1 | Welcome to the Circus

76 11 4
                                    


Boa leitura!

...

Não consigo me lembrar da última vez que pude dormir por horas seguidas sem pensar nas responsabilidades do dia seguinte.

Faltavam apenas duas horas para que todos em casa pudessem acordar. Para mim, era a segunda ou terceira vez que despertava de mais um sono em que me encontrava em um escritório qualquer e incontáveis papéis ocupavam a mesa. Eram números espalhados nas folhas, assinaturas marcadas de maneira aleatória, pessoas entrando e saindo com mais e mais.

Comecei a me sentir tão sufocado que acabei acordando, mas já não era uma novidade nenhum ter esse tipo de sono.

Faltavam poucos meses para que os 18 anos finalmente chegassem e, por isso, encontrava-se em um estado deplorável. Não seria apenas mais um aniversário e um bolo para comemorar, ou algum baile cheio de pessoas desconhecidas que poderiam me ajudar futuramente.

Seguindo os ensinamentos de meu pai, deveria começar a fazer "amizades" com aqueles vestidos em ternos e, assim, aproveitar para conhecer aquela que assinaria um contrato social para ser chamada de minha esposa e, consequentemente, trazer o direito de ter uma das posses em meu nome.

Era assim que funcionava a vida que eles chamavam de "ser adulto".

Desde os meus 7 anos, observo cada detalhe dessa vida que seria da minha, em breve. Assistia minha mãe correndo pela casa, com duas das moças que trabalhavam ali segurando um de seus vestidos e a outra os seus sapatos. Olhava minha irmã, no mesmo corredor de meu quarto, trocando a roupa de suas bonecas e colocando-as numa das casas de madeira que havia ganhado.

Ah, também achava um dos meus brinquedos embaixo de sua cama para a mãe não descobrir.

Eles não gostavam de saber que o brinquedo de um estava no quarto do outro. Não era correto brincar com aquilo que não fosse para a pessoa certa.

Era apenas uma criança. Então, assentia com a cabeça quando falavam isso ou mentia, dizendo que eu estava lá e havia esquecido para que não culpassem a minha irmã, Jihye.

E, por fim, não precisava ver meu pai pela casa, porque ele sempre estaria em seu escritório antigo, no andar de baixo, com os contratos, cheques e papeis acumulados em um canto, enquanto ele se estressava em sua mesa com tudo aquilo que seria meu.

Ainda que houvesse seus pontos negativos, eu não poderia fazer nada para mudar. Era algo traçado e escrito nas estrelas.

Ao mudar de cidade, percebi que muita coisa também mudou entre nós. A pressão de nossa mãe para que sempre estivéssemos bem arrumados era o que me impedia de usar roupas mais confortáveis durante o dia. Então, aproveitava as horas que acordava na madrugada para sentir a pequena liberdade. Jihye também sofria com isso, pois minha mãe queria logo que ela encontrasse um bom rapaz para se casar e ter os netos que tanto almeja.

Não podíamos fazer nada, além de aceitar e nos comportar do jeito nobre que deveria ser. Apesar de tudo, parecia bom se sentir bem visto pelos outros. É, talvez fosse o certo a se fazer.

O silêncio ainda permanecia na casa. Corredores enormes e vazios, assim como lá fora. A lua encontrava-se numa bela posição e o brilho continuava mais forte do que nunca. Sabia que, depois daquele sono instável, apenas observá-la dando adeus pela aquela vez seria capaz de me tranquilizar, esperando os riscos de sol aparecerem.

Todos estavam dormindo e a escuridão ainda permanecia ali, mas nada me impediu de descer calmamente pelas escadas, enquanto segurava algumas mechas do cabelo, já que estava caindo no rosto pelo seu novo tamanho.

CIRCUS - pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora