyun Lithgow descobriu a sensação de estar presente.

Para alguém que sentia como se estivesse desaparecendo, o nervosismo ao tocar para uma plateia era tão viciante quanto os cigarros Rothmans que ele fumava nas horas vagas. Ainda que seu instinto natural fosse repelir as pessoas e fugir do centro das atenções, quando acariciava as teclas de um piano para acompanhar outros artistas, mesmo na frente de uma multidão, Baekhyun só escutava seu próprio coração batendo sobre o som da música.

Aquilo, para ele, era como estar vivo. Tão autoconsciente que terminava cada canção com as mãos tremendo, suando frio. As luzes amareladas disfarçavam sua ansiedade como concentração, e aos olhos do público isso era interpretado como seriedade. Baekhyun fazia as pessoas acreditarem que ele precisava pensar para tocar uma música. E acompanhando outros artistas em suas performances em vez de tocar sozinho, ele também podia descansar à sombra deles, em segurança.

Estar ali era indubitavelmente incrível.

E naquela noite amarga de fevereiro, seu lugar ao piano estava reservado outra vez.

Baekhyun era casado com uma violinista renomada e, desde que havia se mudado para a Inglaterra, ele tocava ao lado dela em seus concertos, acompanhando as melodias que ela explorava através das cordas do violino. Durante anos, Baekhyun recusou todas as ofertas para tocar um recital e ter seu próprio espetáculo, tentando a todo custo evitar que aquelas luzes teatrais no palco do Wigmore Hall se voltassem para ele um dia.

Se Olivia não tivesse insistido tanto, ele nunca teria tomado a frente para sair das sombras.

Mas bem, ela insistiu. Por cada minuto miserável da sua vida, desde que se conheceram. Insistiu até que surgisse em Baekhyun uma faísca de coragem, e naquela noite de fim de inverno era finalmente sobre ele que as luzes se derramavam.

Uma música, Baekhyun havia prometido. Vou tocar só uma música sozinho.

E para a sua única chance, ele não poderia ter feito uma escolha pior.



Já era tarde da noite quando Baekhyun deixou o Wigmore Hall, o sobretudo escuro escondendo sua figura esguia e as mãos já ocupadas em tirar um cigarro do maço de Rothmans. Do lado de fora, o vento gelado de fevereiro era cruel como uma onda quebrando sobre as pedras na praia, e empurrava Baekhyun como se tentasse derrubá-lo, agitando seu cabelo dourado e fazendo estalar as lapelas do casaco aberto.

Com o cigarro entre os lábios, Baekhyun soprou a fumaça da primeira tragada para fora enquanto guardava o isqueiro no bolso e ergueu os olhos para o céu sem estrelas. Por maior que fosse a esperança dos ingleses em relação aos efeitos da guerra, ela não era suficientemente forte para fechar os buracos deixados para trás; haviam cinzas nos telhados que chuva nenhuma limpava e a fumaça nos céus estava lá há tanto tempo que já era parte da paisagem. E se não houvesse tudo isso, ainda haveria a angústia.

Mesmo para Baekhyun, que sempre viveu os extremos de ser realista demais ou sonhador demais, otimismo naquela situação era quase um problema. Ele via pessoas mais preocupadas em varrer para debaixo do tapete os efeitos da guerra do que pessoas pensando em como lidar com tudo o que ela havia arrancado do mundo. E era daí que vinha a angústia; as famílias felizes nas ruas da Inglaterra de 1954 escondiam perdas irreparáveis por trás dos seus sorrisos.

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⏰ Última atualização: Sep 29, 2020 ⏰

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