Chapter One

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"Feeling used but I'm still missing you..."

É, mais uma mudança. Sinceramente, eu não consigo mais fazer isso. Sei que é pelo bem da minha família e pelo trabalho dos meus pais, mais poxa? Que tipo que trabalho é esse que não se pode passar mais de 6 meses num lugar só que já te mandam pra outro? Já é a terceira mudança só esse ano.

Durante toda minha infância foi assim. Sempre pulando de cidade em cidade, país em país e nunca num mesmo lugar. Fazer amigos e me apegar as coisas sempre esteve fora de cogitação.

Agora, com minha irmã mais nova fazendo um tratamento médico contra um câncer as estadias nos lugares estão sendo maiores. Natasha não pode viajar muito, corre o risco de pegar alguma doença grave por conta da imunidade baixa.

— Miaaaa você tá acordada?

Sou surpreendida pela menor pulando em cima de mim em minha cama e me cutucando freneticamente, sua forma bem estranha de ver se estou dormindo.

— Agora que você me esmagou, com esse seu saco de ossos, acordei sim sua pentelha.

Dou um peteleco fraco em sua testa ouvindo a mesma rir e, com cuidado, a tirando de cima de mim e a colocando deitada ao meu lado no travesseiro.

— Mamãe tá terminando de por nossas malas no carro... O caminhão de mudança foi na frente, já que vai demorar pra conseguir despachar tudo pra nossa casa nova.

Solto um suspiro alto e grande ao perceber que, em breve, estaríamos em um avião embarcando para Los Angeles. Uma cidade completamente nova para mim, dessa vez.

— Tá se sentindo bem hoje?

— Os enjôos passaram, e agora eu tô menos mole. Até consegui tomar banho sozinha hoje!

Sorrio vendo sua felicidade ao ter uma uma conquista tão pequena para muitos, porém tão importante para ela. Anteontem Natasha havia terminado um dos ciclos da quimioterapia e estava meio mal. Um pouco fraca, enjoada e até vomitando. Segundo a médica dela, são efeitos colaterais normais do tratamento.

— Amélia, Natasha desçam logo! Já está quase na hora de irmos.

Mamãe nos chama e a pequena se levanta num pulo. É muito bom vê-la assim, com energia e toda sorridente. Ela, ao contrário de mim, adora essas mudanças. Segunda a mesma: "Todos nós precisamos conhecer novos ares." Bobagem na minha opinião.

— Vai logo pro banho antes que a mamãe suba aqui e te coloque de roupa no chuveiro.

Lhe mostro a língua vendo-a repetir o ato e, após ficar sozinha novamente, entro no banheiro. Com a porta ja fechada, me olho diante do grande espelho e suspiro mais uma vez me controlando pra não desabar em lágrimas. Eu definitivamente não queria estar indo embora de novo.

— Coragem Mia, você precisa ser forte pelos seus irmãos.

Digo olhando meu reflexo abatido no vidro. Depois de ter recebido a notícia de que iríamos embora novamente, perdi o chão. Sei que pode parecer drama, besteira ou até mesmo um mimimi, mas imagine, durante toda a sua infância ficar indo de um lado para o outro sem ao menos poder fazer amigos ou criar laços com pessoas? Era difícil pra mim, embora eu já esteja acostumada, cada vez que precisamos nos mudar, fico meio cabisbaixa, mas tento disfarçar. Não quero que meus pais pensem que estou sendo ingrata com eles. Respeito fundo e abandono a imagem entristecida a minha frente, adentrando o box  e ligando o chuveiro, ajustando a temperatura de modo que não fique nem muito quente nem muito fria.

Ainda debaixo da água morna, os questionamentos um tanto paranóicos já conhecidos por mim me vêem a cabeça: "Será que vou conseguir me adaptar de novo? Quanto tempo ficaremos lá? Será que a escola é legal?"

— Maria Amélia, eu não acredito que você ainda está nesse chuveiro!

Mais uma vez, conto com alguém para me despertar de meus pensamentos traumáticos. Desta vez, são os berros de minha mãe que me trazem de volta a realidade.

— Calma mãe, já estou saindo!

— Te dou 2 minutos para sair daí, estar pronta pra tomarmos café e irmos pro aeroporto, rápido!

Nem precisei responder pois notei estar sozinha novamente assim que escutei o barulho da porta se fechando com brutalidade. Sem ter muita escolha, encerro meu banho e enrolada na toalha caminho pra fora do banheiro. Não querendo pagar para ver o que minha mãe fará caso eu ultrapasse os dois minutos, me arrumo rapidamente com a roupa já separada e desço para tomar o café da manhã.

Já no andar de baixo, deixo um selar no rosto de meus pais e despenteio as madeixas do caçula apenas pra ver seu semblante irritado. Léo fica fofo quando está bravo, e fora que é um bônus ver seu rostinho enraivecido e vermelho logo cedo.

— Bom dia bela adormecida.

Meu pai diz com um olhar provocador de quem tenta me tirar a paciência logo cedo. Ele sabe que odeio ser chamada de bela adormecida.

— Bom dia Coroa.

Não deixo por menos e devolvo sua provocação com o mesmo olhar, vendo seu revirar de olhos. Ele também odeia ser chamado de coroa.

Sento ao lado de meu irmãos, como de costume, começamos a tomar café. Diferente de todas as outras vezes em que comemos juntos, essa está silenciosa. Como se todos estivessem com medo de dizer algo de errado. A famosa atmosfera de enterro.

Por já estar em cima da hora, e pelo clima pesado, nosso momento em família ao redor da mesa foi ligeiramente curto. Os menores terminaram de comer primeiro e foram em seus antigos quartos verificar se deixaram algo pra trás. Papai foi o terceiro a deixar o local, com a desculpa de ter que checar as passagens e alguns documentos do trabalho. Restaram apenas eu e mamãe na mesa.

— Está nervosa?

Ela questiona ao me ver tamborilando os dedos sobre a mesa enquanto meu olhar viajava pelos arredores de nossa cozinha. Ela sabe que quando me distraio fácil e porque estou nervosa.

— Ahm? Ah não mãe, tranquilo.

Tento sorrir para transpassar a ela que estou bem mesmo e que não precisa se preocupar, porém a mesma ri fraco e aperta meu nariz.

— Você é uma péssima mentirosa, querida.

Rio também de minha própria tentativa falha de acalma-lá e juntas nós nos levantamos da mesa retirando todos os descartáveis utilizados, já que nossas louças já estão a caminho de Los Angeles.

Depois de verificar mais uma vez se não esqueci nada em meu antigo quarto, desço até a entrada da casa aonde todos já me esperavam. Cada um com sua mala de mão e seus objetos de distração. Léo e seus mini soldadinhos, Natasha com seus livros, eu meu celular com os fones de ouvido e papai e mamãe com suas papeladas de trabalho.

— Já podemos ir?

É Léo quem pergunta, impaciente como só ele consegue ser. Com um sorriso e um pequeno afago em sua cabeça, minha mãe acena positivamente.

Alguns suspiros e despedidas silenciosas depois e nós já estávamos a caminho do aeroporto internacional de Berlin.

Daqui a 14 horas, nossas vidas mudariam completamente.

De novo.

I Hate U, I Love U.Onde histórias criam vida. Descubra agora