único

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Harry jogou a pedra na árvore, tentando não pensar. Tentando não sentir.

Era uma coisa engraçada, sentimentos.

Durante a maior parte da vida de Harry, os sentimentos o guiaram. A fonte de amor que ele tinha por sua família e amigos o fez se perseverar quando o sucesso era impossível, seu ódio extremo por aqueles que eram imorais, deu-lhe forças para enfrentar os desafios, sua inegável lealdade ao que era certo tornava sua fama. Sem seus sentimentos, ele não teria chegado tão longe. Uma mente preocupada com a mera racionalidade, escolheria sua própria segurança antes de qualquer outra pessoa.

Era um fato incontestável que ele abraçava suas emoções, que se sentia confortável perto delas.

Então, por que seu coração gritava em agonia, querendo atenção? Que tipo de tristeza dentro dele, ele não conseguia reconhecer?

Não podia ser não ir ao baile. Ele odiava ser o centro das atenções, e, no fim das contas, ele era, aonde quer que fosse.

Não podia ir sem ter companheiro. Era verdade que ele queria estar com uma certa pessoa, mas sua timidez o deixava feliz por eles não conversarem. Acima de tudo, ele estava aliviado.

Não podia ser nada recente ou superficial, pois a dor atingiu profundamente sua alma, dando-lhe a certeza de sua profundidade.

Então, o que era? Depois de passar a vida inteira certificando-se de que todos fossem cuidados, de quem ele sentiu falta?

"Harry," Luna sussurrou, tirando-o de sua mente.

Ele saltou, assustado, engolindo em seco ao perceber quem era. Certamente era ela.

Ela era linda, mas isso não era novo. Seu cabelo loiro, quase branco, refletia contra o sol poente e o lembrava de sua suavidade. Seu vestido estava impecável, tão incrivelmente colorido e totalmente coerente com sua personalidade. Sua confiança era objeto de inveja. Ela não tinha dúvidas sobre quem ela era, e Harry não tinha dúvidas sobre quem ele queria que ela fosse.

Mas, claro, ele não diria a ela, não teria coragem para fazê-lo.

"Luna," ele sussurrou de volta, tentando não tirá-la de sua bolha. "O que você está fazendo aqui?"

Embora fossem próximos de Hogwarts, Harry odiava vê-la exposta ao perigo.

"Evitando a solidão" afirmou ela, como se ele devesse saber o que isso significava.

Harry suspirou. - Bem, parece que estou procurando por isso. -

Ela piscou duas vezes. "Isso significa que você quer que eu vá embora?" ela disse como se isso não fosse ofensivo. Como se ela não se importasse.

"Claro que não", ele respondeu rapidamente. "Você é sempre uma exceção."

Ele evitou os olhos dela antes que pudesse ver se ela sorria, o que ela fazia.

"Posso me sentar com você?"

Harry se aproximou da borda do tronco. "Por favor."

"A floresta está triste esta noite", disse ela, uma vez sentada. "Está frio. Eu posso sentir isso."

Harry olhou para os pés descalços dela no chão. "Acho que tudo fica frio quando você não está de sapatos", brincou. "Eles pegaram seus tênis de novo?"

Ela o encarou um pouco. "Não."

Ele achou que era melhor não perguntar mais. Mas ele queria falar com ela, então perguntou. "Por que você não está no baile?"

"Eu já disse, não quero ficar sozinho."

"Você não acha que as pessoas lá seriam o suficiente para lhe fazer companhia?"

"Eles fazem companhia a quem pensam que eu sou", explicou ela, e um toque de tristeza transpareceu em seu tom. "Eles não gostam de me conhecer. Eles falam com Luna, mas não comigo." Então, ela olhou para ele novamente. "Isso faz sentido?"

Que estranho. Luna nunca perguntou se ela ou algo que falou fazia sentido.

Harry pensou nas inúmeras multidões querendo falar com o menino que sobreviveu "Completamente."

"Provavelmente só serve para nós dois", disse ela, então deu uma risadinha.

"Sim. E é por isso que está certo." Ele sorriu junto.

Alguns momentos em silêncio se passaram, até que ela o quebrou. "Você nunca está sozinho."

"Desculpe, não entendi?"

"Você disse que estava procurando solidão, e eu achei engraçado. Você nunca está sozinho."

Harry ponderou. Era verdade. Devido ao seu papel, ele sempre estava rodeado de pessoas querendo algo dele.

Ainda assim, estranhamente... "Eu nunca sinto nada além da solidão", ele respondeu, e se chocou. Ele teve essa percepção naquele momento, mas era tão óbvio. Tão forte.

"Tenho certeza", respondeu ela, ressoando com suas palavras. "Não consigo imaginar o peso que você carrega nos ombros."

Como um reflexo, ele os ergueu. "Eu também não. Não consigo pensar nisso, senão explodiria."

Luna tocou seu ombro e ele congelou. Ele quase sentiu a pele dela em cima de sua camisa.

Ela começou a confortá-lo, passando a mão em suas costas, em toques suaves. Harry teve uma vontade imprevista de chorar.

Ninguém nunca o confortou.

"Eu sinto muito pelo que aconteceu com você, Harry", ela sussurrou novamente. "Sobre tudo."

Ele a olhou bem nos olhos, encontrando em seu gesto coragem para admitir. "Eu queria levar você ao baile."

Seus toques pararam.

Por um segundo, Harry se arrependeu de dizer isso. Até que ela respondeu.

"Por que você não disse?"

Ele engoliu em seco. "Eu estava com medo de que você me rejeitasse."

Ela negou com a cabeça. "Eu queria que você me perguntasse."

O coração de Harry parou no lugar. Ele moveu os pés e as mãos, tentando encontrar algo para dizer.

Ele olhou de volta para Hogwarts. O baile estava apenas começando.

"Ainda há tempo", sugeriu.

Ela também olhou para o castelo. "Eu não acho que nos ajusta muito."

Um canto de sua boca se ergueu. "Você provavelmente está certa."

"Além disso," pela primeira vez na vida, Harry viu Luna ficar tímida, "Eu não aguentaria ficar perto de todas as outras garotas enquanto estivesse ao seu lado."

Harry olhou para ela, digerindo sua confissão. Luna era insegura perto dele?

Ele desprezou o pensamento, usando cada fibra de seu ser para responder. "Não há outras garotas."

Aproveitando a proximidade deles, ele decidiu não pensar. Ele a beijou.

Foi um beijo infantil. Leve, simples, rápido. Mas os lábios dela eram quentes e as pernas dele desistiram no meio do caminho. Ele agradeceu a Deus por estar sentado.

Apesar de seus protestos, eles tiveram que ser separados. Mas ele se recusou a distanciar seus rostos mais do que o necessário. Ele ainda podia sentir seu hálito mentolado em sua boca.

"Sinto muito", ele começou. "Eu beijei você sem saber se você iria querer."

Seus olhos brilharam de surpresa. "Todo mundo sabe que eu iria querer."

Harry quase engasgou. "O que você quer dizer?"

"Eu gosto de você desde que te vi, Harry." Ela colocou as mãos em cima de seus ombros, em seguida, olhou para o brilho esmeralda de seus olhos. "Você foi meu primeiro amor."

Fugir da Solidão (Lunarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora